Bolsa recua com repercussão do escândalo das Americanas e medidas econômicas do governo

1169

São Paulo – A Bolsa fechou em queda em um dia de turbulência no meio corporativo com a derrubada das ações das Americanas (AMER3) após a notícia da véspera do escândalo nas contas da companhia de um rombo de R$ 20 bilhões e que resultou na renúncia do CEO, Sergio Rial.

Somado a isso, os investidores digeriram as medidas econômicas do governo com impacto de R$ 242,7 bilhões para reverter o déficit em 2023.

Com o episódio das Americanas (AMER3), outras ações também foram impactadas tanto do setor varejista quanto do financeiro, este último por conta de ser credor.

Os papéis das Americanas (AMER3) recuaram 77,33%. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) e Itaú (ITUB4) caíram, respectivamente 2,02% e 2,33% e 1,40%. A varejista Via (VIIA3) teve queda de 5,38% em contrapartida magazine Luiza (MGLU3) fechou em alta de 5,28%.

O principal índice da B3 caiu 0,59%, aos 111.850,22 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,79%, aos 113.090 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, comentou que o mercado ficou na expectativa do anúncio das medidas do pregão, mas o caso Americanas acabou tendo as atenções do mercado.

“O investidor quer saber se vai ser factível chegar nessa conta que o Haddad sinalizou uma melhora que pode chegar R$ 242 bilhões para esse ano, mas só o tempo vai dizer; a questão do Haddad é favorável principalmente voltada para a economia real, a de consumo e varejo, só que não tem como não atrelar o pregão de hoje ao caso das Americanas; as ações das Americanas têm peso com outros papéis do setor como Magazine Luiza e Via e bancos”.

Já Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que o mercado não gostou muito das medidas do Haddad “porque são pontuais e o discurso tem sido um pouco diferente do quetem sido falado recentemente e dado alívio ao mercado”.

Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, disse a queda na Bolsa é atribuída principalmente a “uma correção normal por conta das fortes altas recentes e o caso das Americanas é pontual, não afeta de maneira sistêmica, e sim os setores, pode respingar nos bancos credores [Bradesco e Itaú, que detêm parte da dívida]; as ações estão em leilão e apontam para uma queda de 75% [em relação ao fechamento da véspera, de R$12]”.

Moura disse que com a divulgação da inflação de hoje nos Estados Unidos em linha com a expectativa do mercado ainda não se pode dizer que o fim do ciclo de aperto monetário está perto de acontecer. “Boa parte do remédio já foi aplicado, mas ainda tem uma parcela residual e tem de deixar o remédio fazer efeito, ou seja, os juros têm de permanecer altos por um período ainda mais longo”.

O sócio e analista da Finacap Investimentos disse o mercado fica na expectativa da divulgação do pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “A proposta deve ser pautada para melhorar a arrecadação do governo que ele vem ventilando desde a época da transição”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,58%, cotado a R$ 5,0990. Isso refletiu a desaceleração da inflação norte-americana, a reabertura da economia chinesa e o intenso fluxo estrangeiro no Brasil.

Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “é uma intensa entrada de capital estrangeiro no Brasil. Estamos melhores que os nossos pares e existe bom humor com os ativos brasileiros”.

Leal também entende que as recentes sinalizações mais fiscalistas e pró-mercado foram bem recebidas, e também beneficiam a moeda brasileira.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o CPI veio em linha com o esperado. Isso é muito favorável para o real. Parece que tem espaço para o dólar cair mais e chegar próximo aos R$ 5,00”. O executivo acredita que o resultado da inflação norte-americana aumenta as expectativas por um aumento de 0,25 ponto percentual (pp) nas taxas básicas de juros norte-americanas, o que configuraria um afrouxamento do aperto monetário.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em dezembro ante novembro, e reforçou as expectativas por um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais dovish (suave, menos propenso ao aumento dos juros).

Weigt também destaca que a reabertura chinesa é benéfica para a moeda brasileira, e que o mercado tem gostado da postura da preocupação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com a parte fiscal.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos de dezembro indicar desaceleração. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,460% de 13,535% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,430%, de 12,565%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,210%, de 12,360%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,155% de 12,330% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,0940 para venda.

Os futuros do principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo positivo, depois que o relatório do índice de preços ao consumidor de dezembro mostrou que a inflação desacelerou para o mês, aumentando as esperanças de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa reduzir os aumentos das taxas de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,64%, 34.189,97 pontos
Nasdaq 100: +0,63%, 11.001,1 pontos
S&P 500: +0,34%, 3.983,17 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.