Braga Netto eleva tom de defesa do golpe militar de 1964

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São Paulo – O novo ministro da Defesa, Braga Netto, publicou ontem uma nota em que defende o golpe militar de 1964, que mergulhou o Brasil em duas décadas de ditadura. O manifesto veio no mesmo dia em que os comandantes das três Forças Armadas deixaram o posto.

“O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”, disse Braga Netto, acrescentando que foi por meio das Forças Armadas que, naquele ano, interrompeu-se uma “escalada conflitiva”.

“A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia”, disse Netto. “As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, acrescentou.

O ministro também ressaltou a Lei da Anistia, de 1979 – aprovada por um Congresso que ainda estava sob regime ditatorial -, e disse que ela “consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia. Foi uma transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo.”

Netto ressaltou que o atual cenário geopolítico apresenta “novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias” e que as tropas “acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso País”.

APOLOGIA RECORRENTE

Esta não é a primeira vez em que o governo do presidente Jair Bolsonaro se manifesta em defesa do golpe militar, mas é a primeira vez em que fala claramente que o golpe deveria ser comemorado.

Em abril do ano passado, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo publicou uma nota muito semelhante à de Braga Netto.

“Naquele período convulsionado, o ambiente da Guerra Fria penetrava no Brasil. Ingredientes utópicos embalavam sonhos com promessas de igualdades fáceis e liberdades mágicas, engodos que atraíam até os bem-intencionados. As instituições se moveram para sustentar a democracia, diante das pressões de grupos que lutavam pelo poder. As instabilidades e os conflitos recrudesciam e se disseminavam sem controle”, disse Azevedo à época.

“As Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis”, disse ele, acrescentando que o golpe militar – que ele classificou como “movimento de 1964” – era “um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou.”

No primeiro ano de governo, em 2019, Azevedo também publicou nota em defesa do golpe, mas foi muito mais contido nas palavras, manifestando que as Forças Armadas “reconhecem o papel desempenhado por aqueles que, ao se depararem com os desafios próprios da época, agiram conforme os anseios da Nação Brasileira. Mais que isso, reafirmam o compromisso com a liberdade e a democracia, pelas quais têm lutado ao longo da História.”