Bolsa interrompe sequência de alta e fecha em queda com Magazine Luiza, Vale, bancos e exterior

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São Paulo- A Bolsa interrompeu a sequência de oito pregões em alta e fechou em baixa, perdeu quase 2 mil pontos, com a pressão de Vale (VALE3), setor de consumo, principalmente Magazine Luiza, e bancos e puxada por um exterior negativo em meio a discussão sobre o teto da dívida dos Estados Unidos.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) foi resiliente e se manteve no positivo em meio às notícias de fim de paridade de preços do petróleo com o dólar e o mercado internacional e anúncio de redução dos combustíveis. As ações ordinárias subiram 2,24% e preferenciais 2,49%.

O papel de maior queda do índice, Magazine Luiza (MGLU3), cedeu 22,83%, refletindo o resultado pior que o esperado pelos analistas- prejuízo ajustado de R$ 391,2 milhões no 1T23, aumento de 142,5% em relação ao mesmo período de 2022. Guararapes (GUAR3) caiu 6,66%, Grupo Soma (SOMA3) cedeu 3,22% e Via (VIIA3) perdeu 6,42%. Os bancos caíram em bloco. Banco do Brasil (BBAS3) caiu 2,88%.

Entre as commodities metálicas, a Vale (VALE3) caiu 2,05%. Na ponta positiva, a Hapvida (HAPV3) subiu 8,25% e carrega o setor. Rede D’Or (RDOR3) avançou mais de 6%.

O principal índice da B3 caiu 0,76%, aos 108.193,68 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho cedeu 0,98%, aos 109.045 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Um analista de investimento de um grande banco de investimentos disse que “a queda da querida do consumo, Magazine Luiza, arrasta todo o setor. É um efeito psicológico. Cai Guararapes, Grupo Soma e Via; Vale também piorou”.

O analista acrescentou que a piora externa é atribuída à questão do teto da dívida dos Estados Unidos. “Os republicanos não querem ceder, pressionam por corte de gastos mais agressivos”.

Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, disse que a Bolsa está de lado após subir com os efeitos da política de preços da Petrobras. ” Muitos achavam que o governo ia vir com uma política mais restritiva, em mexer no preço, ia mudar a empresa totalmente, e veio de uma forma mais leve. O desenho é parecido com o que vinha acontecendo, por isso Petrobras subiu. O Prates [Jean Paul Prates, presidente da Petrobras] falou há pouco e a Petrobras deu uma arrefecida; era esperado que as ações caíssem com o anúncio e não acontece, amanhã cai a gasolina [de R$ 3,18 para R$ 2,78] para e o diesel [R$ 3,46% para R$ 3,02]”.

O operador de renda variável da B.Side Investimentos da China também comentou que a Vale, apesar do minério de ferro ter subido na China, os dados da econômica do país chinês vieram piores que o esperado. “Os balanços também impactam as ações; 3R cai forte por conta de um problema em um dos postos, um aumento de capital que o mercado não entendeu direito e resultado ruim, tudo isso impactou no papel; Magazine Luiza teve resultado muito abaixo do esperado, varejo subiu forte nos últimos dias, a política de preços da Petrobras com a queda dos preços também é boa par a inflação e pode ter um impacto na próxima reunião do Copom”.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que “a Petrobras saindo da paridade internacional, já era amplamente esperado pelo mercado, os investidores poderiam poderia ficar surpresos com um tom mais radical, coisa que não aconteceu, e a ação sobe; o arcabouço também ficou fora dos gastos Bolsa Família e salário-mínimo; e na temporada de resultados, Branco do Brasil veio forte, mas o papel está caindo porque subiu nas últimas sessões e com a ausência de surpresa, o papel está realizando; o mesmo não dá para dizer de Magazine Luiza, o prejuízo veio acima das expectativas. Lá fora o mercado deve acompanhar o impasse sobre o teto da dívida, mas não espera o defaut”.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que a mudança na política de preços da Petrobras “Não é uma notícia muito boa, mas o mercado estava esperando um cenário pior e o arcabouço veio em linha”.

De acordo com analistas da Empiricus, a mudança na estratégia de precificação de combustíveis já era amplamente esperada pelo mercado. “O grande receio dos investidores era de um congelamento de preços ou que as referências internacionais fossem completamente abandonadas na formação de preços, o que poderia implicar em prejuízos bilionários para a estatal nas importações de combustíveis, mas o comunicado afastou essa hipótese”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vérti Invest, disse que “foi pego de surpresa e pode ser que alguma outra informação não tenha vindo à público porque em tesse essa paridade de preços seria ruim para a empresa, mas muito disso também poderia ter sido antecipado, ontem teve queda forte das ações da Petrobras. A alta da Petrobras e até mesmo o Ibovespa com nove pregões em alta nos deixa surpresos, não vemos isso desde o governo Temer [Michel Temer], algo chamativo; o mercado está interpretando bem a leitura do texto do novo arcabouço fiscal, mas à princípio ainda faltam pontos para serem entendidos, principalmente a parte de punição para o Executivo, caso não cumpra [o governo] as metas; a discussão está longe de acabar; e a Vale cai à despeito do minério de ferro; começo de dia bem diferente”.

O dólar fechou em alta de 1,06%, cotado a R$ 4,9420. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a mudança na política de preços da Petrobras.

A economista da Valor Investimentos Paloma Lopes entende que o principal motivo da alta do dólar foi o ocorrido na Petrobras: “Já estava precificado, mas foi um grande choque como foi informado. Isso gera um movimento de sobe e desce”, opina.

Conforme noticiado pela CMA, “a partir de amanhã, a gasolina A terá redução de R$ 0,40 por litro (-12,6%) e o seu preço médio de venda para as distribuidoras passará de R$ 3,18 para R$ 2,78 por litro.

O diesel A terá corte de 0,44 por litro (-12,8%), com preço médio de venda para as distribuidoras de R$ 3,46 para R$ 3,02 por litro. O gás de cozinha (GLP) terá corte de R$ 8,97 por botijão de 13 kgs (-21,3%), com o botijão custando aproximadamente R$ 99. Em comunicado, a Petrobras disse que reduzirá em R$ 0,69 por kg o seu preço médio de venda para as distribuidoras, que passará de R$ 3,2256 para R$ 2,5356 por kg, equivalente a R$ 32,96 por botijão de 13kg”.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a Produção Industrial dos Estados Unidos favorece o dólar, com as perspectivas de que o juros continuarão elevados. O indicador aumentou 0,5% em abril ante março, acima das projeções (+0,1%).

Abdelmalack entende que o arcabouço fiscal ainda tem pontos frágeis, como a correção do salário mínimo, o que pode aumentar o gasto público nos próximos anos. O cenário, contudo, já está precificado pelo mercado.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, refletindo o movimento de correção, além da expectativa pelo arcabouço fiscal. As taxas acompanham, ainda, os movimentos dos juros nos Estados Unidos.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,305 % de 13,300 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,710% de 11,690%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,200 %, de 11,130%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,240 % de 11,150 % na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com Wall Street acompanhando o avanço lento das negociações sobre o teto da dívida do país após a reunião entre o presidente Joe Biden e líderes do Congresso.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,01%, 33.012,14 pontos
Nasdaq 100: -0,18%, 12.343,1 pontos
S&P 500: -0,63%, 4.109,90 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA