Bolsa reduz ganho e fecha em leve alta, com correção técnica e questões locais, em dia de feriado nos EUA

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Foto: Dominik Gwarek / freeimages.com

São Paulo, 17 de fevereiro de 2025 – O índice Ibovespa operou em alta durante todo o pregão desta segunda-feira, chegou a bater os 130 mil pontos, mas pisou no freio ao final do dia, com investidores precificando o fechamento das curvas de juros futuros e a alta do dólar. Nos cálculos do dia, parte do mercado também incluiu a queda de popularidade do presidente Lula indicada em pesquisa na sexta-feira, um cenário favorável para candidatos “pró-mercado”, e indicadores que apontaram o início da desaceleração da economia. O mercado brasileiro também operou sem a referência dos Estados Unidos, devido ao fechamento das Bolsas em dia de feriado. Com isso, as falas de membros do governo brasileiro e dados econômicos locais ganharam destaque.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,26%, aos 128.552,13 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 0,32%, aos 130.900 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,15 bilhões.

Entre as ações de maior peso no Ibovespa, o fechamento indicou, por um lado, a baixa da Vale (VALE3 -0,53%), refletindo forte queda do minério de ferro no exterior, e, por outro, a valorização da Petrobras (PETR3 +1,12%; PETR4 +0,61%), após notícias positivas e anúncios de investimentos navais, com a participação do presidente Lula, nesta segunda-feira. Os quatro maiores bancos também fecharam em alta, com destaque para Banco do Brasil (BBAS3 +1,42%), contribuindo para a alta do Ibovespa.

Os destaques positivos do índice foram Magazine Luiza (MGLU3), Vamos (VAMO3) e CVC (CVCB3), que subiram, respectivamente, 7,85%, 5,80% e 4,54%, com a queda de juros.

As maiores quedas, por sua vez, foram de JBS (JBSS3), Weg (WEGE3) e BRF (BRFS3) de, respectivamente, 2,77%, 2,50% e 2,49%, devido a maior exposição ao dólar.

A ação da Raízen (RAIZ4) fechou em forte alta (+4,51%) após apresentação de resultados do quarto trimestre de 2024 e anúncios para os próximos meses em teleconferência na manhã de hoje.

Após o fechamento, a BB Seguridade (BBSE3) apresenta seus resultados do período. A ação fechou em queda de 2,26%.

Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, descreve o movimento como de mais um dia de recuperação para o Ibovespa, que chegou a se aproximar dos 130 mil pontos. Na sua avaliação, o movimento é de recuperação técnica, já que não houve mudança nos gatilhos que corroboram para as incertezas e, portanto, são favorecem os ativos de risco, como a manutenção de trajetória de alta da Selic e o risco fiscal. “Não há, de fato, fatores para uma reversão do movimento que fez o Ibovespa atingir as mínimas no final do ano passado. Continuamos na toada de alta de juros aqui no Brasil, risco fiscal, incertezas relacionadas às tarifas do governo Trump, que o mercado tem recebido bem, mas que também adiciona incerteza. Não tivemos nenhuma melhora do ponto de vista fiscal. O que eu vejo é um movimento de recuperação bastante técnica, não tem um cenário favorável ou muito diferente do que o visto no final do ano passado.”

A analista não descarta o impacto das notícias de bastidores em relação à eleição presidencial de 2026, que sinalizam um cenário favorável a candidatos “pró-mercado”. “Isso ainda está muito distante, mas são questões que acabam surgindo para tentar justificar um pouco desse movimento mais técnico, de recuperação, que é o que eu vejo para o Ibovespa agora”, analisa.

O que há, de fato, segundo a analista, são “ativos negociados a preços atrativos”, que refletem em uma Bolsa brasileira “descontada e barata, com empresas que vêm entregando bons resultados”. “O mercado vai ficar atento aos guidances (projeções) e, do ponto de vista micro, o cenário está mais tranquilo, mas que é algo que já tínhamos no ano passado.”

