São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta de 0,76%, aos 107.248,63 pontos, – no maior nível de fechamento desde o dia 21 de fevereiro (113.681,42 pontos) – puxado por ações como as da Vale e da Petrobras, que têm grande peso no índice e estão voltando a atrair investidores estrangeiros. Com o maior fluxo de investimentos, o volume total negociado foi de R$ 35,2 bilhões.
Pela manhã, o Ibovespa chegou a operar em queda seguindo a cautela vista nos mercados acionários no exterior em função do avanço da segunda onda de covid-19, embora ainda permaneçam expectativas positivas sobre uma vacina.
“Estamos de olho na entrada de estrangeiros, desde a semana passada. A tendência é que eles se posicionem em ativos com maiores pesos no Ibovespa, como Petrobras e Vale”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila. Analistas têm chamado a atenção para a possível volta de investidores estrangeiros à Bolsa brasileira, com o saldo dos investimentos de fora voltando a ficar positivo nas últimas semanas, o que pode também estar impulsionando o volume negociado.
Para o economista e CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa, passada as eleições nos Estados Unido e com as boas perspectivas de vacina, “os estrangeiros resolvem ‘rotar’ os portfólios para cíclicos e valor, buscando os setores e ações mais expostos a reabertura econômica e cujos valuations estavam atrativos”.
“O cenário externo e a cabeça do investidor global sempre será importante na dinâmica dos ativos locais. Temas globais também chegam aqui no Brasil”, disse ainda, por meio de seu perfil no Twitter.
No caso da Vale (VALE3 3,15%), que ficou entre as maiores altas do Ibovespa, o dia ainda foi de alta dos preços do minério de ferro na China e de audiência na Justiça de Minas Gerais sobre indenizações do caso do rompimento da barragem de Brumadinho. “O mercado acha que um acordo finalmente pode destravar valor para os papéis da empresa”, disse Chinchila.
Os papéis da Petrobras (PETR3 1,12%; PETR4 1,71%) também ganharam força ao longo do pregão. Investidores ficaram de olho no início da reunião do comitê ministerial da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, que se absteve de fazer qualquer recomendação sobre o acordo que limita a produção do grupo. Os novos níveis de oferta de petróleo só devem ser conhecidos nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro.
O dólar comercial fechou em forte queda de 1,91% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3320 para venda, no menor valor de fechamento desde 17 de setembro – quando encerrou a R$ 5,2320 – influenciado pelo bom humor local que reagiu à operação do Banco Central (BC) que vai rolar R$ 11,8 bilhões em swap cambial tradicional. O fluxo de entrada de recursos estrangeiros na bolsa brasileira também corroborou para a queda da moeda.
“A queda foi apoiada na decisão do BC quanto ao suprimento de liquidez ao mercado e assim, calibrar uma eventual disfuncionalidade por demanda excessiva no mercado cambial com a proximidade do fim do ano. Além dos vencimentos dos contratos em 4 de janeiro”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Ele acrescenta que os anúncios da Vale e da Suzano de novas captações de no exterior corroboraram para o enfraquecimento do dólar no mercado local, além da entrada de um novo fluxo de recursos estrangeiros na B3.
No meio da tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, declarou que o aumento expressivo de casos de covid-19 nos Estados Unidos representa um risco para a economia nos próximos meses e que ainda é cedo para dizer como o progresso em relação a uma vacina influencia nas perspectivas. O discurso de Powell chegou a reduzir as perdas da moeda.
“Estamos vendo novos casos e o aumento de hospitalizações. Os estados começaram a impor algumas restrições de atividades. A preocupação é que as pessoas percam a confiança nos esforços para controlar a pandemia e sem confiança não há como fazer com que as pessoas e empresas retomem as atividades”, disse o presidente do Fed.
Para a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, o cenário global é de busca por risco sustentado pelas notícias de andamento nos testes de vacina contra o novo coronavírus. Ontem, o destaque foi a notícia sobre a eficácia de 94% dos testes da vacina da Moderna.
“Estamos vendo um avanço nas vacinas e o apetite ao risco aumentando, e com isso, investidores estão buscando os mercados emergentes e o Brasil, o que justifica o retorno de investimento estrangeiro aqui”, diz.
Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, Brum reforça que o mercado deverá ficar a mercê do movimento local e de notícias sobre o avanço da segunda onda de contaminação da covid-19 nos Estados Unidos e na Europa e, principalmente, com o mercado atento às notícias sobre o desenvolvimento de vacinas.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, acompanhando o sinal negativo exibido pelo dólar, que é cotado abaixo de R$ 5,35. Porém, a expectativa por novidades sobre a questão fiscal limitou o ímpeto da retirada de prêmios, mas o movimento também recebeu tração de declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a inflação.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,25%, de 3,29% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,85%, de 4,89% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,64%, de 6,69%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,42%, de 7,47%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano não resistiram à pressão de dados que sinalizaram que a economia começa a sentir os efeitos do aumento de casos de covid-19, e terminaram o dia em baixa. A fraca performance do setor farmacêutico também pesou negativamente sobre Wall Street.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,56%, 29.783,35 pontos
Nasdaq Composto: -0,21%, 11.899,34 pontos
S&P 500: -0,47%, 3.609,53 pontos