São Paulo – O pregão da B3 operou todo o dia com volatilidade empurrado pelo vencimento de opções e impacto da pandemia com a expectativa da troca de ministro na pasta da Saúde. Na abertura dos negócios, o principal índice da Bolsa paulista recuou, depois reverteu o movimento acompanhando as bolsas em Nova York, voltou a cair e se recuperou com ligeira alta. O Ibovespa fechou com ganho 0,60%, aos 114.850,74 pontos
O exercício de opções sobre as ações de hoje movimentou R$17,514 bilhões no segmento Bovespa, o que representou alta de 3,63%, em comparação ao exercício anterior. O contrato com maior movimentação foi o contrato de opções de compra das ações da Vale ON (VALE3) a R$ 89,60 por ação, que movimentou R$ 777,943 milhões. Em seguida, foi a vez do contrato de opções de venda no fundo de índice BOVA11 a R$ 112,00 por cota, com volume de R$ 507,513 milhões.
As notícias em relação à saúde permaneceram todo o dia no radar do mercado, afirmaram analistas da Ativa Investimentos. O crescente número de óbitos e de casos de Covid-19 preocupam os investidores. Desde o fim de semana circula a informação de que o general Eduardo Pazuello deixaria o comando do Ministério da Saúde devido ao agravamento da pandemia, com recorde de óbitos e novos casos a cada dia. O presidente Jair Bolsonaro avalia nomes para ocupar a pasta. A médica cardiologista Ludhmila Hajjar cotada para assumir o cargo, rejeitou o convite esta manhã.
O quadro preocupante da pandemia, a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio pela Lava Jato na Justiça Federal do Paraná e todo o cenário político incerto geram desconfiança do investidor estrangeiro, afirmou Caio Rodrigues, Head de produtos da Speed Invest. “A insegurança e instabilidade no nosso país promovem a fuga de capital estrangeiro”, concluiu. O investidor também não consegue mensurar o risco país.
As ações das companhias aéreas apresentaram fortes ganhos na Bolsa, GOL (GOLL4) subiram 5,66% e Azul (Azul 4) avançaram 4,74%. Segundo Rodrigues, a alta nos papéis das empresas de aviação indicou que o mercado está prevendo expansão da vacinação em todo o País e que a malha área voltará a funcionar com normalidade mais rapidamente. A Ativa Investimentos apontou que os papéis registraram elevação tanto no Brasil como no exterior devido às informações divulgadas pela Agência de Segurança no Transporte (TSA) de que os aeroportos nos Estados Unidos tiveram o maior tráfego, em um ano, na última sexta-feira. Em relação à Gol, a empresa informou ao mercado que a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Smiles vai discutir a proposta para incorporá-la à companhia. Ainda não foi realizada por falta de quórum.
O dólar comercial fechou em alta de 1,42% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6390 para venda, em sessão volátil e de forte amplitude, refletindo uma cautela local em meio aos rumores de que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, será mais um ministro a deixar a pasta durante a pandemia de covid-19. Lá fora, países da Europa anunciaram que deixarão de usar, temporariamente, a vacina contra a doença produzida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford por preocupações ligadas à formação de coágulos em pessoas imunizadas.
Alemanha, França, Itália e Espanha foram alguns dos países que anunciaram a suspensão da aplicação do medicamento. A notícia fez a divisa estrangeira disparar a R$ 5,65 no início da tarde e levou o Banco Central (BC) a fazer um leilão de venda de dólares no mercado à vista, colocando US$ 1,065 bilhão no mercado. A moeda chegou a cair a R$ 5,60, mas acelerou os ganhos na reta final da sessão.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que a alta da moeda reagiu ao movimento de saída de investidores estrangeiros e da busca por proteção com o mercado preocupado com o “colapso de sistema de saúde” do país, o que levou importantes cidades a decretarem medidas restritivas mais duras para conter o avanço do novo coronavírus.
O chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, reforça que “um conjunto de coisas” sustentou a alta do dólar na sessão, como a “bagunça” no Ministério da Saúde com a possível saída do ministro Pazuello.
“O próximo ministro tem que estar também em linha com o que o presidente Jair Bolsonaro pensa. Sai um e entra outro que defende o que o presidente defende. Estamos no zero a zero”, diz, acrescentando que as notícias relacionadas à vacina da AstraZeneca ajudaram a piorar o cenário doméstico que “já é ruim” desde a abertura. “E essa é uma vacina que o Brasil também estava apostando”, reforça.
Há pouco, Pazuello declarou que Bolsonaro está em tratativas para “reorganizar” o Ministério e fez a ressalva de que não estaria “doente” e nem teria pedido para sair do cargo. “Enquanto isso não for definido, a vida segue normal. Nenhum de nós no nosso Executivo está com problema algum. Nós estamos trabalhando focados na missão. Quando o presidente tomar sua decisão faremos uma transição correta”, disse. O ministro ponderou que o presidente está estudando nomes para a substituição.
Nagem destaca que as atuações do Banco Central (BC) no mercado cambial nos últimos dias, principalmente, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) entre amanhã e quarta-feira, chamam a atenção dos investidores.
“O mercado está se perguntando se não é por causa da reunião. O BC sempre agiu para dar liquidez e agora, parece agir para derrubar a moeda mesmo. Se não fosse a intervenção com leilão à vista hoje, o dólar teria ido a R$ 5,70 porque a liquidez também estava baixa”, ressalta.
Segundo o chefe da mesa de câmbio, há “especulações” em algumas mesas de operações de que talvez a autoridade monetária não promova um corte tão forte da Selic quanto se espera. “Talvez possa ser uma decisão mais branda [“dovish”]. O consenso é de alta de 0,50 ponto percentual [pp]. Há quem diga que pode ser de 0,75 pp, o que poderia ser melhor já que o Boletim Focus surpreendeu ao disparar de 3,98% e 4,60% a projeção para a inflação [ao fim deste ano], mostrando que pode haver uma bolha inflacionária perto de estourar. Esse corte traria um conforto ao mercado”, pondera, dizendo que um possível corte de 0,25 pp poderá trazer uma reação mais forte “de dólar para cima”.
Amanhã, o destaque na agenda de indicadores fica para os dados sobre as vendas no varejo e da produção industrial nos Estados Unidos, em fevereiro. Para o varejo, a previsão é de queda de 0,1%, enquanto para a atividade industrial a projeção é alta de 0,50%. Também começa as reuniões de política monetária do Copom e do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) no qual Nagem, da Terra Investimentos, aposta que o dólar tende a operar à espera das decisões de política monetária na quarta-feira.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, principalmente nos vencimentos curtos e intermediários, em um dia no qual os investidores refletem a cautela que costuma marcar os dias que antecedem a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) sobre os rumos de sua taxa básica de juro, a Selic, em meio ao avanço descontrolado da pandemia pelo Brasil. Já os vencimentos longos terminaram o dia perto da estabilidade.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 4,28%, de 4,22% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,045%, de 5,960%; o DI para janeiro de 2025 fechou estável a 7,40%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,92%, de 7,96%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano ignoraram as perdas do setor de energia para terminarem a primeira sessão da semana em alta, com o Dow Jones e o S&P 500 renovando recorde no fechamento. O Dow Jones subiu quase 200 pontos na sétima sessão positiva seguida – a primeira sequência do tipo desde agosto, enquanto o S&P 500 registrou seu quinto dia consecutivo de ganhos e o Nasdaq foi o que mais avançou percentualmente, com alta de 1%.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,53%, 32.953,46 pontos
Nasdaq Composto: +1,05%, 13.459,70 pontos
S&P 500: +0,64%, 3.968,94 pontos