Bolsa vira no final e sobe, enquanto dólar fecha em queda

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São Paulo – Após operar em queda na maior parte do dia, o Ibovespa anulou perdas refletindo as declarações do presidente norte-americano Donald Trump sobre a China e fechou em alta de 0,52%, aos 87.402,59 pontos. Investidores avaliaram que o discurso foi mais suave do que esperado, sem sanções à China ou comentários duros sobre o acordo comercial, o que era temido pelo mercado. O volume total negociado hoje foi de R$ 40,9 bilhões.

Com a alta de hoje, o índice encerrou a semana com valorização de 6,36% e o mês de maio em alta de 8,57%. Trata-se do segundo mês seguido de ganhos, já que o Ibovespa também subiu em abril (10,25%), recuperando parte do tombo visto em março (-29,90%) com a crise causada pela pandemia do novo coronavírus. No acumulado do ano, porém, o Ibovespa ainda acumula queda de 24,42%.

“A coletiva de imprensa do Trump foi um pouco um anticlímax, ele voltou a criticar a China, mas não falou de estabelecer tarifas, que pudessem estragar o acordo comercial. Todos os mercados melhoraram e agora vida que segue, vamos ter que olhar e como vão ficar as coisas aqui dentro”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

Trump anunciou medidas como a revisão de vistos para alguns estudantes chineses, que acusou de espionagem, além de afirmar que vai analisar práticas de companhias chinesas no mercado financeiro. Ele também disse que vai revisar o status de viagem para Hong Kong e eliminar o tratamento especial para a região, depois que a China impôs uma nova lei de segurança, que acusou de acabar com a autonomia do território. Porém, evitou sanções econômicas.

Entre as ações, as maiores altas foram de mineradoras e siderúrgicas, que seguem se recuperando depois de fortes quedas e refletiram a alta dos preços do minério de ferro hoje, com o contrato mais negociado na Bolsa chinesa de Dalian subindo 3,18% a US$ 101,98/t. Se destacaram os papéis da CSN (CSNA3 7,59%), Bradespar (BRAP4 4,50%) e Vale (VALE3 5,41%).

Ao lado desses papéis ainda aparecem as ações da Embraer (EMBR3 3,58%), que chegaram a subir mais de 16% mais cedo, após uma reportagem da agência “Reuters” afirmar que há outras empresas estrangeiras interessadas na companhia depois que o acordo com a Boeing foi desfeito, entre elas chinesas.

Na contramão, as de bancos tiveram um dia mais negativo, caso do Bradesco (BBDC4 -0,47%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,115). Já as maiores perdas do Ibovespa foram das ações da Braskem (BRKM5 -4,24%), da MRV (MRVE3 -3,36%) e da Cyrela (CYRE3 -3,14%).

A cena política local também trouxe cautela para os mercados mais cedo, já que o presidente Jair Bolsonaro manteve um discurso agressivo e de críticasao Supremo Tribunal Federal (STF) após a operação deflagrada sobre “fake news” nesta semana, que atingiu vários bolsonaristas.

Na próxima segunda-feira, investidores devem ficar atentos a indicadores sobre atividade industrial da China e dos Estados Unidos, além de continuar a acompanhar o andamento da cena política.

Para Bandeira, o discurso de Trump deve favorecer um início de junho positivo na semana que vem, caso não ocorram surpresas negativas no fim de semana. Para ele, há possibilidade de o índice buscar o patamar de 92 mil pontos, que seria um importante nível a ser vencido para ganhar força.

O dólar comercial fechou em queda de 0,90% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3370 para venda, em sessão de forte volatilidade, com investidores apreensivos à espera do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com receio de novas sanções contra a China. Porém, não foram anunciadas novidades contra o país asiático, o que trouxe alívio aos mercados na última sessão do mês, marcada pela forte pressão com a disputa da taxa Ptax no mercado doméstico, além de números ruins da economia brasileira no primeiro trimestre do ano.

“Antes mesmo da coletiva, a notícia de que Trump não desistiria do acordo [comercial] com a China animou os mercados e o dólar acelerou a queda. Após o evento, a moeda renovou mínimas sucessivas”, comenta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

Mais cedo, saíram os dados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro com retração de 1,5% no primeiro trimestre do ano ante o trimestre anterior influenciado pela pandemia do novo coronavírus. Para o economista-chefe da TCP Partners, Ricardo Jacomassi, o segundo semestre deverá reforçar esse impacto, com apostas de ser histórico. “Ainda com a abertura gradual do comércio, temos um alto número de desemprego, impactando o andamento da atividade”, diz.

Na semana, mais positiva para os ativos globais influenciados pela retomada gradual da atividade econômica em algumas regiões da Europa e em parte dos Estados Unidos com o relaxamento das medidas de isolamento social, a moeda caiu 4,26%, na segunda semana seguida de baixa. No mês, marcado por cotações recordes no qual o dólar chegou ao patamar inédito de R$ 5,90, houve queda de 1,83%, sendo o primeiro recuo mensal em 2020.

“Maio alternou entre recordes e alívio nas duas últimas semanas. Além da reabertura da economia na Europa, tivemos um apaziguamento nas tensões políticas, principalmente, entre o presidente [Jair] Bolsonaro e governadores, como também tivemos notícias sobre alguns testes de vacinas [contra a covid-19] que animaram o mercado”, avalia a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli.

Na próxima semana, começo de um novo mês, as atenções se voltam para a retomada da atividade econômica e o fim do isolamento social em países importantes. “O que será um importante vetor para a retomada mesmo que gradual das atividades no mundo. Tem os dados econômicos de atividades de abril e maio, mas que estarão fortemente contaminados pela covid-19”, diz o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, acrescenta que o noticiário político local e “qualquer novidade” sobre a relação entre Estados Unidos e China seguem no radar, com peso na precificação nos ativos.

Sobre a agenda econômica, ela destaca que números ruins já são aguardados, porém, a novidade seria uma melhora em maio, como o relatório do mercado de trabalho norte-americano, o payroll. Aqui, sairão os números da produção industrial em abril, em que analistas do banco UBS apostam que deverá ser “o mergulho mais acentuado” desde o início da série histórica.