Os destaques de alta nesta segunda-feira são os ativos mais cíclicos, impulsionados pela queda dos juros futuros, além da indicação de um início de desaceleração da atividade econômica.

para Leonardo Santana, sócio da casa de análise Top Gain, a piora no índice de aprovação do governo Lula e uma possível candidatura de Tarcísio de Freitas à presidência da República em 2026 explicam o otimismo do mercado. “Esse movimento se deve, na minha opinião, por conta principalmente de sexta-feira, em que o índice de aprovação do governo Lula caiu para 24%, índice menor de todos os tempos do governo Lula. E o mercado precifica possivelmente uma não-reeleição do governo Lula para 2026, ou até mesmo que o Centrão possa assumir o governo.”

“E tivemos também o IBC-Br na manhã, uma prévia do PIB que veio negativo, em 0,70%, mostrando que a economia aqui no Brasil está desacelerando forte. E isso pode representar um controle inflacionário com maior facilidade, podendo ter que subir menos juros, tanto que toda a curva de juros cai no dia de hoje”, acrescenta.

Na opinião de Santana, a queda nos juros também afeta positivamente o setor de varejo, que é o que mais se destaca no dia de hoje, com empresas como Magazine Luiza e Assaí subindo no dia de hoje. “Já na ponta negativa, nós temos JBS com resultados abaixo do esperado lá nos Estados Unidos, uma mudança na liderança também da empresa penalizando o papel. Suzano também em um movimento de baixa, mas muito por conta de resultados, já que a empresa reportou prejuízo”, opina.

O economista e diretor da Nomos, Alexsandro Nishimura, avalia que o rali eleitoral a 20 meses do pleito presidencial seguiu impulsionando o Ibovespa, que hoje não contou com a referência das bolsas norte-americanas, fechadas devido ao feriado pelo Dia do Presidente. “A agenda esvaziada ajudou para o mercado seguir reverberando a piora na popularidade do presidente Lula, o que diminui as chances de reeleição. Os juros futuros em queda ajudaram para a alta das ações mais sensíveis ao ciclo econômico”, observa.

O analista aponta que os investidores seguem de olho em Petrobras, que confirmou haver óleo na região oeste do campo de Búzios, além do início da produção do FPSO Almirante Tamandaré. “Os papéis da estatal chegaram sofrer com alguma volatilidade após falas do presidente Lula na tentativa de fortalecer a companhia, o que normalmente tem efeito contrário sobre as cotações”, acrescentou.

O dólar comercial fechou em alta de 0,26%, cotado a R$ 5,7119. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a falta de liquidez devido ao feriado nos Estados Unidos.

O sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato disse que no cenário atual o suporte do dólar é R$ 5,70.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, está em linha com as outras moedas e o movimento global, impactado pelo feriado nos Estados Unidos.

De acordo com a Ajax Asset, “lá fora, marcados internacionais operam com baixa liquidez por conta do feriado nos Estados Unidos. Por aqui, ativos domésticos devem manter o momento favorável, embalados pela piora da aprovação do governo Lula”.

“Segundo o Datafolha, a aprovação de Lula caiu para 24%, patamar mais baixo dos três mandatos do petista, vindo de 35% na sondagem realizada em dez/24. O movimento foi puxado por segmentos que formam a base eleitoral de Lula, como pessoas de baixa renda, eleitores do nordeste, mulheres e aqueles que afirmam ter votado no petista no segundo turno de 2022”, explica a Ajax.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda. O driver do dia foi o IBC-Br de novembro, que reforçou as expectativas de que o ciclo hawkish do Banco Central (BC) esteja próximo ao final.

Por volta das 16h43 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,665% de 14,785% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,575%, de 14,780%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,365%, de 14,530%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,300% de 14,465% na mesma comparação. O dólar opera em alta de 0,21%, cotado a R$ 5,7089 para venda.

Com Paulo Holland / Safras News

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