Bolsa recua em dia de sessão volátil e baixa liquidez, sobe na semana; dólar cai

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda em uma sessão de muita volatilidade entre perdas e ganhos e de baixíssima liquidez com os investidores absorvendo os dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos em junho (payroll, sigla em inglês), que vieram forte- abertura de 372 mil empregos.

O número indica que economia está aquecida e os agentes financeiros acreditam em uma postura mais dura do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano). Na semana, a Bolsa acumula ganho de 0,33%.

Mais cedo, foi divulgado o Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial, que subiu 0,67% na comparação mensal, mas ficou abaixo das expectativas (0,73%), dando um certo alívio no início do pregão.

As commodities metálicas tiveram um dia de realização e as varejistas subiram.

O principal índice da B3 caiu 0,43%, aos 100.288,94 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto registrou queda de 0,84%, aos 101.555 pontos. O giro financeiro foi de R$ 13,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistos.

Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, disse que o payroll mais forte mostra que os juros para a próxima reunião do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano vir em 0,75 ponto porcentual, “mas demonstra também que o mercado americano tem apetite de crescimento” e questiona “como se reduz emprego existe escassez na produção, esse é o problema da questão”. Nos dois anos de pandemia houve diminuição na produção e agora “a China coloca liquidez para incentivar isso”.

Velloni afirmou que o cenário atual “gera ambiguidade na cabeça do investidor” e não quer se posicionar.

Segundo uma fonte que não quis se identificar, o Banco BTG Pactual cortou o preço-alvo das varejistas como Magazine Luiza (MGLU3), Americanas S.A (AMER3) e Via (VIIA3), mas manteve a recomendação de compra das ações.

As ações ordinárias de Magazine Luiza (MGLU3) passaram de R$ 45 para R$ 29; Americanas S.A (AMER3) de R$ 16 para R$ 7 e Via (VIIA3) de R$ 8 para R$ 4.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que a leitura do mercado é favorável com a divulgação do IPCA, “apesar de alto-subiu 0,67%-, só por vir abaixo das expectativas- +0,73%- é um bom caminho, daqui a pouco a Selic alta vai pesar sobre a atividade. Ou seja, com a atividade acelerando, o índice deve desacelerar também”.

Ele alerta para a inflação de serviços, que está ganhando força conforme se dá a reabertura da economia. “Essa inflação é a única notícia negativa e tem de tomar cuidado porque ela é mais difícil de segurar”.

O analista da Ouro Preto Investimentos afirmou que o payroll forte-foram criados 372 mil postos de trabalho em junho- ainda pesa sobre a Bolsa. “Por um lado, a inflação deve continuar alta por causa do mercado de trabalho e, por outro, o Fed pode seguir subindo os juros sem causar uma recessão muito grave”.

Maurício Machado, head de renda variável da Speed Invest, explicou que o IPCA, apesar de alto, veio abaixo das expectativas do mercado e o payroll acima do esperado auxilia “com o temor em relação a uma recessão”.

Machado enfatizou que em um ambiente doméstico e internacional deteriorados “qualquer notícia que não piore o cenário projetado é vista como positiva, por isso a Bolsa subiu, e trouxe calma ao mercado no início dos negócios, mas isso não é definitivo; o cenário de inflação global descontrolada e perigo iminente de recessão seguem no radar e devem trazer bastante volatilidade nessa e nas próximas sessões”.

O dólar comercial fechou em queda 1,42%, cotado a R$ 5,2680. O movimento de correção foi potencializado pela divulgação do payroll (folha de pagamentos, um dos principais termômetros do emprego nos Estados Unidos) na manhã de hoje, reforçando a ideia de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) seguirá sua rota contracionista. Na semana, o dólar caiu 1,03%.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “já estressamos muito os ativos de risco no começo da semana, e acredito que haja espaço para uma recuperação”.

Abdelmalack entende, porém, que a situação ainda é frágil e que o estresse pode voltar caso o mercado passe a apostar em uma postura mais agressiva do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) na reunião de setembro, já que o aumento de 0,75% no encontro de julho já é consenso entre grande parte dos analistas.

De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o payroll reforçou o aumento nos juros de 0,75%, e isso foi bem recebido pelo mercado brasileiro. Isso abre espaço para uma política mais dura, mas sem recessão”.

Nagem explica que os ativos de risco dos emergentes ainda estão baratos, o que aumenta o fluxo estrangeiro: “É preciso observar que o Banco Central (BC) independente está funcionando muito bem, fazendo a lição de casa. Ele começou o ciclo contracionista antes de todo mundo”, observa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após divulgação do payroll (dados do mercado de trabalho norte-americano).

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,780% de 13,755% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,630%, de 13,515%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,960%, de 12,800% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,845% de 12,730%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações fecharam a sessão em campo misto, num dia de alta instabilidade nos mercados. Os investidores avaliaram o forte relatório payroll de junho nos Estados Unidos, em meio à postura do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de intenso combate à inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,15%, 31.338,15 pontos
Nasdaq Composto: +0,12%, 11.635,3 pontos
S&P 500: -0,08%, 3.899,38 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA