São Paulo- O Ibovespa voltou a fechar em queda, perdeu os 115 mil pontos, em um dia de aversão ao risco em meio as notícias da China e a preocupação de uma recessão global, a alta dos rendimentos dos treasuries-títulos do Tesouro americano- em uma semana de evento em Jackson Hole-que reúne os principais presidentes dos bancos centrais do mundo, economistas, empresários – e, no doméstico, a atenção fica para o avanço da pauta econômica no Congresso, em especial para a votação do arcabouço fiscal na Câmara.
O banco central da China cortou em 0,10 pp a sua taxa principal de juros, a de um ano (LPR), de 3,55% para 3,45%, a de longo prazo, de cinco anos, foi mantida em 4,20%. Mas o mercado não achou suficiente.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,98% e 0,69%, respectivamente. Bancos caíram em bloco. Vale (VALE3) perdeu 0,03%
O principal índice da B3 caiu 0,85%, aos 114.420,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,75%, aos 114.400 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.
Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest, disse que o Ibovespa voltou a perder tração com a China. “Novas medidas de afrouxamento monetário na China e isso tem efeito de temor de recessão global, as ações de commodities não conseguiram se sustentar no positivo. UBS soltou relatório sobre a China e reduziram as projeções para o setor imobiliário e de crescimento do PIB chinês de 5,2% para 4,8% este ano e, para 2024, de 5,0% para 4,2%, a questão política interna causa um acerto desconforto ao investidor com as pautas fiscais atrasadas, saída do fluxo estrangeiro também reflete na queda do Ibovespa e atenção ao simpósio de Jackson Hole”.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a queda de hoje do Ibovespa está relacionada com os juros nos EUA. “A alta grande dos Treasuries em virtude dos acontecimentos da semana passada, problemas com a China e principalmente Estados Unidos mostrando que a política de juros é bem altista e hawkish”.
Cohen disse que o Ibovespa ainda tem espaço para cair mais. “A Bolsa pode cair pelo menos uns 2 ou 3%, até atingir por volta dos 113 mil pontos; depois, por questão técnica tem chance de voltar a subir. Graficamente estamos numa figura de reversão ou alargamento, é o que chamamos quando rompe lá para cima, como foi quando rompeu agora a máxima do ano no Ibovespa, depois cai, perde as mínimas, depois rompe para cima de novo, stopando todo mundo e fazendo com que o investidor fique totalmente sem saber o que fazer, se é compra ou se é venda”.
Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse a China, expectativa com Jackson Hole e Brasília prejudicam a Bolsa. “A China até deu numa sinalização positiva, mas o mercado não está comprando a ideia de que o país asiático vai entregar crescimento, principalmente por conta da questão imobiliária; o mercado está na expectativa do que o Powell [Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano] vai falar em Jackson Hole, mas não vai sinalizar nada sobre a próxima reunião porque ainda falta um mês [19 e 20 de setembro], mas ele deve esvaziar a expectativa para o início de corte dos juros, principalmente com o crescimento fraco da economia mundial. E os atritos em Brasília, com destaque para a relação entre Lira e Haddad, espera da reforma ministerial, tudo isso causa atraso da pauta do arcabouço. Se no primeiro semestre tinha um ambiente pró-reforma, a gente não está vendo esse cenário de governabilidade do atual governo frente à Câmara”.
Mota ressaltou que o mercado espera na sexta-feira a divulgação do IPCA-15. “É um dado importante, mas se continuar com os atritos em Brasília em relação ao arcabouço, nem mesmo um resultado abaixo do consenso a gente consegue decolar voo”.
Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que o maior problema é o exterior com China e Estados Unidos. “Acho que o mercado está um pouco mais otimista com o arcabouço fiscal esta semana, mas o exterior está bem ruim. Existe temor de que o Powell [Jerome Powell, presidente do banco central norte-americano seja duro em Jackson Hole, e a questão da China é positivo por dar estímulos, mas são insuficientes”.
Um outro analista de investimentos disse que o cenário externo e interno impede a Bolsa de subir. “É um conjunto de fatores-China e o ambiente local – os juros aqui não param de subir”.
Ubirajara da Silva, gestor de renda variável, disse que o mercado fica atento à China, discussões em torno do arcabouço fiscal e Jackson Hole. “A novidade foi o corte de juros na China, em que o mercado esperava um estímulo maior para a recuperação dos mercados, mas mesmo assim as commodities subiram; o atraso da votação do arcabouço fiscal está gerando mau humor somado ao cenário externo, devemos acompanhar o desenrolar de cargos para os ministérios. O mercado fica de olho no Jakson Hole, que começa esta semana, e é muito importante porque o Fed pode sinalizar quais serão os próximos passos que eles [os integrantes] vão tomar na política monetária. O mercado vai ficar à espera desse evento. Os juros de 10 anos voltaram para o patamar de 4,30% ao ano e isso pode gerar um sell-off no mercado”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,21%, cotado a R$ 4,9782. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor com os próximos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e as incertezas que rondam economia da China.
De acordo com o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “o mercado está em compasso de espera pelo que deve vir ao longo da semana. O cenário doméstico contrasta com o global”.
Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “temos visto, hoje, as treasuries (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) subindo, que é um aumento do medo do que pode acontecer nos Estados Unidos, com o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, na próxima sexta. A tendência é de fortalecimento do dólar em curtíssimo prazo”.
Komura avalia que a China não dá sinais de retomada econômica, e que o governo do país asiático tem demonstrado dificuldade em estimular o consumo.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI)fecham em alta, refletindo os treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) e os juros altos também na Europa, em dia de aversão ao risco.
O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,440 % de 12,435% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,595 % de 10,535 %, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,255 %, de 10,125 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,465 % de 10,400 % na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, liderados por ações de tecnologia, mesmo com os juros projetados dos Treasuries atingindo níveis não vistos em mais de uma década.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,11%, 34.463,69 pontos
Nasdaq 100: +1,56%, 13.497,6 pontos
S&P 500: +0,68%, 4.399,77 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA