Bolsa sobe e dólar cai com animação por dados do varejo

1342

São Paulo – A recuperação das vendas do comércio varejista brasileiro animou investidores e fizeram o Ibovespa subir mais do que seus pares no exterior, ao encerrar em alta de 2,05%, aos 99.769,88 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou a 99.972,72 pontos, encostando nos 100 mil pontos, patamar que não é atingido desde o dia 6 de março, quando os mercados começaram a sentir os estragos causados pela pandemia do novo coronavírus.

“Os dados do setor varejista referentes ao mês de maio parecem apontar que abril foi, de fato, o fundo do poço para atividade econômica do setor”, disse o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti Guglielmi, que lembra que o período já contou a com a redução de medidas de isolamento social em algumas cidades.

As vendas do setor registraram alta de 13,9% em maio ante abril, sendo que o mercado previa alta de 5%. Já na comparação com maio de 2019, a queda foi de 7,2%, menor do que a queda de 14,50% esperada.

O economista alerta, porém, que por mais que o avanço em maio aponte para o início de uma recuperação em “V”, este dificilmente será o caso no médio-longo prazo, já que a intensa queda de demanda oriunda das medidas de distanciamento social já reduziu, assim como caiu o nível de renda.

Papéis ligados ao consumo reagiram positivamente aos dados, caso da Natura (NTCO3 6,01%), que fechou entre as maiores valorizações do Ibovespa, ao lado da Braskem (BRKM5 6,30%) e da B3 (B3SE3 6,15%). Na contramão, as maiores quedasdo índice são da CVC (CVCB3 -6,01%), da Marfrig (MRFG3 -2,34%) e do IRB Brasil (IRBR3 -2,10%).

No exterior, por sua vez, as Bolsas norte-americanas fecharam alta com ajuda de ações do setor de tecnologia, como a Apple, mas mostram certa volatilidade com o avanço do coronavírus no radar. Os casos diários nos Estados Unidos alcançaram um novo recorde, avançando 60 mil nas últimas 24 horas, e o total de infectados superou os 3 milhões hoje, o que fez algumas cidades do país frearem reaberturas.

Na agenda de amanhã, investidores devem observar principalmente os índices de preços ao consumidor e ao produtor de junho da China, além dos pedidos de seguro-desemprego norte-americanos. O avanço do coronavírus também continuará sendo monitorado. Embora ainda haja muita incerteza sobre a recuperação da economia em meio à pandemia, isso, no entanto, não deve impedir que o índice possa superar os 100 mil pontos.

O sócio da Critéria Investimentos, Vitor Miziara, destaca que apesar de os casos continuarem crescendo principalmente em alguns estados norte-americanos, o número de hospitalizações e de mortes não cresce no mesmo ritmo, o que pode ser resultado, por exemplo, da evolução do tratamento da doença.

O dólar comercial fechou em queda de 0,64% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3510 para venda, em mais uma sessão de intensa volatilidade, com agenda de indicadores esvaziada e com menor fluxo de notícias, o que levou investidores estrangeiros a buscarem risco. Apesar de ambiente mais positivo no exterior, o mercado calibra a expectativa de recuperação econômica com o número crescente de casos do novo coronavírus nos Estados Unidos.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, comenta que em meio à forte volatilidade da moeda no fim da manhã, houve um movimento de “realização de lucros de investidores comprados em dólar”, o que levou às mínimas da sessão – de R$ 5,31.

“À tarde, porém, voltou a subir com a notícia de que os Estados Unidos renovaram o seu recorde de casos de covid-19”, comenta. Mesmo diante do número crescente de casos nos Estados Unidos, o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, afirmou que o país se prepara para gradualmente acabar com o isolamento social. Os próximos passos seriam a volta das atividades escolares.

Para a equipe econômica do banco Fator, o discurso, contudo, destoa dos dados sanitários do país que superou hoje os 3 milhões de casos confirmados de covid-19. Na reta final da sessão, a divisa norte-americana acelerou as perdas acompanhando o exterior mais positivo para as moedas de países emergentes, enquanto o dólar perdia terreno também para divisas pares.

Amanhã, os ativos podem responder aos índices de preços ao consumidor e de preços ao produtor da China, ambos de junho, que devem mostrar a trajetória de recuperação econômica do país asiático.

Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, os números podem interferir “marginalmente” no movimento da moeda. “Nada muito absurdo. Tem também os pedidos de seguro-desemprego dos Estados Unidos, que devem continuar demonstrando queda. De qualquer forma, vejo uma tendência baixista para a moeda”, diz.