Bolsa ignora exterior e fecha em alta puxada por bancos e commodities; dólar avança quase 2%

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta e avançou mais de 1,5 mil pontos na sessão desta terça-feira impulsionada pelas ações do setor financeiro e pelas commodities, em um pregão de mau humor externo refletindo a visita da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, após 25 anos e irritando a China.

O destaque entre as commodities fica para a Vale (VALE3), que tem peso de 15,262% no índice e subiu mais de 3%. Mas o otimismo não foi registrado durante todo o pregão. Na primeira metade da sessão a Bolsa apresentou muita volatilidade.

O principal índice da B3 subiu 1,11%, aos 103.361,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto avançou 0,96%, aos 103.820 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,2 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.

Para amanhã, os investidores ficam atentos à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre os juros em que o mercado já precificou 0,50 ponto porcentual (pp).

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, disse que o Ibovespa opera em alta “descolado do exterior e puxado pelo setor bancário, com a proximidade de resultados corporativos [na quinta (4) sai o resultado do Bradesco, após o fechamento]”.

Labarthe comentou que hoje começou a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e termina amanhã (3), quando a autoridade monetária deverá subir em 0,50 ponto porcentual (pp) os juros, passando a Selic para 13,75%.

“Temos a sensação de melhora da inflação devido à diminuição do ICMS com a redução dos preços da gasolina e energia, mas é um alívio temporário”.

Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa, disse que os bancos e Petrobras puxam a Bolsa “apesar do clima de tensão causado Estados Unidos e China com a visita de Nancy Pelosi a Taiwan”.

O mercado espera por resultados melhores para o setor financeiro nessa temperada de balanços e a animação com Petrobras é em “função dos dividendos que vão ser pagos e as projeções futuras”, disse Arbetman.

Diante das últimas semanas mais conturbadas, o preço do Brent se mostrou resiliente em torno de pelo menos US$ 100, o que mostra que a estatal pode ter “condições de desempenhar bem nos próximos trimestre como foi nesse e remunerar os seus acionistas”.

Mais cedo, Fabizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, disse que a visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos a Taiwan “gera um desconforto na relação entre China e Estados Unidos porque o principal ponto para controle da inflação e um aumento da atividade econômica passam por estes dois países”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,93%, cotado a R$ 5,2770. O ambiente de forte aversão global ao risco foi inflado pela tensão entre China e Estados Unidos, pelos indícios de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais hawkish (duro, propenso ao aumentos dos juros), além dos ruídos políticos domésticos e a chance do Comitê de Política Monetária (Copom) não terminar o ciclo de aumento dos juros na reunião que ocorre entre hoje e amanhã, o que também contribuiu para o fortalecimento da moeda norte-americana.

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “é uma tensão que poderia ser evitada. Será que esta visita vai ter alguma vantagem?”, indaga.

Komura acredita que as declarações dos dirigentes do Fed têm sido mais duras, e dão sinais que a instituição pode realizar um novo aumento de 0,75 ponto percentual(pp) na próxima reunião, em setembro: “A inflação não está sob controle”, observa.

Já no âmbito doméstico, Komura entende que o ciclo pode continuar: “Acho que o Banco Central (BC) pode dar o aumento de 0,5 pp e deixar a porta aberta para mais altas. Houve uma deterioração da conjuntura no Brasil, e isso pesa mais no real do que os juros”, constata.

Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “o ambiente externo é de aversão ao risco, mas a possibilidade do BC sinalizar o final do aperto do ciclo monetário é ruim para o câmbio.”.

Serrano também entende que os novos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, geram um ruído político. O chefe do executivo declarou, nesta terça, que os inquéritos do ministro são “ilegais, imorais”, e ainda disse que está sendo perseguido de modo implacável, referindo-se ao inquérito das fake news.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em em alta, impulsionadas por risco externo e em semana de Copom.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com a Dow Jones caindo 1,23%, depois que membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fizeram comentários que sinalizam uma continuidade do aperto monetário. Wall Street também foi impactada por temores nas relações EUA-China em meio às tensões em Taiwan.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,23%, 32.396,17 pontos
Nasdaq Composto: -0,16%, 12.349 pontos
S&P 500: -0,66%, 4.091,19 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA