São Paulo – Após três pregões seguidos de perdas, o Ibovespa fechou em alta de 1,59%, aos 79.010,81 pontos, refletindo a melhora das Bolsas norte-americanas e de ações de bancos. O dia foi de volatilidade, com investidores buscando recuperar as perdas vistas pela manhã, quando a aversão ao risco predominava diante de declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de dados piores do que o previsto de pedidos de seguro-desemprego.
O diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, destacou que o noticiário e declarações vistas nos Estados Unidos pesaram negativamente nos mercados mais cedo, mas depois os índices norte-americanos tiveram “um respiro”, que foi acompanhado pelo Ibovespa, já que preocupações com a cena política doméstica arrefeceram hoje.
“Vamos depender do cenário lá fora, mas a perspectiva pode melhorar, podemos começar a ter uma dinâmica mais segura”, disse, vendo possibilidade de o respiro visto hoje no fim do dia se manter nos próximos dias.
Pela manhã, Trump disse que está muito desapontado com a China, reiterando acusações de que o governo chinês poderia ter impedido a disseminação do novo coronavírus e que já sabia do vírus quando o acordo comercial foi fechado entre os dois países.
Já na cena doméstica, os papéis de bancos também mostraram melhora ao longo do pregão e aceleraram ganhos no fim do dia, acompanhando seus pares no mercado norte-americano. É o caso das ações do Itaú Unibanco (ITUB3 4,49%) e do Bradesco (BBDC4 5,66%), que têm grande peso no índice.
As maiores altas do Ibovespa, por sua vez, foram da CSN (CSNA3 11,70%), da Eletrobras (ELET3 10,19%) e da Ultrapar (UGPA3 10,16%). A Ultrapar divulgou um balanço trimestral melhor do que o esperado pelo mercado. Na contramão, as maiores perdas do índice foram da SulAmerica (SULA11 -6,58%) e da Azul (AZUL4 -5,12%), que refletiram balanços mais fracos, e da Suzano (SUZB3 -5,71%), que é exportadora e sentiu a volatilidade do dólar hoje, que acabou fechando em queda.
Amanhã, investidores devem ficar de olho em uma série de indicadores que são divulgados nos Estados Unidos, como os dados de produção industrial e vendas no varejo de abril, que pode dar mais sinais sobre o impacto da pandemia na atividade. Já no Brasil, será conhecido o índice de atividade econômica (IBC-Br) referentes a março. A temporada de balanços e a cena política local também devem continuar no radar.
O dólar comercial fechou em queda de 1,37% no mercado à vista, cotado a R$ 5,8230 para venda, em sessão de forte volatilidade no qual a moeda chegou a renovar a máxima histórica intraday a R$ 5,9730 acompanhando o mau humor que prevaleceu no exterior ao longo da manhã. As atuações do Banco Central (BC) no mercado futuro e à vista levaram a moeda a renovar mínimas na sessão. Com isso, a moeda interrompe uma sequência de três altas seguidas.
O gerente da mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, ressalta o movimento volátil da moeda que iniciou o pregão em alta influenciado pela persistente cautela global, após as sinalizações pessimistas de ontem do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e por dados ruins divulgados dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos que vieram acima do esperado.
No fim da manhã, o BC atuou no mercado de forma robusta com a oferta de US$ 1,0 bilhão com a operação de swap cambial tradicional – equivalente a venda de dólares no mercado futuro – o que levou a moeda a atuar abaixo de R$ 5,90. Perto do fim do pregão, a autoridade monetária anunciou um leilão surpresa de venda de dólares no mercado à vista, no qual foram tomados US$ 520,0 milhões. O que ampliou as perdas da moeda nas mínimas da sessão, a R$ 5,80.
“O mercado estava pedindo uma intervenção do BC. E quando a moeda estava para beliscar os R$ 6,00, eles entraram com leilões mais pesados. Isso pode ter criado uma resistência para furar esse patamar. Mas se for preciso romper, o dólar vai romper os R$ 6,00”, destaca a economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
Ela acrescenta que o real exibe uma volatilidade acima do normal em relação às outras moedas. O diretor de uma corretora estrangeira diz que a moeda local foi a que mais oscilou na sessão.
Amanhã, o mercado deverá reagir aos dados de abril da produção industrial da China e de vendas no varejo, que saem hoje à noite. Nos Estados Unidos, também saem os números da produção industrial norte-americana. Consorte destaca que o viés da moeda segue de valorização e forte volatilidade.
“Aqui, o mercado vê o Brasil piorar os números relacionados à pandemia e enquanto a Europa começa colocar o pé para fora, São Paulo que detém boa parte do PIB [Produto Interno Bruto] do país, começa a falar de lockdown”, reforça.