Bolsa sobe com estímulos de BCs, mas dólar avança

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Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira

São Paulo – Após quatro pregões seguidos de queda, o Ibovespa fechou em alta de 1,25%, aos 93.531,17 pontos, acompanhando as Bolsas no exterior, que estão sendo sustentadas por novas medidas de estímulo anunciadas por bancos centrais (BCs) e pela expectativa sobre o plano de infraestrutura do governo norte-americano de quase US$ 1 trilhão.

No entanto, índice reduziu ganhos durante à tarde depois de subir mais de 3% da abertura da sessão e passou a mostrar maior volatilidade refletindo a notícia de que Pequim tomou mais medidas em função do aumento de casos de coronavírus, mantendo o receio de uma segunda onda da pandemia no radar. O volume total negociado hoje foi de R$ 30,4 bilhões.

“Ontem tivemos notícias que arrefeceram o risco de uma segunda onda de covid-19, primeiro foi o anúncio do Fed de que vai comprar títulos de empresas, provendo ainda mais liquidez a todo sistema, lembrando que a liquidez já estava forte, além da ampliação do apoio do Banco do Japão para empresas e o pacote de Trump de infraestrutura”, disse o sócio-analista da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo.

Ontem à tarde, em anúncio inesperado, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) disse que fará compras diretas de títulos corporativos individuais, sendo que anteriormente, esse tipo de atuação era limitado à portfólios diversificados de dívida. Já o Banco do Japão (BoJ) manteve sua política monetária inalterada, mas disse estar pronto para adotar medidas adicionais.

O presidente do Fed, Jerome Powell, também reiterou hoje que o Fed continuará comprando ativos para apoiar o mercado financeiro, embora tenha ressaltado que as incertezas ainda sejam elevadas e que a recuperação econômica irá demorar. Mais cedo, as vendas no varejo norte-americano subiram mais que o dobro do esperado em maio, embora a produção industrial tenha subido menos que o previsto.

Outro fator que animou investidores foi a notícia de que o governo de Donald Trump está preparando um plano de infraestrutura de quase US$ 1 trilhão, que pode ser detalhado nos próximos dias.

Porém, ainda no exterior, Pequim elevou de três para dois o nível de resposta emergencial contra a pandemia, o que fará com que lugares subterrâneos sejam fechados e aulas presenciais suspensas. Diversos estados norte-americanos, como a Flórida também seguem mostrando aumento de casos.

No Brasil, por sua vez, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie amanhã uma queda de 0,75 ponto percentual da Selic, além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disse hoje que pretende conceder crédito emergencial para empresas de diversos setores, como os setores aéreos, elétrico e automobilístico.

Entre as maiores altas do Ibovespa ficaram as ações de siderúrgicas, como Gerdau (GGBR4 9,22%), CSN (CSNA3 6,50%) e Gerdau Metalúrgica (GOUA4 7,32%). A Gerdau se beneficiaria do plano de infraestrutura que pode ser feito nos Estados Unidos, onde possui unidades, além disso, o fato de o BNDES poder ajudar o setor de automóveis pode ser positivo para o setor.

Na contramão, as maiores quedas do índice foram da CVC (CVCB3 -3,32%), da Cogna (COGN3 -3,75%) e da SulAmerica (SULA11 -3,19%).

Amanhã, além de aguardarem a decisão do Copom, investidores devem ficar de olho em dados do setor de serviços no Brasil. Já no exterior, o destaque fica novamente para o presidente do Fed, Jerome Powell, em audiência na Câmara dos Deputados às 13h. Analistas também destacam que os números de casos de covid-19 devem ser monitorados e ainda podem trazer volatilidade para os mercados.

Já o dólar comercial fechou em forte alta de 1,90% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2390 para venda, engatando a quinta alta seguida e no maior valor de fechamento desde 2 de junho, em sessão de forte volatilidade acompanhando o exterior negativo para moedas de países emergentes após indicadores melhores nos Estados Unidos calibrados com declarações vistas como “menos otimistas” do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Além da cautela local antes da decisão de política monetária.

Após abrir em forte queda, abaixo de R$ 5,05, a moeda reagiu à virada da divisa norte-americana no exterior e passou a subir após declarações “pessimistas” do presidente do Fed, diz o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik. “Ele admitiu que a contração da economia norte-americana no segundo trimestre deverá ser a maior da história”, diz.

“Powell desenhou um quadro para a recuperação da economia de lá bastante preocupante. No curto prazo, enxerga fragilidade e no longo, o risco de a lenta recuperação aprofundar a desigualdade. Depois do anúncio feito pelo Fed ontem [de compra de títulos corporativos para melhorar a liquidez de mercado] ter tido o efeito animador visto sobre os ativos, a fala resignada de Powell também refletiu no preço”, avaliam os analistas do banco Fator.

Em meio às declarações de Powell em audiência no senado dos Estados Unidos, a notícia de que a China deverá fechar escolas nesta semana em Pequim como resposta para o crescimento do novo de casos de covid-19 na cidade, o que eleva os temores do mercado a respeito de uma segunda onda de contaminação pela doença no país asiático.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, destaca o viés de cautela no mercado doméstico antes da decisão do Comitê de PolíticaMonetária (Copom) amanhã sobre a taxa básica de juros (Selic) no qual é unânime a aposta de corte de 0,75 ponto percentual (pp), indo a 2,25% ao ano, de acordo com o levantamento do Termômetro CMA.

Para a economista, visto os dados recentes de atividade e o espaço entre amanhã e a próxima reunião do Copom, na primeira semana de agosto, investidores devem ficar atentos ao comunicado à espera de sinais se a autoridade monetária seguirá com o afrouxamento monetário.

“Os dados de atividade têm elevado a pressão para a Selic seguir caindo após a reunião de amanhã. Até agosto, há muita coisa para acontecer e tem uma certa apreensão com esse comunicado”, diz.