São Paulo – O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, operou volátil nesta sexta-feira, e encerrou em leve alta de 0,07%, aos 119.662,38 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto acompanhou e subiu 0,11%, aos 121.545 pontos. O giro financeiro foi de R$ 13,6 bilhões. Na semana, o índice caiu 0,91%.
A responsabilidade fiscal teve alguns sinais de apoio e os rumores de “fritura” do chefe da equipe econômica do governo Lula esfriaram, com declarações do presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), junto com a promessa de revisão do gasto público para reduzir despesas, feita ontem pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, e o elogio do presidente da República a Haddad, e deram um ‘alívio’ aos ativos neste fim de semana.
O dia também teve a indicação de nomes para a diretoria da Petrobras, a divulgação do Indice de Atividade Econômica (IBC-Br), a “prévia do PIB”, pelo Banco Central, e do relatório Prisma Fiscal de junho, que indicou um déficit primário maior neste ano.
Ações da Petrobras fecharam em queda após fato relevante em que a estatal anunciou os nomes de três novos diretores indicados pela presidente Magda Chambriard. Os papéis preferenciais (PETR4) caíram 2,19%, enquanto os ordinários (petr3) recuaram 1,05%.
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, disse nesta sexta-feira (14) que o setor bancário está convencido do compromisso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o equilíbrio fiscal das contas públicas.
O IBC-Br, indicador calculado pelo BC com o objetivo de antecipar avaliações sobre o Produto Interno Bruto (PIB), avançou 0,01% em abril em relação a março, indo a 154,72 pontos. Nos dados sem ajuste sazonal, o IBC-Br atingiu 148,38 pontos, ganho de 4,01% na comparação com o mesmo mês de 2023. O Termômetro CMA apostava em alta de 0,30% em abril ante março. Já na comparação com abril de 2023, era esperada alta era de 4,01%.
Segundo o relatório Prisma Fiscal, a expectativa mediana agora é de saldo primário negativo de R$ 79,715 bilhões em 2024, ante visão anterior de déficit de R$ 76,825 bilhões. Para 2025, a expectativa para o resultado primário também piorou, a déficit de R$ 90,134 bilhões, ante R$ 87,458 bilhões no mês passado. Em relação à dívida bruta do governo geral, os economistas agora esperam que ela chegue a 77,33% do Produto Interno Bruto (PIB) ao final de 2024, de 77,30% projetados em maio. Em 2025, a previsão é de que a dívida chegue a 80,15% do PIB, ante projeção anterior de 79,90%.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o movimento de hoje refletiu a cautela do mercado relacionada às contas públicas, atenuado pela reaproximação dos banqueiros com o ministro da Fazenda e por elogios do presidente Lula à Haddad, afastando os rumores de ‘fritura’ do chefe da pasta, após a devolução da MP que limitava créditos do PIS/Cofins para compensar a renúncia fiscal da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia e dos municípios. “O ajuste de posições é normal às sextas, principalmente em um cenário de tanta incerteza. Hoje não teve nenhuma novidade em relação ao fiscal, o mercado está cético sobre o tema e se assustou com a fritura do ministro. Mas os posicionamentos em defesa dele tranquilizaram o mercado”, avalia.
No entanto, embora o clima de pânico tenha reduzido, o mercado deve seguir negativo. “Enquanto não houver uma perspectiva em reação à melhora desse cenário fiscal local, o mercado não vai reagir positivamente. Considerando que 70% do fluxo é estrangeiro, à relação risco retorno mais favorável nos Estados Unidos faz os emergentes como o Brasil ficarem em desvantagem”, comenta Lima.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, comenta sobre a queda nas previsões para o Ibovespa até o fim de 2024, que acumula perdas de quase 11% no ano, para uma média de 144 mil pontos, de 150 mil no fim do ano passado. “O que ajuda a explicar a queda do Ibovespa diante dessas projeções de 150 mil pontos é que elas estavam ancoradas em um valuation mais descontado da bolsa, principalmente quando nós analisávamos o preço sobre lucro (P/L), que é um dos principais indicadores analisados pelo mercado. No geral, o preço das empresas ficaram de lado, alguns até caíram e o lucro cresceu ao longo dos últimos anos, então esse valuation foi ficando descontado.”
Para Moreira, o que deixa o Ibovespa distante dos 150 mil pontos são os juros altos e a piora nas expectativas de equilíbrio das contas públicas. “Uma outra métrica importante de valuation utilizada é o fluxo de caixa descontado, que considera toda a capacidade de geração de caixa das empresas no futuro e desconta a um custo médio de capital e traz a valor presente. Só que esse custo médio de capital é diretamente proporcional a taxa de juros. Se a taxa básica de juros ou risk free, juros livres de risco, estão mais altos, esse custo médio de capital será mais alto e o valuation das empresas, esse caixa futuro trazido à valor presente, será mais baixo. Então, como as expectativas com relação ao equilíbrio das contas públicas se deterioraram, os juros futuros subiram e, consequentemente, o custo de capital das empresas sobem e o valuation passa a ser hoje um pouco menor.”
“As projeções [para o Ibovespa] foram revisadas para baixo dada essa projeção de juros mais altos por mais tempo e esse cenário mais deteriorado. As expectativas indicam que o mercado brasileiro se deteriorou, o cenário está mais negativo, a bolsa foi amplamente pressionada em 2024, em meio às preocupações com relação à política monetária, à desancoragem das expectativas de inflação de médio prazo. Isso exerce um papel fundamental nas projeções da continuidade do ciclo de corte de juros pelo Banco Central”, explica o sócio da WMS Capital.
O que deve impactar o Ibovespa até o final do ano, segundo ele, são três catalisadores: uma continuação na queda da taxa de juros nos Estados Unidos, que alivia um pouco a pressão aqui no Brasil, com o aumento do prêmio de risco entre investir nos Estados Unidos e investir no Brasil; a redução das preocupações quanto a política fiscal; e, terceiro, maior visibilidade sobre a condução da política monetária pelo BC, visto que as próximas decisões estão mais abertas. “O mercado está acreditando que teremos uma manutenção e o espaço para corte de juros vem diminuindo cada vez mais. O mercado precisa “reancorar” as expectativas de que o ciclo de corte de juros no Brasil vai continuar. Enquanto isso não acontecer, nós provavelmente teremos um cenário um pouco mais negativo para a Bolsa como um todo”, conclui.
O dólar comercial fechou em alta de 0,27%, cotado a R$ 5,3816. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as constantes incertezas fiscais internas. Na semana, a divisa estadunidense teve valorização de 1,06%.
De acordo com o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “enquanto não ficar definido o compromisso do governo de reduzir gastos, recuperar a credibilidade vai ser uma tarefa difícil. O mercado vai querer uma resposta definitiva”.
Segundo a Ajax Asset, “por aqui, a fala de Haddad sobre revisão dos gastos e os elogios de Lula ao ministro da Fazenda ajudaram a reduzir um pouco as incertezas com o cenário fiscal. Mas o quadro das contas públicas para os próximos anos ainda está indefinido, o que justifica a continuidade dos elevados prêmios de risco”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em queda, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano). Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,650%, de 10,645% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,220% de 11,235%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,540%, de 11,605%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,790% de 11,885 na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em queda, cotado a R$ 5,3812 para a venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão com poucas alterações, com o S&P 500 e o Nasdaq registrando fortes desempenhos semanais enquanto a estratégia de IA da Apple e a vitória do pacote de remuneração de Elon Musk na Tesla tiveram destaque.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,15%, 38.589,49 pontos
Nasdaq 100: +0,12%, 17.688,88 pontos
S&P 500: -0,04%, 5.431,60 pontos
Confira abaixo a variação dos índices na semana:
Dow Jones: -0,57% / Nasdaq 100: +3,24% / S&P 500: +1,58%
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News
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