Bolsa sobe com melhora na relação entre EUA e China

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São Paulo – Apesar de mostrar maior volatilidade perto do fim do pregão, o Ibovespa conseguiu sustentar a alta e subir pela quarta sessão seguida, com ganhos de 0,46%, aos 96.572,10 pontos. O índice segue amparado pela ampla liquidez dos mercados e refletiu a notícia de que a China deve comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos.

Por outro lado, o índice reduziu os ganhos ao longo do dia com o aumento de casos de covid-19 e o anúncio de que a Apple irá fechar lojas em alguns estados norte-americanos em função de novos focos da doença.

Informações de que a China voltará a comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos, como previsto no acordo comercial entre os dois países, animou os mercados pela manhã, que também seguem resilientes em função de medidas de estímulo que estão sendo tomadas por bancos centrais e governos.

“A notícia tirou um pouco do risco e mostra que os dois países estão em linha pelo menos na questão comercial”, disse o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara. Miziara lembra que em relação ao coronavírus, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua criticando a China.

Durante à tarde, no entanto, a Apple informou que fechará temporariamente 11 lojas na Flórida, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Arizona a partir de sábado em função do surto de covid-19 nesses estados. A notícia foi o gatilho para reacender temores de novos impactos negativos nas economias com uma segunda onda da pandemia e fez Wall Street virar para queda, junto com informações de que os casos continuam a subir.

Entre as ações, as maiores altas do índice foram da MRV (MRVE3 5,60%), da RD (RADL3 4,37%) e da Qualicorp (QUAL3 4,11%). Na contramão, as maiores perdas foram da CSN (CSNA3 -3,26%), do Fleury (FLRY3 -3,00%) e do Bradespar (BRAP4 -2,85%).

Na próxima segunda-feira, há pouco indicadores, mas o mercado deve ficar atento a decisão de política monetária da China, na madrugada de domingo. Para analistas, também seguirá no radar o aumento de casos de coronavírus e a cena política local, embora até o momento a prisão do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, tenha tido pouco impacto na Bolsa.

Para o analista do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, apesar da volatilidade poder prosseguir, o índice não deve ficar longo do patamar atual no curto prazo. “Não podemos descartar a volatilidade, ela voltou a aumentar um pouco depois que o Ibovespa atingiu os 97 mil pontos, mas os 95 mil me parecem como sendo um preço justo no curto prazo”, disse.

O dólar comercial fechou em queda de 0,96% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3180 para venda, em mais uma sessão de volatilidade. Uma correção técnica local e o melhor desempenho das moedas de países emergentes levaram a moeda estrangeira a interromper uma sequência de sete altas seguidas.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca a volatilidade da sessão no qual a moeda “operou sem força” na primeira parte dos negócios. “Foi somente na segunda parte da sessão que a divisa realmente definiu sua tendência, com forte recuo e rompendo os R$ 5,30, com o dólar encontrando espaço para uma correção diante das fortes altas das últimas sessões”, comenta.

Na semana, porém, a moeda avançou 5,39% diante do oitavo corte seguido da taxa básica de juros (Selic) no menor piso histórico, a 2,25% ao ano. No comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que deverá promover um ajuste “residual”, possivelmente, na próxima reunião – em agosto – no qual analistas apostam em taxa a 2,00%.

A equipe econômica do Bradesco diz que, por ora, veem manutenção da taxa. “Mas reconhecemos que as próximas decisões de juros serão cada vez mais dependentes dos dados. Ao reduzir a taxa, o Copom apontou que a magnitude de estímulo monetário já implementado parece ser compatível com impactos econômicos da pandemia [do novo coronavírus]. Contudo, o BC não fechou as portas para novas quedas, ainda que tenha sinalizado que um eventual ajuste futuro é incerto e será ‘residual'”, avaliam os economistas do banco.

Na próxima semana, a agenda de indicadores terá dados relevantes como a prévia dos dados da indústria e de serviços dos Estados Unidos em junho, além da terceira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre. Aqui, o destaque fica para a ata do Copom e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). “A ata e o RTI poderão trazer sinais adicionais sobre os próximos passos da Selic”, diz a equipe do Bradesco.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, apesar da agenda, o ambiente político doméstico e a relação entre Estados Unidos e China, “que muda a todo momento”, podem pesar mais na precificação dos ativos. Analistas reforçam que investidores seguirão atentos aos números da covid-19 na China e nos Estados Unidos, o que ainda alimenta o temor de uma segunda onda de contaminação.