Bolsa fecha em queda, seguindo NY, à espera das decisões sobre juros na Super Quarta

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São Paulo – A Bolsa encerrou negativa, acompanhando a baixa dos índices de ações norte-americanos, após operar entre altas e baixas no pregão de véspera das decisões dos bancos centrais sobre a política monetária a serem anunciadas na Super Quarta (20). O mercado também acompanhou as oscilações no petróleo, que fechou em leve queda no mercado futuro após operar em alta na maior parte da sessão.

Nesta terça-feira, o Banco Central também divulgou a ‘prévia do Produto Interno Bruto (PIB)’, o Indice de Atividade Econômica (IBC-Br), que subiu 0,44% em julho, em base mensal, e 0,66% na comparação com o mesmo mês de 2022. O Termômetro CMA apostava em alta de 0,60% em julho ante junho. Já na comparação com junho de 2022, o aumento esperado era de 0,70%. O indicador caiu 0,97% no trimestre na comparação com o trimestre anterior. Na base anual, subiu 3,21%. Em 12 meses, o IBC-BR tem alta de 3,12%.

O principal índice da B3 caiu 0,37%, aos 117.845,78 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,65%, aos 118.775 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,2 bilhões.

As maiores baixas foram registradas por Pão de Açúcar (PCAR3; -6,89%), Lojas Renner (LREN3 -5,37%), Totvs (TOTS3; -4,91%), Gol (GOLL4; -4,47%) e Yduqs (YDUQ3; – 4,14%). Os destaques de alta foram Marfrig (MRFG3; +4,06%); Via (VIIA3; +2,73%), Hapvida (HAPV3; +1,80%), Suzano (SUZB3, +1,40%) e Copel (CPLE6, +1,35%).

Papéis de peso no Ibovespa impulsionaram o índice: Vale (VALE3, +0,18%) Petrobras (PETR4, +0,23%), Ambev (ABEV3, +0,29%), Weg (WEG3, +0,53%) e Equatorial (EQTL3, +0,30%), além de Suzano e Hapvida. Já outros ativos com participação relevante no índice caíram: Localiza (RENT3, -0,10%), Itaúsa (ITSA, -0,53%), B3 (B3SA3, -1,37%) e demais ações do setor financeiro.

Com o movimento da cotação petróleo, os papéis da Prio (PRIO3) subiram 0,74%, PetroRecôncavo (RECV3) e Petrobras ON (PETR3) em baixas de 0,53% e 0,18% e 3R Petroleum (RRRP3) estável.

O papel da Usiminas (USIM5) recuou 0,73%, após a Justiça determinar o bloqueio de mais de R$ 346 milhões da empresa, em Ipatinga, na Região do Vale do Aço, em Minas Gerais, por reparação por dano moral coletivo em razão da emissão de poluentes em desacordo com os padrões especificados pela legislação ambiental, causando poluição atmosférica.

Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed, comenta que houve grande diluição dos acionistas minoritários após a oferta da Via e que a empresa está com sérios problema operacionais e vem apresentando sucessivos balanços com prejuízos. Já entre as maiores quedas, Pão de Açúcar, Totvs, e Gol são ativos sensíveis ao comportamento da curva de juros, sendo que a varejista e a aérea são ativos relacionados ao consumo interno e Totvs é uma tech, que historicamente negocia a múltiplos altos. “Com o a alta dos DIs por praticamente todos os vértices da curva, essas ações acabaram sendo penalizadas”, explica. “A Gol também sofre com as altas recentes do petróleo, e Pão de Açúcar cai como reflexo do relatório do Bank of America, que sugere venda para o papel, com preço alvo de R$ 15 para R$ 3,50.”

O sócio da Quantzed comenta que os juros americanos também estão nas máximas do ano, apesar das apostas do mercado para a decisão de amanhã (20), de que o Fed mantenha inalterada a taxa de juros. “O mercado está achando que, em breve, o Fed vai ter que subir juros, principalmente, por conta de riscos inflacionados, dada a alta recente do petróleo e dados de atividade em nível elevados, gerando emprego e renda e, portanto, maior demanda por produtos e serviços. A recente alta do petróleo, com os indicadores de atividade e emprego ainda fortes, gera preocupação para a autoridade monetária americana, que tem como mandato o controle da inflação, mas também, a meta de manter níveis saudáveis de emprego”, avalia.

Para Vinicius Steniski, analista de ações do TC, o IBC-Br divulgado pela manhã veio melhor que o esperado, mas ele avalia que o mercado não deu muita bola para o indicador. Ele comenta que as taxas de juro mais longas, para 2030, 2032, sobem desde o início da manhã, chegando a 0,70%, o que reflete em alguns ativos. “Entre as piores quedas, estão empresas dependentes da taxa de juros, como varejo interno, turismo e educação, o que chama atenção dos investidores, assim como o petróleo, que apresenta um movimento bastante peculiar nesta terça-feira, agora já perto do zero a zero, mas no campo negativo, após abrir em alta de quase 2%”, explica.

Entre as ações, a alta da Via reflete um movimento técnico de recuperação, após cair bastante nos últimos dias, refletindo insatisfação com o montante captado em oferta subsequente (follow-on) anunciada recentemente pela varejista – que a partir de amanhã (20) passarão a ser negociadas na Bolsa B3 sob o novo nome CASAS BAHIA e código (ticker) BHIA3. As ações da varejista operaram em forte alta ao longo do pregão desta terça-feira, subindo mais de 4%, após acumularem uma queda superior a 33% nas últimas quatro sessões.

