Bolsa sobe e dólar cai com investidores digerindo decisões dos BCs

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São Paulo – Após cair mais cedo seguindo o clima no exterior, Ibovespa fechou em leve alta de 0,42%, aos 100.097,83 pontos, amparado por ações de peso, como as da Ambev e siderúrgicas, que subiram em meio a expectativas de recuperação econômica e recomendações. Investidores também seguem buscando ações consideradas mais baratas e fazendo rotações de setores.

Com isso, o índice descolou do cenário externo, onde Bolsas fecharam em queda se ajustando a alertas trazido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ontem. O volume total negociado foi de R$ 21,8 bilhões.

Para o analista de investimentos de investimentos do Banco Daycoval, Enrico Cozzolino, há papéis que estão mais baratos quando se olha para múltiplos e que têm força para impedir a queda do Ibovespa em alguns dias, dado a grande participação que têm no índice. “Papéis como os da Ambev e bancos estão descontados e às vezes investidores saem um pouco de ações de varejo, por exemplo, que já subiram bastante, para comprar esses papéis”, afirmou.

Já o analista da Necton Corretora, Gabriel Machado, acredita que “o Ibovespa está ainda naquele vai não vai” em meio à ausência de grandes novidades. “A decisão do Copom, que poderia ter mexido com os mercados, veio em linha com o esperado, já o Fed pesou no exterior em função do tom mais receoso com a recuperação econômica, mas continua uma rotação entre as ações”, disse.

Ontem, o Fed e o Comitê de Política Monetária (Copom) mantiveram as taxas de juros como o esperado, assim como o Banco da Inglaterra (BoE) e o Banco do Japão (BoJ) hoje, preferindo não fazer novos estímulos por enquanto. Embora tenha mantido os juros inalterados, o presidente do Fed, Jerome Powell alertou que também é necessário maior apoio fiscal do governo para a economia continue a se recuperar.

Entre as ações, as Ambev (ABEV3 4,77%) e de siderúrgicas, como Usiminas (USIM5 5,14%), encerraram entre as maiores altas do Ibovespa. Os papéis da Ambev refletiram notícias sobre o aumento de vendas de cervejas em agosto, enquanto a Usiminas teve sua recomendação elevada “outperform” (equivalente à venda) para “neutral” (equivalente à manutenção) pelo Credit Suisse, que vê a demanda de aço se recuperando melhor do que o esperado, o que também reflete nos papéis de outras siderúrgicas.

Outros papéis como os da Vale (VALE3 1,82%) e da Petrobras (PETR3 2,23%; PETR4 1,93%), que também têm grande participação no índice, mostraram uma melhora ao longo do dia e fecharam com valorizações.

Por outro lado, papéis ligados a saúde, tecnologia e varejo, que tinham subido bastante recentemente, recuaram. As ações da Hapvida (HAPB3 -3,29%), do Grupo NotreDame Intermérdica (GNDI3 -3,00%), da MRV (MRVE3 -2,68%) e da Totvs (TOTS3 -2,67%) mostraram as maiores quedas do índice.

A agenda de amanhã traz poucos indicadores, com destaque para o índice de confiança e o índice de indicadores antecedentes norte-americanos, que podem dar mais detalhes sobe a economia dos Estados Unidos.

Para o analista do Daycoval, faz sentido o Ibovespa continuar rondando em torno dos 100 mil pontos enquanto não há novidades positivas, como novos avanços em torno de reformas e da questão fiscal no Brasil. Já no exterior, destaca que as eleições presidenciais norte-americanas ficarão no radar.

O dólar comercial fechou em queda de 0,15% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2320 para venda – renovando o menor valor de fechamento desde 31 de julho (quando encerrou a R$ 5,2160) – após oscilar forte na segunda parte dos negócios em dia de digestão das decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), do Banco Central brasileiro, Banco da Inglaterra e Banco do Japão.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca que a sessão foi marcada por grande amplitude da taxa de câmbio, no qual operou na máxima próximo aos R$ 5,30 e perto do fim da sessão, renovou mínimas a R$ 5,2290.

“O estresse inicial [da sessão] foi formado, sobretudo, pelo descontentamento dos investidores frente à falta de sinalização de uma política de juros mais ‘frouxa’ pelo Fed, além da contínua evidência de que a pandemia [do novo coronavírus] tende a seguir afetando a saúde econômica global”, avalia.

Ele acrescenta que, no meio da tarde, o dólar passou a perder força no exterior em meio à recuperação de moedas pares como o euro, enquanto um “provável” fluxo leva o dólar a exibir forte oscilação no mercado doméstico, diz o analista da Toro Investimentos, Daniel Herrera.

Os Bancos da Inglaterra (BoE) e do Japão (BoJ) seguiram com as políticas monetárias inalteradas, elevando o mau humor dos investidores em relação às decisões dos bancos centrais. “A preocupação do BoE vai além dos efeitos da pandemia sobre a economia, com o acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia, decorrente do Brexit e previsto para entrar em vigor no próximo mês de janeiro”, acrescenta a equipe econômica do banco Fator.

Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, o analista da Toro acredita que o dólar deverá manter o viés de queda exibido ao longo da semana. “O mercado deve ficar mais parado, mesmo à véspera do fim de semana. E com a agenda vazia, investidores deverão ficar atentos à política local e ao exterior”, observa.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, depois de ensaiarem alta logo na abertura do pregão. O movimento ocorreu após uma oferta menor que o esperado de títulos públicos em leilão do Tesouro Nacional, o que abriu espaço para a devolução de boa parte dos prêmios embutidos recentemente, e se sucede à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper o ciclo de cortes na Selic.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,82%, de 2,89% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,14%, de 4,25% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,02%, de 6,12%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,01%, de 7,12%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda com os papéis das principais empresas de tecnologia voltando a cair após um período de alta.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos por volta de 17h34 (de Brasília):

Dow Jones: -0,47%, 27.901,98 pontos

Nasdaq Composto: -1,27%, 10.910,27 pontos

S&P 500: -0,84%, 3.357,01 pontos