Bolsa renova recordes após acordo comercial, mas dólar sobe

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Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira

São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta pelo terceiro dia seguido e renovou recordes históricos pelo segundo dia consecutivo, ao subir 0,32%, aos 112.564,86 pontos, diante da confirmação de que China e Estados Unidos chegaram a um consenso sobre a primeira fase de um acordo comercial. Porém, a ausência de detalhes sobre os termos do acordo e as fortes perdas das ações da Petrobras impediram o índice de acelerar ainda mais os ganhos.

Mais cedo, o Ibovespa chegou à máxima histórica de 112.829,31 pontos. Já o volume total negociado foi de R$ 25,3 bilhões, considerado elevado por analistas. Na semana, o índice acumulou alta de 1,30%.

“A China e o Trump confirmaram a primeira fase do acordo comercial, teve um alívio, mas não sabemos muita coisa ainda, não teve grande mudança”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

O Ministério do Comércio chinês confirmou que concordou com um acordo e que devem aumentar compras de produtos dos Estados Unidos, apesar de não ter dado detalhes do montante dessas compras. O país também afirmou que a fase um só deve ser assinada depois que os termos do acordo passarem por processo legal nos dois países. Em seguida, Trump reiterou o acordo e disse que as tarifas previstas para entrar em vigor no dia 15 de dezembro serão suspensas, enquanto tarifas de 25% já em vigor serão mantidas.

Ontem, o “Wall Street Journal” e agência notícias já adiantaram, com detalhes, que os dois países tinham chegado a um consenso. No entanto, hoje de manhã, uma declarações de Trump, afirmando que a matéria estava errada, chegou a fazer Bolsas caírem e adicionou incertezas.

“O que foi anunciado agora tem que se confirmar. É difícil confiar depois de tantas mentiras, vamos ter que ver o que vai acontecer daqui para frente”, disse um operador de uma corretora local.

Entre as ações, as maiores baixas hoje foram das ações da Petrobras (PETR3 -4,68%; PETR4 -3,19%), que refletiram a notícia de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) manifestou a intenção de avaliar a venda da totalidade de ações ordinárias da estatal, por meio de uma oferta pública de distribuição secundária de ações, com distribuição no Brasil e com distribuição no exterior. O BNDES tem 10% do total de ações ordinárias da estatal.

Já as maiores altas foram das ações da Via Varejo (VVAR3 8,10%), da MRV (MRVE3 5,47%) e da Cielo (CIEL3 4,64%). Os papéis da Via Varejo mostraram recuperação depois de encerrarem em queda ontem após a companhia ter confirmado indícios de fraude contábil, sendo que investidores ainda otimistascom o potencial futuro da empresa e o setor varejista.

Na semana que vem, o índice pode continuar acompanhando o noticiário em torno do acordo comercial, mas investidores também aguardarão a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e os últimos indicadores antes do Natal. “Vamos ter que ver também os números desse acordo e como vai ser a negociação para a fase dois”, disse o analista da Toro Investimentos, João Freitas.

Já o dólar comercial fechou em alta de 0,36% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1090 para venda, em dia marcado pelo anúncio de um acordo comercial preliminar firmado entre Estados Unidos e China.O tão esperado anúncio provocou forte volatilidade na moeda que operou em sinais positivo e negativo em alguns momentos da sessão. Investidores ainda digerem alguns detalhes do acordo, ainda não divulgados por completo.

“O dólar operou exibindo forte volatilidade, respondendo sobretudo às notícias associadas à disputa comercial entre norte-americanos e chineses. Após abrir em forte queda amparado pelas declarações pró-acordo do presidente norte-americano [Donald] Trump no dia anterior”, comenta o analista da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Apesar da alta na sessão, a moeda fechou a semana em queda de 0,89%. A economista e estrategista de câmbio do Ourinvest, Cristiane Quartaroli, ressalta que mesmo com o recuo significativo nos últimos dias, o dólar ainda está em patamar “muito elevado”, e qualquer ruído no exterior ou aqui, vindo da política principalmente, vai afetar a moeda. “O cenário segue avesso ao risco”, acrescenta.

Antes da última semana cheia do ano, a economista ressalta que o desempenho da moeda local é o segundo melhor entre as moedas de países emergentes, ficando atrás apenas do peso colombiano, porém, no ano, tem o quarto pior desempenho com valorização de quase 6%.

“Só estamos perdendo para os pesos argentino e chileno e para a lira turca. Ou seja, ainda temos um crescimento gradual e superficial. Falta robusteze estabilidade nos indicadores econômicos. Ainda não dá para comemorar o resultado do câmbio neste mês”, reforça.

Na próxima semana, os investidores locais focarão na ata da reunião destasemana do Comitê de Política Monetária (Copom) no qual aguardam por mais pistas sobre os passos do banco central brasileiro no ano que vem. Além do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado pelo Banco Central (BC) seguido da coletiva do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Para os economistas do Bradesco, o Copom deverá reforçar a mensagem de que a próxima decisão de política monetária, em fevereiro, está condicionada à evolução do cenário econômico, principalmente, de inflação. “Considerando o nosso cenário, acreditamos que o BC terá espaço para um corte adicional da Selic [taxa básica de juros] no início do ano, que levaria os juros para 4,25%”, comentam.

Quanto ao cenário da moeda estrangeira, o diretor de câmbio do Ourominas, Mauriciano Cavalcante, destaca que o acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo deve provocar reações aos ativos a partir da semana que vem. “Acredito que o acordo deverá refletir, de fato, nos mercados a partir da semana que vem. O que pode refletir em uma queda gradativa do dólar com investidores refazendo posições após a confirmação do acordo”, diz.