Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 1,28%, aos 107.381,11 pontos, refletindo a aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado e a provável aprovação também no plenário da Casa ainda hoje.
Com a valorização de hoje, o índice renovou o recorde de fechamento batido ontem, depois de também ter atingido a máxima histórica intradiária de 107.420,73 pontos mais cedo, deixando para trás a máxima de 106,650,12 pontos do dia 10 de julho. O volume negociado foi de R$ 18,7 bilhões, mais forte do que nos últimos pregões.
Para o analista da Guide Investimentos, Rafael Passos, apesar de a aprovação da reforma já ter sido precificada pelo mercado, a conclusão da sua tramitação e a expectativa de que possa destravar demais reformas, somado a um cenário externo mais tranquilo, explicam o desempenho do índice. “Não tivemos motivos para ter uma realização de lucros hoje, lá fora está positivo e o front doméstico também”, disse.
“O Congresso segue com uma agenda reformista – pelo menos no papel – e as tratativas sobre os próximos passos ocorrem mesmo com o racha no PSL”, destacou ainda o analista político da Levante Investimentos, Felipe Berenguer, em relatório. No entanto, Berenguer acredita que a aprovação de outras reformas, como a tributária, ainda deve trazer desafios ao governo.
Entre as ações, ajudaram na manutenção dos ganhos do índice hoje os papéis da Petrobras (PETR3 3,06%; PETR4 2,88%), que ficaram entre as maiores altas do Ibovespa em meio a uma aceleração dos preços do petróleo e boas expectativas em relação à cessão onerosa. Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Yduqs (YDUQ3 5,10%), que ontem comprou a Adtalem, dona da Ibmec, e da Gol (GOLL4 6%), que se beneficiam da queda do dólar.
As ações de bancos também passaram a mostrar maiores altas na esteira da aprovação da Previdência, caso das ações do Santander (SANB11 3,19%) e do Bradesco (BBDC4 2,85%).
Na contramão, as maiores quedas foram da Braskem (BRKM5 -2,20%), da Notre Dame Intermédica (GNDI3 -2,81%) e da Equatorial (EQTL3 -2,08%). A Braskem retomará na quinta-feira (24), a negociação das American Depositary Shares (ADSs) na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse, na sigla em inglês), conforme já esperado pelo mercado.
Amanhã, o índice ainda pode refletir a aprovação da reforma da Previdência no segundo turno no Senado, que pode ser concluída ainda hoje. No entanto, o analista da Guide acredita que o Ibovespa ficará “à mercê do cenário externo” para manter o tom otimista no curto prazo, com algumas questões importantes ainda precisando ser resolvidas, como as negociações comerciais entre China e Estados Unidos e o Brexit.
Os investidores também aguardam o início da temporada de balanços nesta quarta-feira, com resultados da Weg e Localiza, por exemplo, sendo que a agenda de indicadores será vazia.
O dólar comercial fechou em forte queda de 1,35% no mercado à vista, cotado a R$ 4,0760 para venda – no menor valor desde 4 de outubro – na esteira do otimismo local com a votação da reforma da Previdência no plenário do Senado, aguardada para hoje. No fim da manhã, as emendas propostas para o texto foram aprovadas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa em votação simbólica.
“O otimismo predominou junto aos investidores locais e internacionais abrindo espaço para a valorização da moeda local. A falta de notícias ruins do exterior e as perspectivas positivas em torno da aprovação da reforma da Previdência no Senado [esperada para hoje] justificaram o recuo da moeda”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Ele acrescenta que o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, ainda indefinido após mais uma votação no parlamento britânico hoje, freou mais quedas do dólar no fim do pregão. “Acabou recuperando um pouco de valor na reta final [dos negócios]”, diz.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o destaque na abertura deverá ser a repercussão da votação da reforma da Previdência, caso ocorra hoje à noite, conforme previsto. Para o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, a moeda estrangeira tem espaço para cair mais se a reforma for aprovada.
“A tendência é de queda caso a reforma seja aprovada ainda hoje e caso não tenha notícias negativas no exterior”, aposta. Já o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, reforça que, amanhã, a moeda deve oscilar no patamar entre R$ 4,05 e R$ 4,08, “sem muita diferença”, seguindo a “tendência de baixa” nos próximos dias.
Após a aprovação da Previdência, aguardada desde o governo do ex-presidente Michel Temer, o economista da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, destaca que o próximo passo seja temas como a reforma tributária e administrativa.
“Mas a revisão do pacto federativo tem menor consenso no Congresso e na sociedade de forma que a tramitação seja ainda mais complicada que a da Previdência. Mesmo com o andamento de diversas medidas, ainda há incertezas quanto a outros projetos com impacto para a retomada mais vigorosa da economia”, avalia.