Bolsa reduz ganhos com mercado à espera de cenário eleitoral mais definido; dólar cai

725

São Paulo – Após operar boa parte do pregão em alta, a Bolsa passou a operar com bastante volatilidade e reduziu os fortes ganhos de ontem, após o anúncio de apoio de Ciro Gomes ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Um movimento positivo no exterior manteve a Bolsa em leve alta, após a euforia da véspera, motivada pelo resultado do primeiro turno mais favorável às políticas de direita, na visão dos analistas.

Além dos apoios recebidos pelo PDT e Cidadania, os investidores acompanham com bastante expectativa os anúncios do MDB e PSDB, que estão sendo negociados pelo PT.

Os anúncios vieram após a campanha para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro receber apoios de Rodrigo Garcia, atual governador derrotado no pleito de São Paulo, e dos governadores reeleitos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, Romeu Zema (Novo) e Cláudio Castro (PL), para o segundo turno.

O mercado também acompanhou com cautela as falas dos diretores do Federal Reserve (o banco central norte-americano) e da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, em relação a elevação de juros e controle da inflação, que indicaram que a trajetória de aumento de juros nas duas regiões deve continuar.

Hoje o petróleo subiu mais de 3% em meio a um possível corte de produção a ser anunciado pelos países produtores (Opep+) nesta quarta-feira (5/10). A expectativa subiu para 2 milhões de barris por dia, de 1 milhão anterior.

O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 0,08%, aos 116.230,12 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,23%. O giro financeiro foi de R$ 28,475 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Entre as ações de maior peso no índice, a Vale fechou em alta de 2,77%, enquanto as da Petrobras caíram 1,49% (PETR3) e 2,39% (PETR4), na contramão das petrolíferas Petro Rio e 3R, que avançaram 5% e 9%, refletindo o movimento positivo do petróleo no exterior.

O Banco do Brasil também despencou 5,11%, enquanto outros papéis do setor financeiro fecharam mistos, perto da estabilidade.

As maiores altas foram de IRB Brasil, Banco do Brasil, Cielo e Cemig, que caíram perto de 5%, e as maiores altas de 3R (+9,59%), Americanas, Locaweb, CSN Mineração e Petro Rio, que subiram mais de 5%.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, o mercado devolveu um pouco do otimismo registrado ontem e ficou atrás do S&P 500, principal bolsa dos Estados Unidos. Os destaques de baixa foram de Petrobras e Banco do Brasil, enquanto a Vale e outras ações de mineração e siderúrgicas não deixaram a bolsa cair mais.

Na sua avaliação, o investidor parou para analisar as próximas notícias, à espera de definições dos planos de governo dos candidatos à Presidência da República. “O anúncio do auxílio para as mulheres, pelo governo, compromete o fiscal e o mercado começa a se preocupar com o ‘baú das bondades’ com cada um prometendo mais coisas que o outro, sem se preocupar com o fiscal”, comenta Silva.

Já o movimento das commodities metálicas reflete um otimismo global de uma elevação mais branda dos juros nos Estados Unidos. “Isso fez com que o S&P subisse mais do que na última sexta-feira. Agora, o mercado vai acompanhar os indicadores dos Estados Unidos para avaliar os próximos passos do FED. Os dados divulgados até agora ainda não justificam uma mudança de política, o que indica que os movimentos das bolsas internacionais estão em um rally de ‘bear market'”, conclui o gestor da Galápagos.

Vitor Carettoni, diretor da mesa de renda variável da Lifetime Investimentos também reforça a visão de que o mercado pode estar precificando uma elevação mais branda de juros pelos bancos centrais internacionais por conta de riscos financeiros que o ajuste fiscal pode gerar. Esse sentimento veio após a divulgação de indicadores abaixo do esperado nos Estados Unidos, o índice de manufatura e a de criação de postos de trabalho.

“Isso pode indicar que a economia norte-americana pode estar desacelerando e o mercado começa a comprar a narrativa de que o Fed não deveria ser tão agressivo nos juros. Mas como a mudança de posição é muito súbita, desde ontem, que coincide com começo de trimestre, que também pode indicar um balanceamento de portfólio.”

Já a baixa local logo após o anúncio de apoio à Lula por Ciro Gomes, Carettoni comenta que a notícia era esperada, mas ainda assim levou a uma baixa. “Os destaques de alta foram a 3R Petroleum, seguindo o movimento do petróleo e a recomendação de compra do papel por um banco de investimentos internacional. Já entre as baixas, foram Petrobras, Cemig e Banco do Brasil, que vinha de uma elevação de 7,5% ontem, enquanto a elétrica caiu mais de 5% mas ainda acumula alta de 4% em relação ao pregão de sexta-feira.”

“Após uma segunda-feira de muito entusiasmo do mercado financeiro no Brasil e de bolsa subindo e dólar em queda, nesta terça feira o mercado está lateralizado e vemos os investidores realizando em algumas ações como Petrobras, Banco do Brasil, empresas que tiveram forte alta frente ao segundo turno nas eleições presidenciais no Brasil”, destaca Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.

Na sua visão o mercado recebeu bem o aumento das cadeiras para o Senado e Câmara dos partidos aliados ao Governo atual, com possibilidades de facilidades nas aprovações futuras. “Esse é um fato que acalma o mercado, já que dificulta, por exemplo, alguma tentativa de furo no teto de gastos por parte de Lula, caso seja eleito”, opina Labarthe. “Não é claro no programa de governo do PT quais reformas irão realizar, porém é claro, na minha visão, que não são a favor de privatizações. Após a divulgação do apoio de Ciro, vimos a bolsa virar para queda. A possibilidade de os votos do Ciro irem para o Lula não anima o mercado.”

Com a agenda vazia no cenário corporativo nacional, os papéis da Vale, CSN, Usiminas e CSN Mineração subiram pelo terceiro dia consecutivo, em dia de feriado na China e o minério de ferro sem referência.

Para Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, o mercado continua demonstrando bom humor tanto aqui como lá fora, com juros caindo, menor índice de volatilidade e queda do dólar, o que, na sua visão, indica redução de risco sistêmico.”Isso acontece por dois motivos. No cenário local, apesar de a eleição não ter sido resolvida no primeiro turno, está implícito que, com a maioria [do governo] de direita, a agenda fiscal será cumprida. Teremos teto de gastos, regra de ouro, um esforço para fazer o superávit primário, vamos manter as expectativas de inflação ancoradas, não vamos atrapalhar o Banco Central. Isso fez com que os ativos de risco subissem bastante”, comentou Calestine.

No exterior, as Bolsas também sobem e os juros e o “índice do medo”, Vix, caem, o que já levariam a Bolsa brasileira para cima, mas o resultado das eleições no fim de semana gerou um movimento de alta ainda maior do que nos Estados Unidos e Europa.

Heitor Martins, especialista em Renda Variável da Nexgen Capital, comenta que o minério de ferro mantém o movimento positivo, em meio ao feriado na China, enquanto a queda da Petrobras reflete as incertezas com o cenário político nacional e os bancos refletem o fechamento da curva de juros futura.

“É importante considerar a forte de alta de ontem, de mais de 5%, então hoje é natural esperar um movimento mais fraco da Bolsa”, avalia.

Mais cedo, quando a Bolsa já reduzia os ganhos, Ricardo Leite, head de renda variável Diagrama Investimentos comenta que o índice passou a perder força, de olho nas movimentações políticas que começam a aparecer para os apoios no segundo turno, aumentando um pouco a aversão a risco dos investidores. “Esse movimento fez com que as taxas de juros que estavam caindo, ficassem em terreno neutro, puxando a bolsa um pouco para baixo”, comentou.

Além disso, a declaração de Philip Jefferson, um dos diretores do FED (o banco central dos EUA), de que a inflacão é o problema mais sério que o banco central enfrentou e pode levar algum tempo para ser resolvido, também foi recebido com certa cautela pelo mercado.

O dólar comercial fechou em queda de 0,13%, cotado a R$ 5,1690. A moeda foi impactada pela chance de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais hawkish e as alianças políticas que estão sendo costuradas para o segundo turno das eleições brasileiras.

De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, as declarações da presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) São Francisco, Mary Daly, indicando que os dados sobre o mercado de trabalho no país ainda apontam um aquecimento da economia, e que isso sugere mais aumento dos juros, favoreceu a moeda estadunidense.

O Jolts, relatório que indica a criação de empregos e vagas nos Estados Unidos, registrou a abertura de 10,053 milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos em agosto.

Rostagno também entende que o mercado viu como positiva a aproximação entre o governador reeleito, Romeu Zema e Jair Bolsonaro, enquanto a aproximação entre Luis Inácio Lula da Silva e Ciro gomes é temerária.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas. O mercado ficou dividido entre o otimismo com um congresso mais alinhado à direita e as incertezas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,678% de 13,676% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,735%, de 12,735%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,460%, de 11,465% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,245% de 11,285%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,1730 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com os investidores otimistas no início de outubro à medida que os juros dos Treasuries norte-americanos continuam num ritmo de queda após a maior alta em 10 anos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: +2,80%, 30.316,32 pontos
Nasdaq 100: +3,34%, 11.176,4 pontos
S&P 500: +3,05%, 3.790,93 pontos

Com Paulo Holland / Darlan de Azevedo / Agência CMA.