Bolsa fechou em queda com sinalização de juros mais altos nos Estados Unidos; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda em dia de decisão de política monetária nos Estados Unidos em que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) subiu os juros conforme o esperado pelo mercado em 0,75 ponto percentual (pp) e com o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, praticamente em linha com a fala hawkish no simpósio de Jackson Hole, em agosto, em que não medirá esforços para controlar a inflação.

No entanto, o que desagradou o mercado foi a manutenção dos juros altos ainda em 2023 e que inflação só atingirá a meta de 2% em 2025. O banco central norte-americano fez várias projeções sinalizando uma política monetária mais apertada que o mercado esperava.

Agora o mercado aguarda a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), após o fechamento do mercado.

O principal índice da B3 caiu 0,51%, aos 111.935,86 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro caiu 0,63%, aos 112.705 pontos. O giro financeiro foi de R$ 44,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam

Wiliam Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, disse que o presidente do Fed, Jerome Powell, reforça o discurso hawkish do simpósio Jackson Hole. “O movimento do mercado no curto prazo foi muito forte, mas Powell não trouxe nada de muito novo, reafirmou que ainda tem espaço para aumentar juros, ainda tem trabalho para ser feito”.

O estrategista-chefe da Avenue Securities disse que o Fed deve subir os juros em 0,75 pp na reunião de novembro e 0,50 pp em dezembro. “Com as projeções do Fed ficou claro que a inflação continua persistente e demora mais para ceder, tanto que só volta ao centro da meta [2%] só em 2025; a taxa final para este ano é elevada e para 2023 e 2024 também”.

Segundo Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, em suas redes sociais, disse que o comunicado do Fed foi “lacônico e o foco foi direto na inflação alta e mercado de trabalho forte”. Acrescentou que a instituição não se preocupou “com o crescimento interno ou problemas externos como por exemplo com a Europa e China”.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que a Bolsa cai descolando do exterior com o setor financeiro “pesando”, depois de altas recentes, mas lembrou que “nas duas últimas sessões, NY caía e aqui subia”.

Moliterno enfatizou que o mercado está “em compasso de espera para a Super Quarta e com os investidores aliviando um pouco a posição”.

O presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, “deve manter o discurso que está de olho no controle da inflação e, se seguir com o mesmo tom, o mercado tende a reagir positivo pós Fed”, afirmou.

Em relação ao Copom, ele acredita que deve manter a taxa de juros em 13,75% e os juros altos ainda devem permanecer por mais tempo.

Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos, disse que a Bolsa está “de lado e no aguardo da comunicação do Fed e a partir daí é que os mercados nacional e internacional vão tomar um rumo”.

Souza comentou que os principais papéis do Ibovespa como o setor bancário cai depois de uma forte alta e Vale (VALE3) perde.

Maurício Machado, head de renda variável da Speed Invest, disse que os investidores estão “cautelosos em relação às decisões dos juros, apesar de lá fora estar em alta; aqui a Bolsa já subiu bem nessa semana e as empresas de minério pesam um pouco”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,1720. Isso reflete certo alívio do mercado, após a alta de 0,75 ponto percentual nos juros dos Estados Unidos, em linha com as projeções dos analistas.

Para o head de mesa da Valor Investimentos, Piter Carvalho, “o aumento de 0,75 pp já era esperado, e a volatilidade foi grande. Nos emergentes o impacto é ainda maior, além do dólar bater o euro e o DXY (cesta de moedas desenvolvidas) atingir as máximas”.

Carvalho, porém, ressalta que neste cenário o real surpreende: “No contexto internacional de continuidade da guerra na Ucrânia, China em desaceleração e Europa com crise energética prestes a entrar em recessão, o Brasil voltou à rota de opções para os investidores, além dos nossos juros que seguem atraindo os investidores”, analisa.

Em coletiva após o anúncio do aumento dos juros, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, disse que “outros aumentos nas taxas de juros serão apropriados”, que o comitê ainda considera as hipóteses de que a inflação suba mais e que o Fed terá de continuar com a política restritiva durante algum tempo.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após decisão do FED (o banco central norte-americano) em elevar a taxa de juros em 75 bps, para faixa entre 3% e 3,25%.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,735% de 13,775% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,085%, de 13,240%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,740%, de 11,920% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,365% de 11,565%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com os índices caindo 1,7% cada, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) subiu sua taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual (pp), uma decisão amplamente espera, porém sinalizar que sua política restritiva deve continuar por um longo período.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,70, 30.183,78 pontos
Nasdaq 100: -1,79%, 11.220,2 pontos
S&P 500: -1,71%, 3.789,93 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA