Bradesco prevê melhores margens no 2S21 e diz que queda em seguros é pontual

O presidente do banco ainda comentou sobre impactos da reforma tributária e preevem mais recompra de ações com fim do JCP

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São Paulo – O Bradesco deve apresentar uma melhora de margens financeiras a partir do segundo semestre refletindo fatores como melhora no mix de operações de crédito e o aumento da taxa básica de juros (Selic), prevê o diretor presidente do banco, Octavio de Lazari Júnior.

“A taxa de juros está subindo e operações cheque especial também estão crescendo e isso tudo leva a uma melhora significativa das margens”, disse Lazari, em coletiva de imprensa de resultados do segundo semestre.

A expectativa do banco é que esse movimento leve as margens ao centro do guidance previsto para o ano a partir do terceiro trimestre.

O Bradesco afirmou que o seu guidance segue adequado para a maioria dos seus indicadores, revisando para baixo somente a previsão do resultado das operações de seguros, previdência e capitalização. Segundo Lazari, a operação de seguros foi fortemente impactada pela pandemia de covid-19 no segundo trimestre, mas é prevista uma melhora, com redução de despesas a partir da segunda metade do ano, conforme os casos de covid e internações recuam.

“Entendemos que o pior já tenha ocorrido no segundo trimestre, com o avanço da vacinação já houve redução de números de internações, que é o que gera gasto muito elevado porque a intenção de covid é distinta da de um procedimento eletivo, com covid não se sabe quanto tempo ela vai durar e se vai evoluir para quadro mais grave, isso dificulta. Mas o avanço da vacinação sugere que o terceiro e quarto trimestres poderão ter custos menores”, afirmou.

Segundo o presidente do banco, apesar do resultado bastante negativo e de aumento de despesas, a operação de seguros também está tendo crescimento de receita, com aumento nas vendas e pessoas mais preocupadas com a saúde. Além disso, citou que a elevação de juros também favorece resultados da seguradora.

O Bradesco reduziu as projeções para o resultado das operações de seguros, previdência e capitalização em 2021, para retração de 15% a 20%, ante previsão anterior de alta de 2% a 6%.

Ainda sobre a elevação da Selic, Lazari afirma que a previsão é que o Banco Central siga com elevações diante da previsão inflacionária, com o clima frio podendo trazer pressão adicional com impacto no preço dos alimentos. No entanto, afirma que o ideal seria que os juros permanecessem baixos para não impactar o endividamento das família.

“É o que temos para hoje, tudo o que aconteceu acabou trazendo pressões inflacionárias, mas o Banco Central tem os instrumentos necessários para debelar a inflação. Era importante que a taxa de juros ficasse mais baixa para
as famílias conseguirem pagar suas dívidas, já que a população passa por um momento difícil, mas é fato que temos pressão inflacionária e isso vai elevar juros”, afirmou.

Porém, Lazari acredita que a elevação da Selic não deve impactar de forma significativa a inadimplência, que segundo ele está bastante baixa.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Em relação à reforma tributária, a expectativa do Bradesco é que a proposta atual do governo impacte negativamente o capital dos bancos em geral, mas afirmam que isso não chega a ser uma preocupação, embora seja observado de perto.

“Vamos continuar esperando e estudando sobre reforma tributária, mas entendemos que estamos em nível de capital bastante tranquilo, temos até sobras”, disse Lazari.

Caso a atual proposta do governo da reforma tributária seja mantida, o Bradesco prevê que terá que reconhecer no seu balanço uma baixa expressiva de crédito tributário em função das mudanças de alíquotas de impostos previstas. Já sobre o fim do pagamento de
juros sobre o capital próprio (JCP), também previsto na proposta de reforma, a previsão é que deve levar o banco a intensificar recompras de ações como nova forma de retorno aos acionistas.

“Cada vez o governo tem uma proposta diferente, mas considerando a última, nós e outros bancos teremos que fazer uma baixa expressiva de crédito tributário no fim do ano. Mas levando em conta todas as mudanças, ainda vemos um efeito positivo para o acionista”, disse o diretor de relações com o mercado do Bradesco, Carlos Firetti, em teleconferência de resultados.

Segundo a diretoria do banco, a questão sobre o fim do JCP provavelmente é uma “batalha já perdida” e deve ser mantida pelo governo, com isso, esperaram intensificar a recompra de ações, o que veem como uma forma de premiar o acionista e uma via de gestão do capital.

Já em relação a possíveis impactos em créditos tributários, o diretor-presidente do banco, Octavio de Lazari Júnior, afirma que o ideal seria que a Receita Federal usasse a mesma regra para reconhecimento de créditos que a usada pelo Banco Central (BC), o que seria menos danoso para os bancos. Segundo a norma atual, toda vez que há uma mudança de alíquota de impostos os
bancos são obrigados a se preparar e reavaliar seus estoques de crédito tributário.

“Tem gente que fala que o crédito tributário é uma jabuticaba brasileira, mas se fosse, seria bom. O que precisava mesmo acontecer é atacar a causa, não o efeito. Se a Receita passasse a adotar a mesma regra do Banco Central para efeito de reconhecimento da PDD, da perda, você pararia de gerar crédito tributário. Vamos ter que reconhecer o crédito querendo ou não, mas se não houvesse essa distorção seria melhor para o mercado como um todo e acaba de vez com esse problema no Brasil”, explicou o executivo.

RETORNO FUNCIONÁRIOS

O executivo ainda afirmou que prevê o retorno de funcionários aos escritórios aos poucos a partir da segunda quinzena de setembro e em outubro, já que preferiram esperar os funcionários tomarem a segunda dose da vacina contra a covid-19.

“Vamos testando cada área e cada departamento, não sei se é o caso de movimento autoritário de exigências, mas de se fazer campanha para conscientizar sobre a vacinação”, afirmou.

IPO DO NEXT

O Bradesco também segue com planos de abrir o capital ou achar um parceiro estratégico para o seu banco digital, o Next, e
para a corretora Ágora, embora não veja um prazo determinado para que isso ocorra.

“Não será em 2022, mas pode ser em 2023, não temos restrição à abertura de capital ou a parceiro, desde que de fato seja parceiro
estratégico”, disse o diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, em teleconferência de analistas sobre resultados. “O mesmo para a Ágora, que tem gestão apartada do banco, são negócios que no futuro poderão fazer parte de fusões e aquisições”, completou.

Segundo Lazari, o Next já foi construído em uma estrutura totalmente apartada do Bradesco com essa intenção e tem mostrado bom desempenho com o crescimento dos canais digitais.

“A gente fez questão de fazer a construção desse banco digital assim para que no futuro, se acharmos que vale, apenas trazer um sócio estratégico ou até abrir o capital dado o valuation que esperamos de bancos digitais. Esse conceito já vem apresentando bons resultados até pelo número de clientes que vem alcançando com novas alavancas. Isso nos leva a crer que vamos chegar não mais a 7 milhões de clientes, mas mais que isso. Vamos estudar a alternativa melhor e ver como vai ser, como vai acontecendo no ano que vem”, afirmou ainda.