Bolsa sobe em dia volátil e dólar cai com conflito entre fatores externos e internos

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta pelo segundo dia consecutivo ao término de uma sessão extremamente volátil durante a qual predominou o conflito entre fatores internos e externos.

O índice abriu no azul em um dia no qual as bolsas de valores da Europa e dos Estados Unidos inicialmente exibiam uma leve valorização diante das indicações de que a abundante liquidez que movimenta os mercados financeiros não sairá de cena tão cedo. Mas uma virada no humor externo apagou a alta na bolsa brasileira e o Ibovespa passou a oscilar perto da estabilidade perto do meio-dia. No início da tarde, a bolsa ensaiou uma leve alta graças a fatores locais, mas ignorou uma melhora posterior no ambiente em Wall Street.

Sem fôlego para ir muito além, o Ibovespa fechou em alta de 0,38%, aos 115.667,78 pontos, enquanto o indicador futuro também oscilou perto da estabilidade ao longo do dia, permanecendo na faixa dos 115 mil pontos.

Desde antes da abertura, analistas advertiam para a possibilidade de um pregão volátil diante das sinalizações erráticas do governo brasileiro em relação às empresas estatais de capital aberto. Ontem, dias depois de anunciar a intenção de substituir Roberto Castello Branco pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna na presidência de Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro resolveu acenar aos mercados financeiros com a promessa de privatizações no setor elétrico.

Se a interferência governamental na Petrobras caiu como uma bomba sobre os papéis da companhia, a sinalização de privatizações está sendo bem recebida. As ações da Eletrobras figuraram entre as maiores altas do Ibovespa depois de a empresa ter sido notificada ontem sobre a edição de medida provisória que trata do processo de privatização da companhia.

Enquanto isso, as ações da Gerdau e da WEG também reagiram positivamente a seus respectivos resultados trimestrais. Vale lembrar que a Petrobras divulgará o balanço do quarto trimestre de 2020, bem como o resultado acumulado do ano passado, depois do fechamento do pregão de hoje.

Ao mesmo tempo, alguns riscos locais continuam à espreita. O ritmo lento da vacinação e o desrespeito cotidiano às medidas de isolamento, por exemplo, fazem com que o Brasil permaneça como um dos piores focos restantes de avanço alarmante da pandemia pelo mundo, o que deve retardar as perspectivas de recuperação da economia nacional.

Dan Kawa, sócio-diretor da TAG Investimentos, acredita que o mercado local tende a se normalizar aos poucos mesmo diante da ausência de mudanças mais relevantes na política econômica. “Deveremos conviver com outros episódios como este da Petrobras, que geram volatilidade e ruídos e, infelizmente, são normais no Brasil”, acredita ele.

Com isso, enfatiza Kawa, “o foco deveria voltar ao preço, valuation e risco versus retorno dos ativos locais, cuja queda recente parece ter aberto oportunidades de alocação ou rotação de portfólios”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,34% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4230 para venda, em dia misto no exterior em meio à oscilação das moedas de países emergentes com o avanço dos juros dos títulos de dívida do governo dos Estados Unidos, as treasuries, em que o título com vencimento de 10 anos chegou a operar acima de 1,40%. As falas do presidente do banco central norte-americano aliviaram os ativos, enquanto aqui, o mercado segue atento à política local após o adiamento da votação da PEC Emergencial para a semana que vem.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, reforça que a moeda estrangeira passou parte da sessão fragilizada frente às divisas emergentes diante de sinais de arrefecimento da covid-19 nos Estados Unidos e na Europa. No meio da sessão, porém, a “puxada” das treasuries levaram o dólar a ganhar valor em relação a essas moedas. “Mas o Powell aliviou o mercado de novo”, diz.

Em audiência na Câmara dos Representantes, Powell voltou ao Congresso e reforçou que o Fed deverá seguir com uma política monetária acomodatícia até que a economia dos Estados Unidos exiba melhora.

“Powell ressaltou que o ciclo de valorização das commodities pode trazer uma alta nos preços, resultando em pressão inflacionária. Mas reiterou que o Fed deve seguir com os mecanismos de estímulos até que a economia norte-americana se recupere, o que deve demorar um pouco”, avalia o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli. A preocupação com a inflação tem levado à valorização das taxas da curva de juros norte-americana, com o título de 10 anos no maior nível em um ano.

Aqui, o mercado lidou com o adiamento da votação da PEC Emergencial no Senado, prevista para amanhã. A princípio, a pauta será votada na semana que vem. Em meio ao desgaste político com o evento envolvendo a interferência do presidente Jair Bolsonaro ao indicar um novo nome para o comando da Petrobras, o economista da Nova Futura avalia que a situação da política local piora para a força do governo em relação a outras pautas fiscais.

“Isso porque o governo pode assumir uma postura mais populista, além do fato de que [ministro da Economia] Paulo Guedes ainda não se manifestou quanto ao caso de ingerência na Petrobras, jogando dúvidas no mercado quanto à continuação de suas agendas econômicas e como ficará a sua figura no governo. A percepção é de que Guedes pode estar ficando cada vez mais isolado”, avalia.

Em relação a isso, o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, acrescenta que o cenário político sustenta um dólar pressionado, acima de R$ 5,40, mesmo com o otimismo dos investidores com a possibilidade de privatização da Eletrobras. “É uma sinalização de que o governo não abandonou a agenda liberal após alguns movimentos errados do presidente Bolsonaro”, diz, referindo-se à troca de comando da Petrobras.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais esvaziada, os destaques ficam para segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no último trimestre de 2020 no qual, para Jaconeli, só fará diferença nos ativos caso fique “muito diferente” do observado na primeira leitura, no qual cresceu 4,0% na comparação com o quarto trimestre de 2019.

“De todo modo, o mercado deve ficar atento ao exterior, de olho no movimento das treasuries. Enquanto aqui, algum comentário relacionado à Petrobras e a outras estatais ficam no radar, junto a PEC Emergencial após a votação ser adiada para semana que vem”, finaliza.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, apesar do sinal negativo que prevaleceu no dólar. O trecho curto reagiu ao resultado de fevereiro do IPCA-15, calibrando as expectativas em relação a Selic, ao mesmo tempo em que os investidores avaliaram o ambiente para agenda de reformas e a pauta fiscal no Congresso. Já os vértices mais longos acompanharam o movimento do rendimento (yield) dos títulos dos Estados Unidos (Treasuries), sustentando um ritmo acelerado de colocação de prêmios.

Ao final da sessão regular o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,515%, de 3,465% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,30%, de 5,19% após o ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 7,00%, de 6,81% na véspera; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,69%, de 7,50%, na mesma comparação.

Depois de abrir no vermelho, os principais índices do mercado de ações norte-americano reverteram as perdas para terminar o dia em alta, com recorde do Dow Jones no fechamento, embalados pelo compromisso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) com a manutenção da taxa de juros perto de zero e com a política de compra de ativos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +1,35%, 31.961,86 pontos

Nasdaq Composto: +0,99%, 13.598,00 pontos

S&P 500: +1,13%, 3.925,43 pontos