Bolsa fica estável e dólar cai com tensão entre EUA e China

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São Paulo – Após mostrar volatilidade ao longo do pregão, mas com o viés de queda prevalecendo, o Ibovespa fechou praticamente estável, com variação negativa 0,01%, aos 104.289,57 pontos. As perdas de ações de bancos pressionaram o índice, com investidores aproveitando para embolsar lucros em meio a um cenário externo mais cauteloso em função do aumento da tensão entre China e Estados Unidos.

“O índice está caindo com investidores aproveitando notícias negativas para realizar. A notícia sobre o fechamento da embaixada chinesa de Houston traz mais um estresse para a relação com a China, que já vem piorando, e vai fazer parte da munição de Trump [presidente dos Estados Unidos, Donald] vai usar para angariar votos”, disse o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara.

Embora as Bolsas norte-americanas tenham conseguido fechar em leve alta após um dia volátil, o cenário externo inspira cautela depois que os Estados Unidos ordenaram o fechamento do consulado chinês de Houston alegando necessidade de proteger a propriedade intelectual norte-americana e dados privados. Em resposta, a China pediu aos Estados Unidos que revoguem imediatamente a decisão e, segundo a agência “Reuters”, está considerando fechar o consulado norte-americano na cidade de Wuhan.

Por outro lado, investidores seguem esperançosos com avanços em vacinas contra o covid-19. Hoje, os Estados Unidos fecharam um acordo com as farmacêuticas Pfizer e BioNTech para comprar, ainda em 2020, 100 milhões de doses da vacina contra a covid-19. As empresas mostraram sucesso na sua primeira fase de testes esta semana.

Entre as ações, as de bancos passaram a cair com mais força ao longo do pregão, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,27%) e do Santander (SANB11 -3,64%). Na avaliação dos analistas do UBS, a proposta da reforma tributária encaminhada ao Congresso pelo governo é negativa para os bancos, com seus próximos passos podendo acarretar em aumento da carga tributária sobre o setor.

Já as maiores quedas do Ibovespa foram da Qualicorp (QUAL3 -5,73%), que ainda refletiram a prisão do seu fundador em operação da Lava Jato ontem. Ao lado da companhia, ficaram as ações da BRMalls (BRML3 -4,87%) e do Iguatemi (IGTA3 -4,10%).

Na contramão, os papéis da WEG (WEG3 13,89%) dispararam e mostraram a maior alta do Ibovespa refletindo resultados trimestrais positivos. Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Gerdau Metalúrgica (GOAU4 5,28%), da B2W (BTOW3 5,30%) e da Cemig (CMIG4 7,73%).

Na agenda de indicadores de amanhã, os destaques são os pedidos de seguro-desemprego da última semana e o índice de indicadores antecedentes de junho, ambos nos Estados Unidos. A temporada de balanços também deve seguir no foco dos investidores, assim como noticiário em torno da pandemia.

“Com o início da safra de resultados do segundo trimestre, vai ser possível dimensionar melhor onde e em quem investir” ressalta o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

O dólar comercial fechou em forte queda de 1,84% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1150 para venda, engatando o terceiro recuo seguido e novamente, no menor valor em um mês, acompanhando o exterior onde a moeda norte-americana perdeu terreno para o euro e outras moedas pares, relegando a nova escalada as tensões entre Estados Unidos e China. Aqui, a entrega da primeira parte da reforma tributária alimentou o bom humor dos investidores, levando a divisa ao menor nível intradiário desde 16 de junho.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, ressalta que a moeda encerrou nos menores níveis em um mês apoiado na melhora do humor “de players que sistematicamente apostam contra o real”. Ele reforça que houve um “desmonte de parte das posições compradas” de investidores que apostavam “no pior”. “Houve também um fluxo pesado de ingresso de recursos no país no longo do dia”, diz.

O diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, acrescenta que ainda não é possível saber de onde vem esse “ingresso” de recursos, porém, o investidor estrangeiro volta a ficar atento ao Brasil com a expectativa de que a agenda de reformas do país voltará a ser discutida após o ministério da Economia entregar parte da reforma ao Congresso, ontem.

“O real foi a moeda de melhor desempenho hoje com essa sinalização sobre a retomada da agenda de reformas, o que criou um clima de sentimento de esperança nos mercados”, comenta.

Apesar do otimismo exibido aqui e no exterior, ainda na esteira da aprovação do plano de recuperação econômica de 750 bilhões de euros por chefes de estado e líderes da Europa sustentando a valorização do euro, investidores relegaram a nova escalada das tensões comerciais entre norte-americanos e chineses.

Os Estados Unidos ordenaram o fechamento do consulado da China em Houston, com a justificativa de uma necessidade de proteger a propriedade intelectual norte-americana e dados privados, dando continuidade à escalada nas tensões bilaterais entre os países. A China, por sua vez, pede aos norte-americanos que revoguem imediatamente a decisão e promete retaliação, caso o pedido não seja atendido.

Para Syper, o mercado poderá reagir aos conflitos entre os países amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, tendo como destaque apenas os números de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos. Sobre uma possível correção do dólar, após três quedas seguidas acumulando 5% de perdas na semana, o diretor da Mirae acredita que a moeda mudou a tendência e poderá permanecer em queda nos próximos dias.