Bolsa fecha semestre em queda de quase 8% e dólar em alta de 15,2%

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São Paulo -A Bolsa encerrou o último pregão do mês em queda, perdeu a região dos 124 mil pontos, em parte por um movimento de correção e outra pela desconfiança do mercado com a questão fiscal doméstica. O destaque ficou para as ações de peso no índice, Petrobras e Vale, que tiveram um dia positivo. Na semana, o índice subiu 2,11% e no mês acumulou ganhos de 1,49%, mas no trimestre caiu 3,27% e no semestre recuou 7,66%.

As ações da Vale (VALE3) subiram 1,07% e as da Petrobras (PETR4) avançaram 0,90%.

O principal índice da B3 caiu 0,32%, aos 123.906,55 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 0,49%, aos 125.320 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que o Ibovespa foi “pressionado pela ausência de anúncio de medidas concretas que indiquem responsabilidade fiscal do governo brasileiro e novas críticas do chefe do Executivo ao presidente do Banco Central. O Ibovespa não conseguiu defender os 124 mil pontos, mas só não caiu mais por conta da valorização dos dois maiores pesos na carteira, Vale e Petrobras”.

Segundo Nishimura, as ações das varejistas tiveram um dia negativo, em um pregão de alta do dólar e dos juros futuros e os papéis da Eletrobras subiram “com a combinação de busca por papéis mais resilientes ao cenário de aversão ao risco e a notícia de que a companhia se unirá a Suzano para a produção de hidrogênio verde e combustíveis sintéticos. Já as ações da Cemig recuaram, após a companhia suspender o leilão na B3 que tinha como objeto a transferência onerosa do direito de exploração dos serviços de geração de energia das usinas Machado Mineiro, Sinceridade, Martins e Marmelos. A suspensão ocorreu pela ausência de apresentação de propostas”.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que a Bolsa cai em parte por uma correção e outra pela virada de sinal nos Estados Unidos.

“Uma correção, mas a queda acentuou por causa do exterior. A Petrobras está seguindo o movimento de alta e Vale com a possibilidade do aumento da demanda chinesa com investimento em infraestrutura e recuperação do minério de ferro”.

Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos, disse que junho foi um mês volátil para a Bolsa por conta do fiscal.

“Na primeira metade do mês, a Bolsa chegou a cair 3%, de lá pra cá se recuperou e deve fechar junho em alta. Teve volatilidade em função da sustentabilidade fiscal brasileira e declarações polêmicas do nosso presidente. A decisão unânime do BC ajudou bastante em manter os juros. Há espaço para a Bolsa subir, se mantiver o mínimo de coesão no discurso fiscal”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que a Bolsa corrige após a alta da véspera e o segundo semestre pode ser mais otimista.

“Hoje é um rebote depois de ontem porque é fechamento de mês, semanal, trimestre e semestre, parece que não tem força para continuar em alta e sustentar esse movimento porque não tem gatilho definitivo. Mesmo porque tem falas do Lula, do Campos Neto e dados fortes do mercado de trabalho que impedem o mercado brasileiro engatar. O petróleo não tem bom dia e atrapalha a Petrobras, que poderia subir mais. Já a Vale avança. O cenário pode mudar no segundo semestre com a probabilidade de queda de juros lá fora, por aqui acerto da política fiscal e manutenção do discurso conservador. Isso não vai ser linear, terá volatilidade como vemos hoje, que de certo modo é saudável. Ontem o Ibovespa subiu mais de 1%, enquanto o Indice Smalll Caps avançou mais de 2%, o que mostra um espaço que pode ser recuperação, correção”.

De acordo com Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. “Os dados da Pnad contínua foram bons diante da perspectiva da atividade, mas ruim em relação à inflação, o que reflete no Ibovespa”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,50%, cotado a R$ 5,5906. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a tensão política e fiscal que tem afetado a divisa brasileira nas últimas semanas. Na semana, mês, trimestre e semestre a moeda teve valorização de 2,76%, 6,49%, 11,50% e 15,22%, respectivamente.

Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “o mercado está cada vez apostando menos em Brasil, e as falas de Lula não têm ajudado a melhorar a situação. Precisamos ver até onde vai chegar. É possível que o dólar piore ainda mais”.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, disse que a disparada do dólar se deve ao posicionamento técnico ruim, e que os dados de hoje não foram bons, assim como a perspectiva de política econômica que não é favorável.

“Com o governo em dificuldades com novas medidas para a arrecadação e o BC lavando as mãos, o dólar dispara. O BC deveria intervir no câmbio, parece que tem disfuncionalidade. Do ponto de vista técnico, ademais do fechamento da Ptax mensal, trimestral e semestre, o investidor estrangeiro está em uma posição em dólar e como é fechamento dos contratos o interesse de quem está comprado é colocar a cotação do dólar lá em cima. Somado a isso, o déficit fiscal foi muito ruim, o setor público veio abaixo do consenso do mercado que já era ruim e não tem perspectiva de melhora, a Pnad continua sugeriu um cenário difícil pro BC. Eles vão manter a taxa de juros e não estão gerando um casamento com o cenário econômico que a gente tá vendo. a aceleração de salários, provavelmente a inflação de serviços vai ficar alta por mais tempo e não é um cenário de manutenção de juros. Ontem, o RCN deu argumento a favor do dólar. Estamos em um momento que o mercado está sinalizando que precisamos de alta de juros, é o que mostra a curva. Se a cotação de câmbio não incomoda vai ser R$ 5,60, 5,70 até que de fato o BC entre para intervir”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta firme. Os DI tiveram mais um dia de estresse e subiram impactadas pelo fiscal doméstico. As curvas mais curtas refletem o Copom.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,680%, de 10,735% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,550% de 11,320%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,930%, de 11,730%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,175% de 11,980 na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 5,5926 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, ainda que Wall Street tenha deixado de lado os temores de uma recessão e traçou um caminho recorde na primeira metade de 2024, impulsionado por fortes ganhos e entusiasmo com inteligência artificial (IA).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,12%, 39.105,79 pontos
Nasdaq 100: -0,70%, 17.732,60 pontos
S&P 500: -0,40%, 5.459,16 pontos

 

Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News