São Paulo, 26 de novembro de 2024 – O Grupo Carrefour Brasil informa, em continuidade ao fato relevante divulgado nesta data, que o cronograma de entregas de produtos de carnes bovinas foi retomado e a Companhia espera a normalização do reabastecimento de tais produtos no decorrer dos próximos dias.
No início da manhã desta desta terça-feira, a companhia confirmou que, desde da última quinta-feira (21), as entregas de carne bovina nas lojas da companhia não ocorreram conforme programadas.
“Desde então, experimentamos desabastecimento de alguns cortes de carnes nas lojas da bandeira Atacadão em algumas regiões. Nas lojas do segmento de Varejo e no Sams Club, no momento, o nível de ruptura está dentro do curso normal de negócios. Não houve, até o momento, impacto relevante nas operações de venda de mercadorias, dado o nível de estoque dos produtos”, comentou a companhia.
A empresa informa que, atualmente, carnes bovinas representam menos de 5% das vendas brutas do Grupo Carrefour Brasil, com menor participação relativa na bandeira Atacadão, e com perfil de rentabilidade inferior à média dos negócios.
“Em linha com o divulgado em nosso Formulário de Referência, em termos de abastecimento, nenhum fornecedor individualmente representa mais que 4% das vendas brutas do Grupo Carrefour Brasil, mas, dentro da categoria de carnes bovinas, os principais fornecedores são concentrados. A companhia está avaliando qual o impacto de um eventual desabastecimento de carne bovina no tráfego de clientes como um todo, mas esclarece, desde já, que tal verificação não é linear”, acrescenta a empresa.
“O Grupo Carrefour Brasil trabalha intensamente na resolução da situação junto aos fornecedores e espera a normalização do abastecimento no curto prazo para mitigar impacto aos consumidores. Ademais, reafirma seu compromisso com a transparência e com manter o mercado informado em caso de desenvolvimentos materiais”, conclui.
Para analistas, interrupção do fornecimento de carnes é pior para a varejista
O anúncio do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a comercialização de carnes do Mercosul na França fez com que frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi interrompessem as entregas, impactando 150 lojas no Brasil, incluindo Atacadão e Sams Club. Estima-se que o desabastecimento total possa ocorrer em até três dias, segundo notícias, na segunda-feira (25). Os analistas do mercado financeiro avaliavam que o impacto deveria ser negativo para o Carrefour Brasil, mas não deveria impactar os frigoríficos.
Para a Genial Investimentos, a retaliação dos frigoríficos, apoiada pelo governo brasileiro, reflete poder de barganha em um período sazonal favorável, com baixa dependência da França, que representa 1% das exportações, segundo a análise. “Embora represente um risco de desabastecimento e rupturas no Carrefour, o impacto no fluxo de caixa dos frigoríficos deve ser limitado, enquanto a medida reforça sua posição perante outros clientes e parceiros comerciais”, comenta.
O Bradesco BBI avalia que o evento é negativo para o Carrefour Brasil. “Estimamos que a carne bovina representa cerca de 4-5% das vendas totais da CRFB, um ebitda de baixo dígito e, especialmente, é uma categoria importante no direcionamento de tráfego para varejistas de alimentos. Nesta fase, ainda é muito cedo para avaliar o impacto total do boicote, uma vez que os níveis reais de ruptura de estoques nas lojas Carrefour e a que velocidade poderão aumentar permanecem incertos”, comentam os analistas Pedro Pinto, João Andrade e Lorenzo Marques, do Bradesco BBI.
João Daronco, analista da Suno Research, acredita que a decisão do Carrefour na Europa tem o objetivo de apoiar os produtores franceses e deve impactar as vendas da varejista no Brasil. “Isso cria uma cultura do ‘nós contra eles’. E quem vai sair perdendo é o Carrefour. Difícil saber se isso vai perdurar ou não e quanto tempo vai durar, mas sem dúvida, deve impactar os resultados dos supermercados num curto espaço de tempo. No próximo trimestre, a gente já deve esperar uma queda nas vendas. A parte de ‘frigos’ é relevante para as vendas e uma motivação grande para os consumidores irem às compras”, avalia.
