Bolsa sobe e dólar cai com dados positivos da economia brasileira

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São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta de 2,16%, aos 104.723,00 pontos, seguindo o tom mais otimista de Bolsas norte-americanas, que recuperaram perdas de ontem em meio a balanços e expectativas de retomada econômica, apesar do avanço da segunda onda de coronavírus nos Estados Unidos. O dia também foi mais positivo na cena doméstica após o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br, ter vindo mais forte do que o esperado pelo mercado, o que está levando a revisões para cima do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Com a alta de hoje, o Ibovespa fechou a semana com valorização de 3,27%, na segunda semana seguida no campo positivo e acumulando ganhos de 11,46 % em novembro. O volume total negociado hoje foi de R$ 31,8 bilhões.

“Boa parte da alta do Ibovespa é acompanhando o cenário externo, alguns resultados financeiros como o da Disney e da Cisco vieram positivos e o mercado ainda está animado com a perspectiva de uma vacina contra o coronavírus”, disse o gestor de renda variável da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura.

Para o responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, apesar da segunda onda da pandemia e de novos recordes de casos nos Estados Unidos, o cenário futuro ainda deve ser positivo para ativos de risco já que os bancos centrais têm sinalizado que vão continuar a injetar dinheiros nas economias. Ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, alertou que podem ser necessário mais estímulos monetários e fiscal, diante dos riscos trazido pela pandemia.

Komura também destaca que há fatores internos ajudando o Ibovespa subir. É o caso do IBC-Br, que subiu 1,29% em setembro ante agosto, acima da alta de 0,95% esperada pelo mercado, o que faz com que bancos comecem a rever e ajustar projeções de PIB, com o Itaú Unibanco e o Credit Suisse elevando estimativas.

Para a analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, “o mercado começa a recalcular a expectativa para o PIB para cima após o IBC-Br vir acima do esperado, indicando que a economia pode ter uma ‘luzinha’ no fim do túnel, fraca, mas tem”.

Os balanços corporativos locais são outros fatores que têm dado sustentação ao tom otimista, segundo analistas. Entre os papéis que divulgaram balanços melhores neste trimestre estão os da Petrobras (PETR3 2,33%; PETR4 3,28%), que fecharam em alta apesar da queda dos preços do petróleo, e os de bancos, beneficiados ainda de uma perspectiva de melhora da economia doméstica.

Já as maiores altas do Ibovespa foram das ações da Yduqs (YDUQ3 9,75%), do IRB Brasil (IRBR3 7,70%) e do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI3 7,45%). Na contramão, as maiores quedas foram da Multiplan (MULT3 -2,34%), do Magazine Luiza (MGLU3 -1,49%) e do Iguatemi (IGTA3 -1,17%).

Na semana que vem, além de continuar monitorando a pandemia, o gestor da Ouro Preto destaca que investidores devem observar os resultados das eleições municipais e a possibilidade de algum avanço na agenda do Congresso.

O dólar comercial fechou em queda de 0,18% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4740 para venda, em mais uma sessão de forte volatilidade, calibrando o movimento da moeda no exterior e o ambiente de cautela que prevaleceu no mercado doméstico em meio às incertezas com o cenário fiscal e a falta de sinalização do governo federal. Em semana de forte volatilidade, a moeda se valorizou em 1,60%.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, ressalta o movimento volátil da divisa norte-americana que abriu a sessão em queda, acompanhando o desempenho no exterior, chegando a ser cotado abaixo de R$ 5,45 na abertura dos negócios.

Ele acrescenta que a moeda inverteu sinal no fim da manhã e rompeu o nível de R$ 5,50 com investidores “recompondo posições defensivas” em função do risco fiscal do país e o “desconforto” com o aumento da dívida pública.

Analistas comentam que o mercado se mostrou “incomodado” com últimas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao afirmar que, caso o Brasil tenha uma segunda onda de contaminações por covid-19, o auxílio emergencial deverá voltar a ser pago em 2021. Hoje, Guedes afirmou que não haverá aumento de impostos e que é necessário fazer controle dos gastos públicos.

“O teto de gastos é um símbolo, uma bandeira, que acabou virando uma barreira contra a irresponsabilidade e o aumento das finanças públicas”, disse o ministro. Porém, esses analistas questionam como o governo federal vai arcar uma “segunda rodada” de auxílio sem saber qual será o orçamento para o ano que vem e como financiar o benefício sem estourar o teto de gastos.

“A alta do dólar vai junto com a deterioração da perspectiva de encaminhamento do orçamento de 2021, do teto de gastos e de reformas que abram espaço para cumpri-lo”, avalia a equipe econômica do banco Fator.

Na semana que vem, o destaque da agenda de indicadores fica para os dados da produção industrial na China e nos Estados Unidos em outubro, além de discursos da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. A analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, reforça que os cenários político e fiscal devem ficar no radar dos investidores.

“Além do mercado ficar na esteira das notícias sobre o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e do avanço da doença no mundo”, diz. Na política, os analistas do Fator destacam as eleições municipais, no domingo, no qual o resultado pode “ajudar a desenhar as posições” para os embates entre dezembro e janeiro sobre o orçamento para o ano que vem, teto de gastos e as reformas.

Os analistas da Necton Corretora chamam a atenção para o desempenho do DEM, PSDB, MDB e PP que lideram as intenções de voto nas principais capitais brasileiras. “É válido considerar que DEM, MDB e PP compõem o chamado ‘centrão’, bloco político que atualmente atua como base governista”, acrescentam.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram com leves baixas, após oscilar entre margens estreitas e sem rumo ao longo da sessão, marcada pela liquidez reduzida. A indefinição da curva a termo refletiu as preocupações com os impactos econômicos da segunda onda de coronavírus, o que demandaria estímulos adicionais, inclusive no Brasil, apesar do índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) melhor que o esperado.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,34%, de 3,38% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,94%, de 4,98% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,70%, de 6,75%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,46%, de 7,56%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado norte-americano de ações fecharam com mais de 1% de elevação, embalados pelo retorno das apostas dos investidores em setores que se beneficiariam com a descoberta de uma vacina contra a covid-19. Na semana, apenas o Nasdaq acumulou perdas com uma transferência de posição que penalizou o setor de tecnologia.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +1,37%, 29.479,81 pontos

Nasdaq Composto: +1,02%, 11.829,28 pontos

S&P 500: +1,36%, 3.585,15 pontos