São Paulo – No primeiro pregão de março, a Bolsa fechou no negativo em um dia em que as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) e outras petroleiras chegaram a pressionar o índice por conta da medida de tributação sobre a exportação do petróleo, mas rumores no final da sessão de que a estatal possa distribuir dividendos acima do esperado pelo mercado ajudaram arrefecer a perda do Ibovespa e os papéis da empresa viraram para o positivo.
A Petrobras divulga logo mais, após o fechamento do mercado o balanço do 4T22. As ações da Petrobras ON fecharam estáveis e PN em alta de 0,25%; Petrorio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) caíram 0,94% e 10,46%. O grande destaque positivo foi para o setor de mineração e siderurgia com os dados favoráveis na China. As ações da Vale (VALE3) avançaram 4,54% e Usiminas (USMI5) subiram 4,97%.
O principal índice da B3 caiu 0,52%, aos 104.384,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 0,13%, aos 105.865 pontos. O giro financeiro foi de R$ 31,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistos.
Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, disse que o mercado ficou pressionado com medo dos tributos em relação às exportadoras “3RPetrolium e Petro Rio sofreram e a Petrobras foi o destaque negativo no início do dia, mas virou e a entrada de compra devido a um possível pagamento de dividendos maior que expectativa; o setor de mineração sustentou o índice”.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, disse que o Ibovespa recua forte pressionado pela Petrobras e falas de Haddad sobre o BC. “A reoneração parcial sobre os combustíveis voltou a afetar a Petrobras derrubando as ações, apesar da empresa ter anunciado dividendos robustos atraindo os olhares não só de acionistas como de Gleisi Hoffmann [presidente do PT], que voltou a dizer sobre a necessidade de rever ‘indecente distribuição de dividendos’; o embate entre Fernando Haddad e o Banco Central sobre o patamar dos juros atuais voltou e ministro colocou o presidente anterior como culpado”.
Alexandre Pereira, analista de ações da casa de análises do TC, disse que o Ibovespa segue na tendência negativa do fechamento de fevereiro. “Com as petroleiras puxando o índice pra baixo, perdeu o patamar dos 104 mil pontos, mas deve brigar por essa faixa para a gente não ver movimentos baixistas mais acelerados; o momento é de cautela pra quem está comprado e interessante para quem está vendido; o destaque de hoje é o ativo da Vale”.
Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que “os ruídos são por conta do imposto sobre exportação do petróleo e o fato relevante do Ministério de Minas e Energia pedir a suspensão dos ativos da Petrobras por 90 dias para reavaliação da política energética nacional e instalação de uma nova composição no conselho nacional”.
Bruno Komura, analista de Ouro Preto Investimentos, disse que a Bolsa está impactada negativamente com as medidas de reoneração do governo, mas principalmente com as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o Banco Central, mais cedo ao portal UOL. “O Haddad começou a cutucar o BC e disse que está fazendo a parte dele, não atacou como o Lula; ele [o Haddad] era a pessoa que defendia a visão do mercado no governo, a reoneração a gente viu que foi uma vitória do Haddad”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em entrevista ao UOL que a medida de ontem para a volta da tributação dos impostos federais não implicou em mandar um recado ao Banco Central (BC) para reduzir os juros. Ele reiterou que a autoridade monetária indicou na ata da última reunião do Copom a volta da taxação seria favorável para diminuir a pressão sobre a Selic.
Komura também disse que “a gente vê um sinal claro de intervenção do governo em relação à Petrobras e isso é péssimo para companhia e uma das teses do mercado é que a visão é altista para a commodity, mas a estatal é um veículo ruim para se posicionar nisso, muita gente fala em comprar Petro, recôncavo e 3R, com a tributação da exportação pode acabar com essa tese também, todas as empresas estão sofrendo muito, lá fora está contribuindo com o todo o aperto do Fed, por mais que tenha vindo dado de China bom”.
O dólar comercial fechou em queda de 0,61%, cotado a R$ 5,1920. A moeda brasileira foi favorecida pela reabertura da economia chinesa, que impacta diretamente as commodities e as moedas ligadas a elas, como o real.
Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “quem não deixa o dólar cair é o mercado norte-americano, enquanto a inflação por lá não for resolvida. O dólar deve oscilar entre a faixa de R$ 5,15 e R$ 5,25”.
Para o economista da BlueLine Flávio Serrano, “de um lado temos o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) forte na China, com papeis ligados à mineração tendo um desempenho super positivo”.
Serrano entende que a reoneração dos combustíveis não teve impacto no real, mas foi importante do ponto de vista fiscal, melhorando a percepção sobre o risco fiscal doméstico, e alerta: “É importante ter a definição do acabou fiscal, que pode abrir caminho para o Banco Central (BC) começar a cortar os juros”.
De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, o fortes PMI da China impacta positivamente os preços dos ativos de risco na expectativa de que o crescimento econômico chinês será mais forte e, portanto, a demanda por commodities”.
O PMI industrial da China foi a 52,6 pontos em fevereiro ante projeção de 50,6 pontos.
“Por aqui, ações das petrolíferas podem sofrer ainda mais com imposição de um imposto sobre as suas exportações, mesmo que temporário. Existe o risco de continuidade desse imposto. Lembrando: (o presidente da Petrobras) Jean Paul Prates, quando senador, defendeu essa taxa como forma de financiar o fundo de estabilização dos preços dos combustíveis”, observou a Ajax.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,310% de 13,380% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,655%, 12,690%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,795%, de 12,760%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,015% de 12,920% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,1940 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo mistos, com o Dow Jones saindo do território negativo nos últimos minutos da sessão, à medida que Wall Street analisou uma nova leva de indicadores econômicos e de discursos de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,02%, 32.661,84 pontos
Nasdaq 100: -0,66%, 11.379,5 pontos
S&P 500: -0,47%, 3.951,39 pontos
Com Paulo Holland, Darlan de Azevedo e Pedro do Val de Carvalho Gil / Agência CMA.