O BTG Pactual pontua que a potencial perturbação surge numa altura em que a inflação alimentar vem ganhando impulso e deverá aumentar a alavancagem operacional da varejista. No segmento cash&carry, em que o grupo opera por meio da rede Atacadão e que é responsável por 70% das vendas do Carrefour Brasil, os analistas estimam que a carne bovina represente 5% das vendas, e as proteínas respondam por cerca de 10% das vendas totais. Eles ressaltam que, além da participação nas vendas totais, este é um item importante para direcionar o tráfego nas lojas.
“Em nossa recente reunião com o CEO do Carrefour Brasil, a empresa mencionou que a inflação reacelerou em setembro, o que já ajudou as vendas naquele mês, efeito que tende a continuar no quarto trimestre (já observado em outubro) e que pode ser afetado por potenciais interrupções no lojas”, comentam.
O BTG observa que, após o terceiro trimestre, os resultados trimestrais recentes do Carrfour Brasil apresentaram vendas decentes, mas uma deterioração na margem bruta e no capital de giro, fazendo com que a alavancagem financeira aumentasse. “E embora esperemos tendências gradualmente melhores nos próximos trimestres, reforçadas pela administração na nossa recente reunião, apoiadas pelos esforços da CRFB para optimizar o seu portfólio de lojas e pela recente recuperação da inflação alimentar (embora ainda não esteja claro se isso poderá afetar o crescimento do volume), a integração/ramp up do Grupo Big e o cenário competitivo no setor varejista alimentar brasileiro significam que os resultados permanecerão sob pressão no curto prazo”, concluem.
A XP estima que a carne bovina represente cerca de 5% das vendas do Carrefour Brasil, mas acredita que o impacto potencial nas vendas do quarto trimestre pode ser maior se uma falta de estoque mais persistente se materializar, uma vez que vê a carne bovina como um importante impulsionador de tráfego nas lojas, já que as proteínas são amplamente consumidas nas cestas dos consumidores (uma em cada quatro cestas contém carne, de acordo com fontes). “Se não for revertido, vemos isso como um obstáculo para a dinâmica de vendas mesmas lojas (SSS) do CRFB, especialmente em um ambiente de inflação alimentar acelerada, principalmente impulsionada pelas proteínas, enquanto isso pode ser um fator positivo para os concorrentes, principalmente ASAI”, estima a XP.
O Goldman Sachs aponta que, de acordo com formulário de referência da empresa, os produtos alimentícios representam 88% das vendas consolidadas. “Se assumissemos que o Carrefour Brasil tinha o mesmo mix de produtos do mercado geral (conforme implícito nos pesos do IPCA), o que implicaria que a carne bovina representaria 12% das vendas totais, enquanto o frango e a carne suína representariam 6% e 2%, respectivamente.
Dito isto, esta estimativa pode ser exagerada dada a relevância dos açougueiros independentes para as vendas globais de carne no Brasil, e o fato de o Atacadão estar abaixo dos índices desta categoria, o que é ilustrado pelo fato de que apenas recentemente começaram a adicionar o serviço de açougue às suas lojas.
Num cenário em que assumimos que 6%-12% do mix de vendas é impactado pela interrupção no fornecimento (em linha com nossa estimativa da relevância da carne bovina/carne para as vendas consolidadas), cada dia de interrupção representaria -0,07%. para -0,13% queda nas estimativas de vendas do 4T, queda de -0,19% a -0,39% no EBITDA e -0,54% a -1,09% de queda no lucro líquido, calculam os analistas do Goldman.
Além disso, os analistas avaliam que a possível falta de produtos poderia levar à diminuição do tráfego de clientes como um todo, assim como das vendas em outras categorias.