Bolsa se recupera da queda de ontem e sobe; dólar cai abaixo de R$ 4,65

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São Paulo – Após cair mais de 12% ontem, na maior queda em cerca de 22 anos, o Ibovespa fechou em alta de 7,14%, aos 92.214,47 pontos, mostrando uma recuperação em linha com as Bolsas norte-americanas, com investidores voltando a ir às compras vendo ações baratas e na expectativa de que governos e bancos centrais continuem tomando medidas para impedir uma recessão econômica em função do coronavírus.

Dessa forma, o índice já recuperou em torno de 6 mil pontos depois de quase 10 mil pontos perdidos ontem. O volume total negociado foi de R$ 39,5 bilhões, acima da média.

“O mercado vai esperar não só medidas monetárias, mas medidas fiscais, liberação de orçamentos, etc. Isso pode dar um alívio de curto prazo”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.

Hoje à tarde, o presidente norte-americano, Donald Trump, disse, após reunião com senadores sobre medidas de emergência contra o surto, que a meta é proteger indústrias e não deixar as companhias aéreas se prejudicarem, mantendo os gastos dos consumidores em nível elevado. Ontem, o presidente já havia dito que podem anunciar corte de impostos na folha de pagamentos e a manutenção das remunerações dos trabalhadores recompensados por hora.

As declarações ajudaram Wall Street a acelerar ganhos no fim do dia e amenizar um pouco os temores de que mais empresas e universidades norte-americanas estão mandando pessoas para cara para evitar o contágio do vírus. A maioria das Bolsas europeias, porém, fechou em queda depois de subirem mais cedo, em meio a notícias de que a Itália vai introduzir uma moratória em grande escala para pagamento de dívidas em meio à epidemia, que já isola o país.

O diretor da SRM Asset também afirma que alguns investidores ainda aproveitaram para voltar a comprar ações depois que alguns papéis desabaram ontem, ficando baratos, no entanto, acredita que os problemas permanecem e é preciso manter cautela. “O Ibovespa bateu os 86 mil pontos ontem e chegou a níveis que podem ser considerados bem atrativos, mas a volatilidade deve continuar. Os motivos que geraram a realização forte ontem continuam aí, não é só o coronavírus, segue a dinâmica de desaceleração global”, ponderou.

Entre as ações, as da Vale (VALE3 18,13%) fecharam entre as maiores altas do índice, mostrando recuperação em função da alta dos preços do minério de ferro e da percepção de que o coronavírus está mais controlado na China.

A maior alta, porém, foi da Via Varejo (VVAR3 21,29%), que acelerou ganhos se recuperando de fortes perdas de ontem. Na contramão, as únicas quedas do Ibovespa foram da Ambev (ABEV3 -1,70%) e do IRB Brasil (IRBR3 -0,43%).

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos à divulgação do IPCA de fevereiro, que pode dar mais sinais sobre uma possível queda da Selic. Nos Estados Unidos, também serão divulgados dados inflação ao consumidor.

O dólar comercial fechou em forte queda de 1,69% no mercado à vista, cotado a R$ 4,6470 para venda, na maior queda percentual desde 4 de setembro do ano passado – quando a moeda fechou em queda de 1,79% – exibindo um alívio pontual na sessão posterior de pânico nos ativos globais. Apesar da queda, o valor de fechamento é o terceiro maior da história.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, ressalta que o recuo da moeda – o segundo desde 14 de fevereiro – também se deve às atuações mais agressivas do Banco Central (BC) no qual tem ofertado dólares no mercado à vista desde ontem. Com três operações, já foram colocados no mercado US$ 5,465 bilhões, de US$ 6,0 bilhões ofertados.

Lá fora, a retomada de otimismo, exibido no mercado de ações dos Estados Unidos, principalmente, está associada as expectativas em torno da adoção de estímulos fiscais por governos de países desenvolvidos, como o norte-americano e do Japão, ressalta Gomes.

“Além de uma possível ação do G-7 [grupo composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá] e União Europeia, como também cortes de juros pelo Banco Central Europeu nesta semana para tentar minimizar impactos econômicos do coronavírus na atividade mundial”, avalia. O coronavírus atinge todos os países do bloco europeu.

Para a equipe econômica do banco Fator, essas medidas podem ser anunciadas ao longo da semana, em linha com a reunião da autoridade monetária da Europa.

“Mas políticas fiscais, além de mais gastos em saúde, não estão sendo discutidas abertamente”, ponderam os analistas do banco.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem os dados de inflação dos Estados Unidos. Para o diretor de câmbio do Ourominas, Mauriciano Cavalcante, a moeda local ainda tem espaço para mais correções, visto que o atual patamar ainda “é exagerado”, avalia. Ele também defende que o Banco Central brasileiro mantenha as operações de venda de dólares no mercado à vista, a demanda do mercado. “Eu espero mais um pouco de queda sim”, enfatiza.