Reunião de Bolsonaro com governadores anima os mercados

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta pelo segundo pregão seguido, com ganhos de 2,09%, aos 83.027,09 pontos, reagindo à reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores, na qual foi defendido que o projeto de auxílio a Estados seja sancionado em breve e com veto ao aumento de salários de servidores públicos. O índice também foi impulsionado pelas fortes altas de ações de bancos, ignorando a queda das Bolsas norte-americanas diante da tensão entre China e Estados Unidos.

Com isso, o Ibovespa voltou a patamares do final de abril, mas sem superar o fechamento do dia 29 de abril, de 83.170,80 pontos. O volume total negociado foi de R$ 27,7 bilhões.

A definição da liberação de ajuda aos Estados, com o possível veto ao aumento de salários de servidores, foi visto como positivo pelo mercado, já que reduz um pouco a pressão fiscal causada pela crise em função do novo coronavírus. O CEO da WM Manhattan, Pedro Henrique Rabelo, ainda destaca que outro bom sinal foi a presença dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados na videoconferência de Bolsonaro com governadores. “Em meio ao caos, parece que teve alguma trégua”, disse.

Entre as ações, as de bancos ficaram entre os destaques de alta hoje e impulsionaram o índice, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 5,37%). Para o diretor de operações da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, as ações de bancos vinham sofrendo um pouco com a possibilidade de mudanças na legislação e aumento de impostos, mas mostraram recuperação na esteira do ânimo trazido pela reunião de Bolsonaro com governadores. “Havia sinalizações de que os bancos iam ter que pagar parte da conta fiscal diante da crise causada pela pandemia, mas esse veto a reajustes é um bom sinal”, disse.

No exterior, as Bolsas norte-americanas, que chegaram a operar em alta refletindo indicadores melhores do que o esperado mais cedo, fecharam em queda com a tensão entre China e Estados Unidos, depois de novas críticas do presidente Donald Trump ao país hoje. Trump disse nesta tarde que o governo norte-americano deve reagir com força ao processo anunciado pela China de aplicar unilateralmente leis de segurança nacional para Hong Kong.

As maiores altas do Ibovespa foram da Cyrela (CYRE3 11,28%), da CCR (CCRO3 11,88%) e da Ecorodovias (ECOR3 9,47%). Entre as maiores quedas, ficaram as ações da Marfrig (MRFG3 -4,13%) e da Suzano (SUZB3 -4,27%), que refletem a queda do dólar hoje, além das ações do IRB Brasil (IRBR3 -6,30%).

Na agenda de amanhã, há poucos indicadores e eventos previstos, mas o Banco Central Europeu (BCE) divulga às 7h30 a ata da reunião de política monetária de abril. Já na cena política, é esperado que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, levante o sigilo do vídeo da reunião ministerial indicada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que o presidente Jair Bolsonaro interferiu na Polícia Federal (PF).

Apesar do cenário político ainda poder trazer volatilidade, o diretor da SRM Asset acredita que o Ibovespa pode seguir uma tendência de alta e conseguirse manter acima dos 80 mil pontos, voltando a negociar em patamares mais elevado.

“Acredito que podemos entrar em tendência de alta, até superando os 90 mil no curto prazo se o cenário externo ficar mais tranquilo. A Bolsa brasileira ficou bem para trás, abaixo de outras Bolsas no exterior e de emergentes, com espaço para se recuperar”, disse.

O dólar comercial fechou em forte queda de 1,82% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5800 para venda, engatando a segunda queda seguida e no menor valor de fechamento desde o início do mês, em dia mais positivo no mercado doméstico refletindo notícias da política e o posicionamento do Banco Central (BC) quanto a valorização cambial.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, reforça que a reunião do presidente Jair Bolsonaro com os governadores transcorreu de “maneira harmônica”, quando ficou pactuado que a contrapartida aos recursos a serem transferidos aos estados e municípios, a título de socorro, será o congelamento dos salários dos servidores até o fim de 2021.

Bolsonaro afirmou aos chefes dos estados que sancionará o pacote de auxílio de R$ 60 bilhões, em breve e com vetos, disse. “A reunião deu uma apaziguada na relação entre Bolsonaro e os governadores, sendo uma sinalização extremamente positiva. Se o presidente não vetar a medida de reajuste salarial dos servidores públicos, teremos uma pressão na moeda pelos impactos fiscais que causará”, comenta o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.

O otimismo local também foi influenciado pelas declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, ontem sobre a disposição da autoridade monetária em aumentar as atuações para dar maior liquidez ao mercado de câmbio, se necessário, destaca Gomes. Falas que levaram investidores locais ao desmonte de posições defensivas e especulativas. “Campos Neto mostrou que nós temos munição para aguentar esse tipo de pressão compradora”, acrescenta Beyruti.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o radar do mercado deverá seguir na política local à espera pela sanção do projeto de auxílio aos estados e municípios, atentos aos vetos, e pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a divulgação do vídeo da reunião ministerial em 22 de abril, no qual Jair Bolsonaro pode ter interferido politicamente na Polícia Federal (PF), como disse o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.