Bolsa fecha estável, não acompanha otimismo externo; dólar encerra a R$ 5,45

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São Paulo -Em um pregão de bastante oscilação, a Bolsa fechou estável, não conseguiu ir no embalo de Nova York em dia de alta na curva de juros, dado forte do mercado de trabalho dos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) e com os investidores cautelosos com o conflito no Oriente Médio. A queda da Vale (VALE3) e a instabilidade da Petrobras (PETR3 e PETR4) contribuíram para uma sessão mais instável. Na semana, caiu 0,70%.

A Vale (VALE3) caiu 0,73%. As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) subiram 0,04% e as preferenciais (PETR4) recuaram 0,26%.

A Localiza (RENT3) avançou 3,45% com a notícia de que a agência de classificação de risco Moody’s elevou o rating de Ba2 de Ba1, alterando a perspectiva positiva para estável.

A Embraer (EMBR3) subiu 1,68% “com estimativas positivas de um mercado internacional aquecido, especialmente após a divulgação de dados de emprego nos EUA que superaram as expectativas. Além disso, a empresa tem um cenário operacional favorável, que deve levar a uma melhoria em sua rentabilidade”, Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

As ações da Vamos (VAMO3) caíram 2,25% pelo quarto dia seguido. “A empresa já viu uma perda significativa de quase R$ 1 bilhão em valor de mercado nesta semana, retornando ao menor nível desde seu IPO em 2021. O mercado demonstra cautela em relação à reestruturação em curso da empresa, que envolve a separação dos negócios de locação e concessionárias”, disse Iarussi.

O principal índice da B3 subiu 0,09%, aos 131.791,55 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 0,14%, aos 132.130 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

O especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, disse que a Bolsa opera com estabilidade influenciada por fatores externos e internos.

“O dado do payroll superando as expectativas reforçou a visão de que o Federal Reserve (Fed) será menos agressivo nos cortes de juros, e reduz o temor de recessão nos EUA. Isso ajuda a melhorar o apetite por risco global, mas o Ibovespa não conseguiu acompanhar o movimento de alta devido a questões locais -desafios ligados às condições fiscais e ao cenário de juros no Brasil. Além disso, o desempenho fraco de ações de peso como Vale e Petrobras também contribui para o desempenho modesto do índice”.

Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos, disse que a Bolsa está de lado em meio aos dados do mercado de trabalho acima do esperado, fiscal e a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moodys esta semana e Oriente Médio no radar.

“É um dia bem misto pra o Ibovespa. Esse dado do payroll só corrobora mais para um softlanding [poso suava]. Pela primeira vez, está cravado um corte [de juros] em 0,25pp na próxima reunião [6 de novembro], antes tinha a dúvida se seria 0,25pp ou 0,50p. Os cortes devem continuar nessa magnitude [nos encontros seguintes]. Por aqui, talvez a gente tenha um pouco mais de fluxo com esse diferencial de juros [mais altos aqui e corte lá fora]. O upgrade [para a nota de crédito do Brasil] da Moody’s esta semana ainda é visto de forma tímida pelo mercado e o fiscal ainda preocupa”.

Em relação ao Oriente Médio, Alvarenga disse que o mercado entende que o preço do petróleo no curto prazo é de patamares mais altos, e nos médio e longo prazos “deve se apaziguar porque não compra [a ideia] de escalada do conflito”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o dado de hoje pode reforçar o corte de juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto porcentual (pp).

“O dado veio bem acima do esperado; não só o payroll em si, mas todos os números. O resultado mostra que a economia americana está longe de entrar em uma recessão, recentemente era um dos fatores que fez os investidores ficarem com medo, e isso consolida as apostas para um corte de 0,25pp. Fica mais claro que o Fed vai ficar na linha dos 0,25pp, mas ainda vai depender dos próximos dados. Até pode ser que [o Fed] não corte juros, mas ainda é cedo pra dizer. A queda do Ibovespa futuro é por questão de fluxo [de estrangeiros], que tende a ficar mais nos EUA. Muita gente pode estar acreditando que a economia americana é uma boa aposta, que em tese pode nos prejudicar hoje”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,4554 para venda, com desvalorização de 0,33%. Às 17h05, o dólar futuro para novembro tinha baixa de 0,38% a R$ 5.473,500. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, subia 0,47% a 102,48 pontos.

Segundo fontes de mercado, consultadas por Safras News, a queda foi decorrente da migração de capital do investidor estrangeiro, o que beneficia as moedas de países emergentes. Mais cedo, os dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) chegaram a valorizar a divisa.

O payroll apontou a criação de 254 mil vagas, em setembro, ante projeção de 140 mil, enquanto o desemprego caiu a 4,1% (projeção de +4,2%). Já o ganho por hora trabalhada teve alta de 0,4% no comparativo mensal e 4,0% em 12 meses, também acima das projeções de 0,3% e 3,8%, respectivamente.

Leonardo Santana, sócio e analista da Top Gain, disse que a queda do dólar é explicada pela volta do estrangeiro. “Os emergentes [moedas de países emergentes] estão se favorecendo por imigração de capital. Os gringos viraram posição vendido em dólar e o alvo é [chegar] R$ 5,40. Com os cortes de juros lá fora [nos EUA], o aumento de juro aqui, a China voltando, aumento da nota [de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Moodys] essa semana favorecendo muito o retorno do estrangeiro”.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, disse que os números do payroll foram muito bons: “Bateu as expectativas, com uma composição boa, com sinais de que a economia americana está muito resiliente”.

Borsoi acredita que os resultados de hoje sepultam as possibilidades de um corte de 0,5 ponto percentual (pp) na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em novembro, e introduz uma dúvida quanto aos cortes que irão ocorrer em 2025: “Isso me parece muito ruim para os mercados”.Neste cenário, Borsoi observou que o real tem performado bem, acima dos pares, refletindo a alta da Selic [taxa básica de juros].

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) seguem em alta com a divulgação do Payroll bem acima do esperado, mostrando um mercado de trabalho aquecido e fazendo disparar os Treasuries (títulos do tesouro norte-americano).

Por volta das 13h15 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,058% de 11,046% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,340%, de 12,305%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,380%, de 12,360%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,410% de 12,430% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em alta, impulsionados por um relatório de emprego (payroll) muito mais forte do que o previsto, que aumentou o otimismo sobre a economia do país.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,81%, 42.352,75 pontos
Nasdaq 100: +1,22%, 18.137,8 pontos
S&P 500: +0,89%, 5.751,07 pontos

Dylan Poitevin Della Pasqua, Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes