São Paulo- No primeiro pregão de agosto, a Bolsa fechou em uma queda tímida frente às bolsas internacionais, em dia de forte aversão ao risco global, com escalada do dólar e pressão das commodities e um temor de recessão da economia americana.
As ações da Petrobras (PETR4) caíram 1,52% as da Vale (VALE3) perderam 2,23%. Itaú Unibanco (ITUB4) recuou 1,35%.
O principal índice da B3 recuou 0,20%, aos 127.395,10 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto caiu 0,30%, aos 127.695 pontos. O giro financeiro foi R$ 23,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que o primeiro pregão de agosto, o Ibovespa fechou em queda “refletindo o aumento da percepção de risco em Nova York, onde o índice que busca aferir a volatilidade, o VIX, conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, saltou 14% e atingiu o maior nível desde abril. Uma sequência de dados hoje elevou temores de que a economia dos Estados Unidos entre em recessão, ainda que fortaleça o argumento por corte de juros”.
Nishimura disse que “em contexto de maior aversão a risco, o ouro, um típico ativo defensivo, fechou em alta, com o reforço da demanda por proteção ante os conflitos geopolíticos no Oriente Médio e as preocupações com o crescimento global”.
Já no cenário corporativo, o Bank of America (BofA) avalia que a Ambev (ABEV3) teve um balanço do segundo trimestre de 2024 bom, com o Ebitda de R$ 5,8 bilhões acima da previsão do banco em 3,3%. Para os analistas do banco, o resultado do Brasil neutralizou o internacional mais fraco. A ação subiu 1,38%.
Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, disse que “um dia após a manutenção da taxa básica de juros, o Ibovespa ameaçou engatar e rumar para os 130 mil pontos, mas acabou devolvendo um pouco com a pressão de ações de peso no índicie”.
Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos, disse que o mercado está refletindo a decisão de vários bancos centrais ao redor do mundo, teve uma desaceleração na Bolsa, mas segue no positivo.
“Ontem o Fed confirmou a expectativa do mercado, com isso é comum se vermos uma leve correção hoje, realização. Ontem antes da decisão, a chance de corte [de juros] era quase de 100% em setembro [FedWatch], se o Powell não tivesse deixado aberta a possibilidade de corte no próximo mês, poderia ter uma reprecificação da bolsa por lá. O BoE cortou juros hoje e o BCE [em junho] mas todos mantiveram em campo restritivo, isso traz incertezas para os mercados emergentes, disse o comunicado do Copom ontem. Entendo improvável que haja aumento da Selic este ano, como alguns economistas chegaram a prever. O cenário só mudaria se o dólar disparar. Hoje, a queda da Vale e Petrobras segura a Bolsa, somado a piora lá fora e alta do dólar”.
Em relação à Vale (VALE3), a ação está “há muito tempo pesada. O setor imobiliário chinês está muito fraco e a demanda por minério de ferro diminuindo”.
O dólar comercial fechou a R$ 5,7349 para venda, com valorização de 1,43%. Às 17h10min, o dólar futuro para setembro tinha alta de 1,4% a R$ 5.754,000. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, tinha alta de 0,29% a 104,40 pontos.
A disparada da moeda americana foi determinada pela valorização do iene e saída de capital de outras moedas, como o real. Incertezas fiscais, tom duro do Copom, visto por alguns analistas, e queda das commodities, puxaram a moeda norte-americana.
“A escalada do dólar foi intensificada dado os conflitos geopolíticos no Oriente Médio, desconfiança da relação entre Estados Unidos e China; o ouro subiu, alta dos ativos de risco soberano, o que acaba prejudicando as moedas dos países emergentes”, explica Ariane Benedito, economista e especialista em mercados de capitais.
Ela apontou como questão importante o fato dos comunicados dos BCs terem colocado o arrefecimento da atividade, que está derrubando os preços das commodities. “Estamos vendo muita interferência do banco central japonês dentro do mercado cambial para a valorização da sua moeda. Várias moedas perdem valor frente ao dólar dada essa procura pelos ativos de risco soberano, ou seja, uma saída do fluxo dos ativos de demanda para os ativos de risco”, completa.
A questão do iene, segundo Benedito, bateu nas bolsas americanas, da Europa e do mundo todo e tem impacto sobre os ativos de risco. “Aqui teve muito stop nas posições de venda, dado a quantidade de posições compradas no dólar e acaba fazendo com que o dólar suba frente ao real”.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos, disse que a alta do dólar frente ao real é atribuída a ata dura do Copom.
“O tom da ata acabou gerando desconforto aqui. A mensagem passada foi que a Selic em 10,5% não é mais possível e o cenário está aberto para uma alta na reunião de novembro. Não se vê corte de juros no curto prazo”.
Na visão de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a depreciação do real reflete a valorização do iene. “Os operadores falam de um efeito da valorização do iene, com agentes levando recursos da maioria das moedas para lá. Quando passa dos R$ 5,70, estoura o ‘stop loss’ em algumas posições. A operação de stop loss consiste em desfazer investimentos quando a moeda atinge um certo patamar de desvalorização”.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, disse se vê desmonte de posição e o fiscal doméstico pesa. “Estamos presenciando o desmonte de posições no Iene (devido política monetária do Japão) e a saída de divisas do Brasil. Além disso, na área fiscal, existe ainda uma incógnita, e os esforços anunciados ainda são insuficientes, pois o Governo precisa se posicionar de maneira mais austera e focar no centro da meta. Um outro fator que pesa está relacionado às commodities em queda, que contribuem para o disparo da moeda americana, devido ao Brasil ser um dos maiores exportadores do mundo”.
Ontem, o BC manteve a Selic em 10,50%. O balanço de riscos incorporou desancoragem das expectativas de inflação por um período prolongado e teve novo risco altista relacionado a taxa de câmbio mais depreciada. Assim, diante de um cenário global incerto e uma conjuntura doméstica de resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o entendimento do Copom é que são necessários na condução da política monetária um acompanhamento diligente e ainda maior cautela.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham operando majoritariamente em queda, com vértices mais longos subindo pressionadas pelo dólar – já que o cenário pode implicar em pressão inflacionária, impelindo o Banco Central (BC) a mexer na Selic a futuro.
Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,680% de 10,721% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,550%, de 11,645%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,800%, de 11,855%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,940% de 11,955% na mesma comparação.
Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em forte queda, com dados econômicos fracos e outro forte baque no setor de tecnologia, provocando perdas em todos os três principais índices, um dia após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizar uma provável redução da taxa de juros em setembro.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,21%, 40.347,38 pontos
Nasdaq 100: -2,30%, 17.194,15 pontos
S&P 500: -1,3%, 5.466,68 pontos
Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News