São Paulo- A euforia durou pouco, a Bolsa voltou a fechar no negativo e no patamar dos 117 mil pontos, com o mercado cauteloso em relação ao exterior, às vésperas do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos.
A pressão das commodities metálicas, com destaque para a Vale (VALE3), a queda do setor bancário e das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) contribuíram para empurrar o Ibovespa para baixo.
Os papéis da Vale (VALE3) caíram 1,33%. CSN (CSNA3) perdeu 2,28% e Gerdau (GGBR4) cedeu 1,70%. As ações das companhias aéreas também registraram queda, com destaque para Azul (AZUL4) com baixa de 5,30% e Gol (GOLL4) com recuo de 4,56%. No dia 15 de agosto, o conselho de administração da Gol aprovou a emissão de bônus de subscrição de ações e ainda impacta nas ações. No mês, os papéis da Gol caem 21% e da Azul 13%.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) fechou em queda de 0,25% e 0,15%, mas chegou a subir.
O destaque positivo ficou para as ações da Raizen (RAIZ4), que subiram 3,32%. Segundo André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, a alta reflete “a notícia de que a India (maior produtora de açúcar do mundo) vai proibir a exportação de açúcar por conta da falta de chuvas que prejudicou a produção da commodity por lá, portanto o país vai focar no abastecimento do mercado interno. Isso puxou o setor como um todo no mundo. Apesar de estarmos bem abastecidos com nossa colheita, a notícia acabou tendo impacto positivo nas empresas ligadas ao setor como Raizen e São Martinho”.
Os papéis do setor bancário caíram em bloco. Itaú Unibanco (ITBU4) perdeu 1,15% e Bradesco (BBDC3) e BBDC4) recuou 1,99% e 2,40%. Hoje, o banco Itaú Unibanco anunciou a venda de suas operações na Argentina para o Banco Macro, agora como o maior banco privado do país vizinho. A venda foi de R$ 250 milhões e já vinha sendo especulada pela imprensa local.
Segundo Larissa Quaresma, com as perspectivas macroeconômicas da Argentina, “essa pode ter sido a melhor saída possível do país, mesmo com o prejuízo na venda. Ademais, a venda libera foco e recursos para outras operações da América Latina, algumas inclusive maiores do que a da Argentina. Negociando a 1,5 vezes seu valor patrimonial, temos uma recomendação de compra para Itaú Unibanco (ITUB4)”.
O principal índice da B3 caiu 0,93%, aos 117.025,60 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,25%, aos 118.930 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, comentou que o Ibovespa cai com o mau humor externo e ações de peso no índice. ” A Bolsa acelerou as perdas com a piora lá fora, Petrobras está volátil, Vale e bancos caem; com os dados econômicos que saíram mais cedo nos Estados Unidos mostraram o mercado de trabalho pressionado- o número de pedidos de seguro-desemprego semanal caiu para 10 mil solicitações, somando 230 mil- e a economia mais forte, aumenta a cautela com o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, amanhã no simpósio de Jackson Hole”.
Nos Estados Unidos, os pedidos de bens duráveis vieram com queda maior que o esperado pelos analistas. O recuo foi de 5,2% em julho na comparação com o mês anterior, somando US$ 285,9 bilhões, e a estimativa era de baixa de 4,1%. Por lá, a percepção é de que o Fed virá com um discurso mais duro.
Bruna, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, disse que o dia começou positivo, mas o setor das commodities metálicas acaba pesando e lá fora piorou.
“O mercado está cauteloso, principalmente por exterior, e sem gatilho positivo aqui para apetite ao risco, o volume está fraco, e os olhares se voltam para as pautas econômicas no Congresso e monitorando o simpósio de Jacson Hole com as falas de presidentes de bancos centrais (amanhã), o mercado pode calibrar mais as expectativas; nos Estados Unidos, a Nvidia perdeu força e o foco fica para o evento. A Petrobras estava mais animada, chegou a subir 1,5% com o UBS elevando a recomendação de neutro para compra das ações preferenciais e estava segurando o índice, mas passou a cair com cautela no exterior; bancos com tendência de baixa e a notícia da venda das operações do Itaú Unibanco na Argentina foi neutra”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,45%, cotado a R$ 4,8792. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a expectativa com a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), amanhã, no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos.
Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o movimento do câmbio consolida o que foi observado durante a manhã: “Se amanhã for um dia tranquilo, vai continuar este movimento de queda do dólar contra o real”.
Weigt entende que “o real está em linha com as outras moedas, à espera do discurso de amanhã. Tem um pouco de prêmio também”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. Depois de abrir em alta respondendo às incertezas globais, os DI viraram porque os dados de pedidos de bens duráveis nos Estados Unidos avançaram mais que o esperado, mostrando economia resiliente. O mercado segue com a atenção voltada ao simpósio de Jackson Hole.
O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,385 % de 12,405 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,400% de 10,440%, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,965%, de 10,020%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,165% de 10,210% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda acima de 1%, apesar da empolgação em torno dos resultados impressionantes da Nvidia, que não conseguiu impulsionar o mercado em geral. Os investidores aguardam o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,08%, 34.099,42 pontos
Nasdaq Composto: -1,87%, 13.464 pontos
S&P 500: -1,34%, 4.376,31 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA