Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira
São Paulo – Após mostrar cautela à espera da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o índice voltou a subir depois de dois dias de queda e encerrou com ganhos de 0,26%, aos 110.963,87 pontos, já que a autoridade monetária não trouxe novidades ao manter a taxa de juros inalterada e sinalizar que ela pode permanecer estável por mais tempo. A expectativa, agora, fica pela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O volume total negociado foi de R$ 18,7 bilhões.
Para o sócio-gestor da TAG Investimentos, Dan Kawa, o Fed não trouxe surpresas. “O comunicado sinaliza juros estáveis no horizonte relevante de tempo, exceto por um desvio substancial de cenário”, disse ainda.
Já para o diretor de operações da Mirae Asset Corretora, Pablo Spyer, o índice teve uma reação natural e o cenário segue positivo, como risco-país, por exemplo, permanecendo em queda. “O Fed foi totalmente esperado, ninguém achava nada diferente”, disse, lembrando que é preciso ver, agora, como será a decisão do Copom. É esperado que o Copom faça mais um corte de 0,50 ponto percentual da Selic, mas possa sinalizar uma parada no ciclo de queda.
Entre as ações, as de bancos, que chegaram em subir mais cedo, fecharam em queda, com destaque para os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,16%). Os papéis do bancos mostraram alguma volatilidade hoje, dia da estreia da XP Inc na Nasdaq, da qual é um dos maiores acionistas. Por outro lado, os papéis da Vale (VALE3 1,40%) ampliaram a alta e ajudaram a manter o Ibovespa no azul.
Já as maiores altas do índice foram das ações do setor de educação, da Yduqs (YDUQ3 3,72%) e da Cogna (COGN3 6,78%), que refletiram uma portaria do Ministério da Educação (MEC) que ampliou a carga horário permitida para ensino à distância (EAD) em cursos de ensino superior. Na contramão, as maiores baixas foram da JBS (JBSS3 -2,73%) e da BRF (BRFS3 -2,45%), que devolveram parte de ganhos recentes.
Amanhã, o Ibovespa pode refletir as sinalizações do Copom, além disso, investidores ficarão atentos a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), às eleições parlamentares no Reino Unido, e a indicadores como os dados de seguro-desemprego nos Estados Unidos. Ainda segue no radar a guerra comercial.
Já o dólar comercial encerrou em queda de 0,65% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1220 para venda, no menor valor de fechamento em pouco mais de um mês, após o Fed manter a taxa de juros e sinalizar que deverá seguir com a taxa inalterada em 2020.
“Tanto o comunicado como as projeções dos dirigentes trouxeram poucas
alterações em relação às divulgações anteriores. Sobre as expectativas para a evolução dos juros em 2020, a maioria absoluta dos dirigentes acredita em estabilidade, em meio a um cenário de baixo desemprego e inflação próxima da meta”, avalia o economista da Tendências Consultoria, Sílvio Campos.
O economista acrescenta que as declarações do presidente do Fed, Jerome
Powell, na coletiva de imprensa reforçaram a mensagem de que a política monetária está bem posicionada, afastando a perspectiva de alterações nos juros por ora.
O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que o viés baixista da moeda no mercado local ao longo da sessão foi influenciado pela oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de uma empresa brasileira de investimentos hoje na Nasdaq, bolsa norte-americana. “O sucesso do IPO da XP Investimentos gera expectativas em torno do ingresso de recursos no país no curto prazo, impactando diretamente no preço do dólar”, diz Gomes.
Amanhã, o mercado deverá digerir e precificar não apenas a sinalização do Fed para a política monetária, ao menos para o início de 2020. “O recado do banco central norte-americano foi claramente de estabilidade da política
monetária por um bom período. Para o dólar, ao reduzir substancialmente o risco de alta dos juros em 2020, o sinal emitido é de menor espaço para a valorização da moeda, mesmo que ela permaneça fortalecida em termos globais”, diz Campos.