São Paulo – Em sua teleconferência de resultados, a Braskem disse que vai cumprir seus compromissos em relação ao afundamento de solo em Maceió e que vai colaborar com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em andamento na Câmara dos Deputados. A petroquímica também mostrou uma visão positiva em relação aos negócios, com a expectativa de que a demanda global se estabilize em 2024, após redução da demanda em 2023, com recuperação em 2025 e 2026, mas com a demanda global ainda abaixo dos níveis históricos.
Em 2024, a Braskem deve gastar aproximadamente R$ 2,6 bilhões de R$ 5,2 bi provisionados ao final de 2023 para cumprir as obrigações previstas em Maceió. A empresa também informou ter provisionado R$ 3,8 bilhões no 4T23 para o evento, dos quais R$ 2,4 bilhões foram desembolsados e R$ 1,6 bilhão estão em saldo. No quarto trimestre, houve uma provisão de R$ 1 bilhão adicional, devido a maiores custos com preenchimento de cavidades (R$ 500 milhões), paralisação da operação (R$ 250 milhões) e o restante de custos jurídicos e outros ajustes, detalhou Pedro de Freitas, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Braskem. A companhia ainda deve pagar R$ 1 bilhão à prefeitura de Maceió (AL), de um total de R$ 1,7 bi, dos quais R$ 700 milhões já desembolsados.
Freitas informou que as cavidades em Maceió estão divididas nas categorias preenchimento natural, tamponamento e monitoramento e que, inicialmente, uma avaliação externa indicou que as cavidades estavam estáveis e não fazia sentido preenchê-las. “A recomendação era monitorar e não fazer nada, por que a geologia da região dava esse conforto. Então, aconteceu a cavidade 18, que era um evento de probabilidade remota, mas aconteceu e com isso, mudou a perspecção de risco. Não teve nenhum tipo de ‘enforcement’, falamos com a ANM [Agência Nacional de Mineração], e decidimos alterar o plano. Ainda dentro do grupo de cavidades, tivemos 6 que entraram, outra foi para o grupo de preenchimento natural, que foi a 18, por que ela se autopreencheu. Tem 9 cavidades que foram tamponadas e precisamos instalar um equipamento para confirmar se o trabalho está concluído.”
“Hoje, eliminamos a categoria de monitoramento e precisamos concluir o trabalho de preenchimento, que deve terminar em 2026, e outras 10 cavidades estão em processo de confirmação. Se confirmadas, não há o que fazer”, explicou o diretor da Braskem.
Em seu balanço do 4T23, a companhia informou que, em 2023, firmou o Termo de Acordo Global com o Município de Maceió, que estabelece principalmente (i) o pagamento de indenização, compensação e ressarcimento de danos patrimoniais e extrapatrimoniais ao Município de Maceió; e (ii) a adesão do Município aos termos do Acordo Socioambiental, incluindo o Plano de Ações Sociais (PAS).
Em relação ao desenvolvimento das frentes de trabalho em Maceió, durante 2023 a Braskem permaneceu avançando na frente de Compensação e Realocação e ao final de fevereiro de 2024, o índice de aceitação das propostas foi de 99,4%. O programa de realocação encerrou em 29 de fevereiro de 2024 foi 99,6% executado, sendo que 100% dos moradores da área de criticidade 00 já foram realocados.
Na frente de fechamento e monitoramento das cavidades de sal, sob aprovação da Agência Nacional de Mineração (ANM), a Companhia segue com o Plano de fechamento de suas 35 frentes de lavra e realiza periodicamente a emissão de relatórios sobre a execução do Plano, que atende às normas e recomendações estabelecidas por esta agência. Segundo resultados de análise preliminares, a indicação para a cavidade 18, após o colapso em 10 de dezembro de 2023, é de que não serão necessárias medidas adicionais de preenchimento com areia desta cavidade, sendo considerada no grupo de cavidades de preenchimento natural.
NEGÓCIOS
Atualmente, existem duas diligências em andamento para avaliação da empresa, para possivel aquisição da participação de seus acionistas, uma delas pela Adnoc. “A Petrobras fez a ‘due dilligence’ dela no ano passado. Têm mais dois players fazendo, um deles é a Adnoc, e não temos como controlar o timing deles. Mas pode levar três, quatro meses. Mas nós não sentamos com eles, não temos visibilidade do processo em si”, disse Pedro de Freitas.
A Braskem também mostrou perspectivas positivas para o próximo trimestre em sua operação no Brasil, com retomada da produção após paradas de manutenção no complexo da Bahia e aumento do volume de vendas no mercado doméstico.
Para as operações nos Estados Unidos e Europa, a tendência é de estabilização nas taxas de utilização das plantas no 1T24 e ao longo do ano. Mas a companhia espera aumento nas vendas nessas regiões após períodos de baixa. No México, a empresa também espera estabilização das plantas e concluir a construção do terminal de etano.
Por meio de sua estratégia de criação de valor, a companhioa espera adicionar US$ 1 bilhão até 2030, com atuação em várias frentes, como a expansão de ativos de gás e eteno verde. A empresa também anunciou uma projeção de ebitda de US$ 280 milhões em 2024 com fortalecimento da sua estratégia comercial. No entanto, prevê uma redução de 37% na geração de caixa no ano, para US$ 300 milhões.
Em relação aos spreads, a diretora de RI, Rosana Avolio, disse que houve uma mudança de expectativa em relação ao crescimento da demanda, com o mundo crescendo menos, o que levou à redução dos spreads. “Do fim do ano para cá, vemos que a demanda global está crescendo menos, com menos entrada de capacidade. Então, o consenso da indústria está mais confiante na normalização em 2024. Ainda teremos um ciclo de baixa dos spreads, mas com uma melhora em relação a 2023, com uma tendência de normalização, e em 2025 e 2026, uma expectativa de spreads superiores, mas crescendo menos que a média histórica.”
A companhia também relatou impactos com desvios da rota do Mar Vermelho, que resultaram em maiores fretes e elevação de preços.