Bolsa sobe com bancos e ações ligadas à economia local; Vale cai pressionada por China

1134

São Paulo – A Bolsa encerrou os negócios em leve alta, aos 118 mil pontos, com as ações do setor financeiro e da economia doméstica apresentando melhor desempenho, impulsionadas pelo Desenrola. O pregão foi marcado por volatilidade, com dados macro mistos e impacto negativo da China, que pressionou as commodities e derrubou a ação da Vale.

Hoje, foi divulgado o Produto Interno Bruto da China (PIB), que cresceu 6,3% no segundo trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a projeção dos analistas era alta de 6,9%.

A Vale (VALE3), que tem o maior peso do Ibovespa, fechou em queda de de 1%, pressionada pelo desempenho da China abaixo do esperado. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) fecharam mistos.

Entre os destaques de alta, ficaram as ações do setor financeiro e as ligadas à economia doméstica: Raízen (RAIZ4), BTG Pactual (BPAC11), MRV (MRVE3), Alpargatas (ALPA4) e CVC (CVCB3), respectivamente, subiram 3,18%, 3,16%, 2,95%, 2,75% e 2,62%.

Os bancos subiram em bloco. Segundo João Piccioni, analista da Empiricus Research os papéis avançavam por conta do programa do governo federal Desenrola Brasil.

“O Desenrola vai permitir repensar a estratégia do crédito, as pessoas físicas vão conseguir ter um pouco de folga e os bancos vão conseguir rearranjar as carteiras de crédito”. As ações do Santander (SANB11) subiram 2,49%.

As maiores quedas foram de IRB Brasil (IRBR3), BRF (BRFS3), WEG (WEGE3), Locaweb (LWSA3) e Banco Pan (BPAN4), de 3,52%, 2,80%, 2,11%, 1,66% e 1,62%, respectivamente.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,43%, aos 118.219,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto subiu 0,50%, aos 119.580 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, comentou que o mercado operou volátil no dia de hoje “com uma carga de notícias enormes e divergentes”, começando o dia com uma queda das commodities após dados bem ruins sendo divulgados na China em relação ao PIB. “Apesar disso, a queda arrefeceu ajudando a amenizar o tom pessimista da bolsa hoje”, comentou.

Resultados corporativos sendo anunciados lá fora e os bancos aqui sendo puxados também por causa do otimismo com os resultados. “Obviamente, apesar de não serem totalmente correlacionados, os setores são pares. Também há uma expectativa em relação aos divulgados dos bancos aqui no Brasil. Com isso, papéis de bancos como Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Itaú subiram hoje. A queda dos juros futuros também beneficiou as varejistas, como Alpargatas, Petz, Assai e Pão de Açúcar.”

O analista também citou a divulgação do relatório do Boletim Focus, que veio positivo, na sua opinião, com a projeção para a inflação em 2023 sendo mantida em 4,95% e, para 2024, em 3,92%, “dados muito bons”. “Porém, tivemos a prévia do PIB, o IBC-Br, vindo bem ruim, com queda de 2% em maio, depois de uma alta de 0,56% em abril, enquanto a expectativa era de estabilidade. Ou seja, dados bem divergentes e confundindo bastante o mercado. Isso traz essa volatilidade que vemos hoje. Existem algumas apostas de analistas lá fora afirmando que o EUA vai subir só uma vez mais os juros por lá, o ciclo vai ter uma alta só. Isso traz um ânimo para o mercado e uma possível queda para o dólar.”

Segundo o especialista, a queda da BRF foi motivada pela notícia de um caso de gripe aviária em Santa Catarina e anuncio de follow-on que movimentou R$ 5,4 bi com emissão de papeis a R$ 9, com as ações descontadas. “Outro papel que se destaca entre as quedas é Locaweb com investidores um pouco pessimistas à espera dos resultados da companhia”, comentou.

João Piccioni, analista da Empiricus Research, disse que a Bolsa caiu com o PIB chinês abaixo das expectativas. “Apesar que se olhar o agregado não foi tão ruim, mas a Bolsa brasileira sofre nesse ambiente, já esteve pior na abertura; os ciclos domésticos estão respondendo um pouco pelas notícias do varejo de sexta-feira-caiu 1,0% em maio- e também corroborado com o IBC-Br [prévia do PIB] de maio, que mostrou que o PIB está maio fraco que estava esperando; é até controverso porque a curva de juros fechando; os cíclicos domésticos estavam respondendo muito bem às quedas de juros e hoje vemos descolamento; a Bolsa andou bastante e agora vai começar a temporada de balanços”.

Piccioni não acredita que os resultados aqui no 2T23 “vão ser bons na média; a economia real estava em desaceleração, o PIB no primeiro trimestre mostrou que só o agronegócio estava crescendo e ainda tem os outros segmentos que estão patinando, as pessoas estão com suas rendas apertadas por conta da inflação do ano passado; esse segundo trimestre vai ser de certa frustração, mas não vai machucar a Bolsa como um todo, os investidores estão comprando mais o lado da economia financeiro do que os resultados das empresas que já foram, todo mundo vai se preocupar com a visão dos administradores daqui pra frente”.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que o mercado está refletindo o PIB da China mais fraco “e faz com que as commodities realizem, o que deve também impactar a Vale na Bolsa”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,25%, cotado a R$ 4,8070. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as indefinições sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e as incertezas sobre a consistência da retomada econômica chinesa.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o DXY (cesta de moedas desenvolvidas) teve uma leve melhora, fazendo com que o dólar suba com menos força.

Borsoi entende que a retomada chinesa é decepcionante, o que faz com que a meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,0% fique cada vez mais difícil de ser atingida, e classifica o cenário como “desafiador”, o que desvaloriza as moedas ligadas às commodities, como o real.

Borsoi entende que a economia norte-americana dá sinais de aceleração, o que leva o mercado a apostar que o Fed promova mais duas altas de 0,25 ponto percentual (pp), mesmo que não consecutivas.

“O IBC-Br foi muito negativo. Existe bastante chance de um corte de 0,50 pp na Selic (taxa básica de juros), na reunião de agosto”, prevê Borsoi. O indicador, em maio abaixo do esperado teve queda de 2,0% ante projeções de -0,40%.

De acordo com o boletim da Ajax Research, “lá fora, os dados mais fracos de China no segundo trimestre impactam negativamente as ações e o mercado de commodities; enquanto juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) recuam num dia de fraca agenda nos Estados Unidos.

O PIB chinês cresceu 0,8% no comparativo trimestral e 6,3% no anual. As projeções eram de +0,8% e +7,1%. Já o varejo, junho, teve alta de 3,1% em base anual ante projeções de +3,3%.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, impactadas por dados econômicos divulgados hoje mais cedo aqui no Brasil: boletim Focus com revisões altistas do PIB, IBC-Br mais fraco do que o esperado e o IGP-10 teve recuo maior do que o estimado pelos analistas.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,805 % de 12,860% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,815 % de 10,850%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,245 %, de 10,225%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,265 % de 10,265% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,8120 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, com Wall Street colocando em foco alguns dos principais balanços do segundo trimestre previstos para esta semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,22%, 34.585,35 pontos
Nasdaq Composto: +0,93%, 14.245,0 pontos
S&P 500: +0,38%, 4.522,79 pontos

Com Soraia Budaibes, Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA.