Bolsa sobe com rumores de Haddad e Arida para Fazenda e PEC no radar; dólar recua

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São Paulo – Apesar de não ter a referência do mercado norte-americano, a Bolsa fechou em alta em dia de baixa liquidez com os rumores de que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, teria disposição em trabalhar com o ex-presidente do Banco Central, Pérsio Arida, na equipe do governo eleito. A possibilidade de flexibilização e adiamento da PEC da Transição também ajudou no bom humor do mercado.

A queda na curva de juros impacta positivamente nas small caps, como varejistas, empresas de maquininhas de cartão, empresas de serviços. Americanas (AMER3) e Magazine Luiza (MGLU3) subiram respectivamente 11,02% e 6,50%. Meliuz (CASH3) avançou 8,18% e Petz (PETZ3) registrou alta de 5,79%. Na véspera as ações sensíveis a juros tiveram forte queda.

O principal índice da B3 subiu 2,74%, aos 111.831,16 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 3,19%, aos 112.625 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,7 bilhões.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a notícia de uma possível “dobradinha de Fernando Haddad e Pérsio Arida na Fazenda animou o mercado; o nome de Arida trouxe alívio aos investidores em dia sem novidades e adiamento da PEC da Transição”.

Segundo Carlos André, analista-chefe da casa de análise do TC, os comentários do senador Jean Paul Prates de que o governo Lula não será intervencionista na Petrobras, qualquer política da empresa que for mudada será feita de forma gradual, “animou os investidores porque entendem que a estatal não sofrerá mudanças governamentais profundas no curto prazo”. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 3,87% e 3,45%.

Nícolas Merola, analista da Inversa, disse o fator principal para a alta da Bolsa é “a participação e posicionamento do Congresso na PEC da Transição, os rumores sobre a equipe econômica também contribui”.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que cresce a aposta da dobradinha de Haddad e Persio Arida, mas acredita que “o PT está testando o mercado para ver qual seria o limite o mercado já aceito que vai ter um político na Fazenda e a expectativa é apara a ocupação de técnicos nas secretarias”.

Em relação à Petrobras, Komura disse que as ações acabaram melhorando com as declarações do senador Jean Paul Prates (PT-RN) de que não vai haver medida interventiva na estatal. “Esses comentários divergem de tudo que já foi dito até o momento, mas precisamos esperar o Lula entrar nas negociações com o Congresso e ver o que irá acontecer”.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse o mercado se animou com a “possibilidade de o PT aceitar a PEC com validade de dois anos e com um valor abaixo dos R$ 170 bilhões; a curva de juros caiu e impulsionou a Bolsa”.

O head de renda variável da Diagrama Investimentos ressaltou que hoje seria um dia de positivo por aqui se Nova York tivesse aberto por conta da ata do Fed, mas como o volume é baixo a “sensação pode ser falsa”.

Leite também disse que o resultado do IPCA-15 de novembro dentro do consenso-subiu 0,53%-ajuda no cenário final do aperto monetário. “O que vai definir uma possível redução da Selic durante o ano que vem será a condução da política fiscal ainda bem incerta”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,08%, cotado a R$ 5,3110. Além da baixa liquidez causada pelo feriado nos Estados Unidos, os indícios de responsabilidade fiscal do governo Lula (PT) favoreceram o real.

De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, aos poucos vemos sinalizações de que “a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição não vai vir com grandes absurdos”.

“A melhora lá fora é grande. A nossa moeda ficou presa por causa da política, nas últimas semanas ficamos atrás dos nossos pares. Estamos em um pequeno movimento de correçãoo”, avalia Nagem.

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, “a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), ontem, trouxe um tom ligeiramente mais neutro com relação ao futuro da política monetária nos Estados Unidos, sinalizando continuidade no aumento dos juros para os próximos meses sem aumentar o ritmo de ajustes”.

Apesar disso, Quartaroli entende que os movimentos de incertezas fiscais, com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, e a falta de definição da nova equipe econômica não deixa que o real deslanche.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam em queda, com feriado nos EUA e dia de pouca liquidez. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,698% de 13,700% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,310%, de 14,585%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,615%, de 13,945% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,340% de 13,860%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,3180 para venda.

Em razão do feriado de Ação de Graças, não haverá negociação nos mercados de ações e títulos americanos.

Com Paulo Holland e Pedro do Val de Carvalho Gil / Agência CMA.