As ações da empresa afundaram na B3 após a oferta sair com um forte desconto em relação ao preço de tela, preocupando os investidores em relação à capacidade da empresa de reduzir suas dívidas. O grupo vendeu novas ações a R$ 0,80 na quarta-feira passada (13), um desconto de 28% em relação ao preço de fechamento de quarta-feira, levantando cerca de R$ 623 milhões, aquém do R$ 1 bilhão esperado. Com isso, os ativos passaram a derreter na Bolsa nos últimos dias, fechando a última quinta-feira (14) em cotação abaixo de R$ 1,00.

Em relação aos principais eventos do mercado financeiro na semana, as decisões de política monetária dos bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil, o analista do TC acredita que, no primeiro, a taxa de juros será mantida, enquanto no Brasil haverá um corte de 50 pontos base, em consonância com a maioria das previsões de mercado.

“Ao analisarmos a inflação nos Estados Unidos, notamos que os componentes mais voláteis, como os preços da energia, foram os principais responsáveis pelo aumento na última divulgação. No entanto, o Federal Open Market Committee (Fomc) foca mais no núcleo da inflação, que exclui esses itens voláteis e está em uma trajetória de queda, apesar de um leve aumento no último mês em relação às expectativas. Com base nisso, é possível argumentar que a tendência de queda da inflação pode continuar, o que justificaria a decisão de manter as taxas de juros no momento e aguardar desenvolvimentos futuros. É importante destacar que o aumento recente nos preços do petróleo pode exercer pressão sobre o comitê na reunião de novembro”, explica Steniski.

“No Brasil, observamos uma elevação na inflação, embora tenha sido menor do que o previsto pelo mercado. Esse aumento está relacionado à base de comparação em relação ao ano anterior, quando houve uma redução nos impostos sobre os combustíveis e uma deflação nesse período. Agora, com a reintrodução dos impostos e a inflação em alguns setores específicos, vimos um aumento nos índices de preços. Apesar desse aumento, que já era esperado pelo mercado, a expectativa é que a inflação continue em direção à meta estabelecida, o que favorece a decisão de reduzir as taxas de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje e amanhã, o que também é consenso no mercado”, conclui.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, comenta que a alta mensal de 0,44% veio um pouco acima do esperado, mas, em base anualizada, começa a mostrar uma tendência de desaceleração, o que reforça a expectativa de cortes de juros pelo Copom nas próximas reuniões, na sua avaliação. “Ao olhar os três setores que compõem o IBC-Br, já podemos falar que temos um desempenho mais misto da economia. Por um lado, serviços veio um pouco melhor em julho, liderando a recuperação, comércio também melhorou, mas caiu bem em vendas de automóveis por conta do fim da política de estímulos, e por outro lado, a indústria voltou a cair e pior do que o esperado.”

A economista observa um desempenho misto da economia e que, mesmo com algumas revisões que foram feitas, elas não mudam nem a tendência dos primeiros trimestres, nem a esperada para os próximos meses, de desaceleração no segundo semestre. “A tendência daqui para frente de é uma economia não recessiva, mas num processo claro de desaceleração, refletida pela piora na base anualizada, e ao abservar os indicdores do terceiro trimestre como os números de confiança, os indicadores de antecedentes. Nem um deles é óbvio em relação à desaceleração, mas também nenhum deles está muito forte, está um pouco misto.”

A B.Side prevê um corte de 0,50 ponto percentual na reunião de amanhã (20), assim como foi sinalizado pelo Banco Central, e não espera um comunicado com informações adicionais em relação aos anteriores.

Já em relação à reunião do banco central norte-americano, Veronese espera manutenção dos juros em setembro, apesar da inflação um pouco mais pressionada. Para reunião de novembro, a B.Side ainda enxerga a decisão em aberto, mas avalia que os últimos dados de mercado de trabalho e do PIB americano que foi revisado para baixo a fazem apostar que o ciclo tenha de fato chegado ao fim. “Assim, esperamos que o Fed mantenha a sinalização de que os próximos passos vão depender dos dados. Se os indicadores continuarem vindo nessa toada, de mercado de trabalho mais equilibrado, salários crescendo menos, taxa de desemprego subindo mesmo com atividade aquecida não tem porque continuar subindo juros. Mas se houver alguma reviravolta, aí aumentam as chances de uma nova alta na reunião de novembro”, conclui a economista.

Dólar fecha em alta, à espera do Fed

O dólar comercial fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 4,8730. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a expectativa com a reunião com a Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que começou hoje, e amanhã irá anunciar uma eventual mudança nas taxas de juros estadunidenses.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a tensão que antecede Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Copom pressiona as taxas de juros futuro nos Estados Unidos, movimento que, hoje, ganha força, com a valorização global do petróleo.

Weigt entende que amanhã o Fed deve anunciar a manutenção das taxas, mas que o comunicado deve apresentar um tom mais duro, mas pondera: “Se o discurso não for tão forte, pode melhorar o movimento por aqui”.

Weigt ainda pontua que nesta terça o real está performando pior que seus pares emergentes ligados às commodities, como o rand sul-africano e o peso mexicano.

Taxas fecham em alta, refletindo receio de Fed mais hawkish amanhã

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham majoritariamente em alta, impactadas pela forte atividade econômica mostrada pelos dados do IBC-Br, que vieram acima do esperado. As taxas refletem, ainda, o clima de cautela entre os agentes financeiros enquanto aguardam as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco da Inglaterra (BoE).

Por volta das 15h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,270% de 12,280 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,495% de 10,455%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,195%, de 10,110%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,440 % de 10,365% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,8725 para a venda.

EUA: Ações fecham em queda com espera por decisão do Fed

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram o dia em baixa, enquanto Wall Street aguarda a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de amanhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos:

Dow Jones: -0,31%, 34.517,73 pontos
Nasdaq Composto: -0,23%, 13.678,20 pontos
S&P 500: -0,21%, 4.443,95 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Julio Viana / Agência CMA.

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