São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 6,52%, aos 74.072,98 pontos, acompanhando os fortes ganhos das Bolsas norte-americanas diante dos sinais de desaceleração de novos casos de coronavírus em países considerados epicentros da epidemia. Porém, o índice, que chegou a subir mais de 8% mais cedo, desacelerou um pouco os ganhos refletindo rumores de que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, será demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.
“O mercado segue sensível e com qualquer sinal positivo já sobe bastante. Houve uma redução no número de mortes na Espanha e na Itália e isso ajudou”, disse o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa.
Investidores se animaram com o menor ritmo de novos casos e mortes visto em países europeus nos últimos dias. Nos Estados Unidos, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, também afirmou que o país pode estar chegando próximo do pico do surto de coronavírus.
Entre as ações, as de bancos ficaram entre os destaques de alta refletindo medidas anunciadas Conselho Monetário Nacional (CMN) e recomendações positivas, como a do Goldman Sachs, que disse que bancos já precificam uma recessão e elevou Bradesco (BBDC4 9,16%) e Itaú Unibanco (ITUB4 7,21%) de venda para compra.
Analistas destacam que, apesar de o CMN ter proibido bancos de pagarem dividendos acima do mínimo obrigatório, de recomprar ações, entre outras medidas, – que poderiam impactar negativamente sobre os papéis – , no geral, as decisões foram vistas como positivas e visam impedir que a liquidez injetada fique empoçada nas instituições. Os executivos do setor também reagiram bem. Para o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, a decisão é “sensata e compreensível”.
Ainda entre as maiores altas do Ibovespa ficaram as ações da Localiza (RENT3 19,47%), do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI3 16,76%), da B2W (BTOW3 19,73%) e da IRB Brasil (IRBR 18,04%). Na contramão, as únicas quedas do índice foram da Klabin (KLNB11 -0,72%) e da Eletrobras (ELET3 -0,50%; ELET6 -0,44%).
Apesar do otimismo externo e forte alta de bancos, a cena política segue no radar e a notícia do jornal “O Globo” de que Mandetta será demitido ainda hoje ajudou a desacelerar a alta do índice. No entanto, o ministro aparece na lista de ministros convidados para a reunião ministerial convocada por Bolsonaro para hoje às 17h. O presidente já criticou abertamente Mandetta, por divergências quanto a medidas de isolamento social.
“A especulação de que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pode ser demitido nesta tarde contribuiu para que o Ibovespa se afastasse um pouco das máximas da sessão. Assim, o principal índice da B3 inverte a tendência anterior e passou a avançar menos do que Nova York”, o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbertman.
Amanhã, agenda não conta com muitos indicadores relevantes, com destaque para as vendas no varejo de fevereiro no Brasil. No entanto, o economista-chefe da Codepe destaca que o noticiário sobre a pandemia, como o número de casos, deve seguir no foco do mercado ainda e pode trazer volatilidade para os mercados.
O dólar comercial fechou em queda de 0,67% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2910 para venda, interrompendo uma sequência de seis pregões seguidos de alta, reagindo ao bom humor que prevaleceu no exterior em meio ao arrefecimento dos números de casos confirmados e de mortes em países da Europa e nos Estados Unidos ao longo do fim de semana. Apesar de ter ido às mínimas de R$ 5,22, a moeda voltou ao patamar de R$ 5,30 em meio à ruídos políticos.
“Perto do encerramento dos negócios, a notícia não confirmada oficialmente de que o presidente [Jair] Bolsonaro iria demitir ainda hoje o ministro da saúde [Luiz Henrique] Mandetta colocou pressão na moeda e fez com que retornasse para o patamar de R$ 5,30”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.
Ele acrescenta que o tom positivo prevaleceu nos mercados globais e levou o dólar a trabalhar desvalorizado no mundo frente às moedas pares e de países emergentes, o que levou às mínimas sucessivas no patamar de R$ 5,22.
Apesar dos rumores, a saída de Mandetta não foi confirmada. Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o fato é um “ingrediente” adicional de incertezas. “O Mandetta é a figura principal no enfrentamento ao coronavírus no país. Se ele, de fato sair, vai gerar um grande estresse com esse atrito político, uma vez que a gente sabe que a relação entre governo e Congresso não é das melhores”, avalia.
A economista destaca que, caso a notícia seja confirmada, amanhã, “a gente vai ver” um grande ruído no mercado em meio à movimentação política com a demissão que é “desnecessária” no momento, diz.