São Paulo – O Ibovespa interrompeu hoje uma sequência de três fechamentos seguidos em queda em um dia no qual uma recuperação parcial dos preços dos papéis da Petrobras manteve o principal índice da B3 no azul apesar do recuo dos mercados de ações lá fora. Outro destaque positivo veio do setor financeiro, que ontem, assim como a Petrobras, registrou forte queda e hoje se recuperou com vigor.
Hoje, as ações da Petrobras apresentaram forte alta desde a abertura, já que a depreciação de mais de 20% na véspera proporcionou um novo e atraente ponto de entrada para os ativos da petrolífera, disseram analistas. Ainda assim, o avanço foi insuficiente para apagar as fortes perdas registradas nos pregões anteriores. Segundo um operador de renda variável, o dia ruim em Nova York, “principalmente na Nasdaq”, e a alta de dos juros de 10 anos por lá seguraram a B3 hoje.
Com isso, um dia depois de ter registrado a maior baixa porcentual desde abril do ano passado, a bolsa brasileira fechou em alta de 2,27%, aos 115.227,46 pontos, perto das máximas do dia. Já o indicador futuro do Ibovespa, com vencimento em abril, avançou na mesma proporção e regressou à faixa dos 115 mil pontos.
De qualquer modo, “é uma boa notícia e que reverte em parte as quedas verificadas desde a semana passada”, observou André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, ao comentar a alta dos ADRs da Petrobras em Nova York ainda antes da abertura da B3. “No entanto, há que se ter cautela durante a semana, afinal o presidente [Jair] Bolsonaro disse que ainda irá fazer mais alterações ao longo dos próximos dias”, adverte ele.
Na semana passada, em meio à queda de braço e a Petrobras em torno da política de preços de combustíveis mantida pela companhia nos últimos anos, o presidente Jair Bolsonaro indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para a presidência de Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco.
O episódio foi interpretado por agentes do mercado financeiro como ingerência governamental na empresa. Além disso, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, considera que a ação do presidente eleva a insegurança econômica no país e seu anúncio sobre algo que “vai acontecer nos próximos dias” na Petrobras piora muito as perspectivas para a companhia.
O dólar comercial fechou em queda de 0,22% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4420 para venda, em sessão de forte volatilidade, influenciado pelo movimento no exterior, onde perdeu valor para as principais moedas de países emergentes. Aqui, após o estresse provocado pela troca de comando na Petrobras pelo presidente Jair Bolsonaro, alguns sinais de avanço na pauta de reformas pela política trouxeram um pouco de alívio aos ativos locais.
“Tivemos um dia de leve recuperação no dólar, após a forte alta na véspera [quando a moeda chegou a operar a R$ 5,53]. Essa recuperação vem do aumento da expectativa de alta da taxa Selic após esse risco político vindo com a ingerência na Petrobras. Como gerou uma pressão na curva de juros, essa expectativa de alta da taxa de juros ganha força”, comenta o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz.
Lá fora, em meio à alta dos títulos de dívida do governo norte-americano, as treasuries – com o título de 10 anos operando no maior nível em 12 meses, entre 1,35% e 1,40% – o mercado reagiu às falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sobre inflação em uma audiência no Congresso.
O gerente da mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca que a moeda estrangeira acelerou as perdas após Powell ressaltar que será “apropriado” manter a taxa de juros próximo de zero por um longo período. “Além de afirmar que o Fed está fortemente comprometido com os objetivos de máximo emprego e de inflação”, acrescenta.
Aqui, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, voltou a reforçar que a prioridade na agenda de votações na Casa está nas pautas reformistas nos primeiros meses deste ano. Após prometer que os trâmites da reforma administrativa começam no próximo mês, o parlamentar levantou a possibilidade da reforma tributária ser entregue até setembro ou outubro deste ano. Ontem, em tom de promessa, ele disse que a PEC Emergencial deverá ser votada no Senadona quinta-feira. Enquanto o Orçamento de 2021 deverá ser aprovado ainda em março.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais esvaziada, Ortiz ressalta que o mercado deverá ficar atento ao resultado da prévia da inflação oficial do país (IPCA-15) neste mês, com o mercado apostando em alta de 0,46% na comparação com janeiro, segundo levantamento feito pela Agência CMA.
O economista da Guide acrescenta que o patamar elevado das treasuries nos Estados Unidos devem seguir “colocando” movimentos de pressão no dólar. “Além disso, o mercado segue monitorando os desdobramentos políticos por aqui”, diz.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, devolvendo parte dos prêmios embutidos ontem, após passar boa parte da manhã com oscilações estreitas. O movimento acompanhou a recuperação dos demais mercados domésticos e ocorreu apesar do mal-estar na cena política, com o intervencionismo do governo e as tratativas fiscais no Congresso calibrando as expectativas em relação a Selic.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 3,465%, de 3,53% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,190%, de 5,325% após o ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,81%, de 6,92% na véspera; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,50%, de7,57%, na mesma comparação.
O Dow Jones e o S&P 500 terminaram o dia em alta, depois que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, afastou as chances de um aumento iminente da taxa básica, aliviando tensões sobre o aumento dos juros no mercado de dívida. A exceção foi o Nasdaq, que reduziu as perdas com a recuperação as ações de tecnologia, mas ainda assim fechou o dia em baixa.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,05%, 31.537,35 pontos
Nasdaq Composto: -0,50%, 13.465,20 pontos
S&P 500: +0,12%, 3.881,37 pontos