São Paulo – O Itaú Unibanco prevê que a carteira de clientes de varejo terá um crescimento menor com desaceleração em veículos, cartões, no seu ‘core business’, em função do nível elevado das taxas de juros. Em pequenas e médias empresas o banco espera uma expansão de dois dígitos e de um dígito em atacado.
“Vamos continuar reciclando carteira e abrir espaço para gerar mais negócios. Não houve reprecificação em relação ao caso específico, que é uma fraude, é um caso específico, nunca vimos algo pareciso”, disse o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy. “Esperamos que a companhia [a Americanas] saia disso, mas não houve nenhuma reprecificação por conta desse caso.”
A carteira de América Latina deverá ser reajustada para reais e terá uma retração.
O CEO do Itaú disse que a carteira de Atacado é muito importante e que uma fraude os modelos do banco não capturam.”Os casos que estão surgindo [de empresas que estão com problema de alavancagem] são monitorados, estamos atentos”, disse, explicando que esses movimentos refletem no aumento do custo de crédito.
A desaceleração do crédito ocorre por queda de demanda, no caso do imobiliário, sazonalidade em algumas linhas. O segmento de cartões tende a reduzir por conta do aumento dos juros e da inadimplência. “Alguns portfólios tem risco mais acentuado, como veículos e mar aberto de crediário, que são mais dependentes de rendas mais baixas”, disse Maluhy.
Em seu balanço do quarto trimestre de 2022, o Itaú reportou alta de 22,7% do custo do crédito ante o intervalo anterior, para R$ 9,8 bilhões, principalmente por conta das maiores despesas nos negócios de atacado no Brasil. “Esse crescimento, ocorreu em função de um evento subsequente relacionado a um caso específico do segmento de grandes empresas que teve impacto de R$ 1,3 bilhão no trimestre em nosso custo de crédito”, disse o Itaú em seu relatório.
O banco também reconheceu em suas demonstrações financeiras os impactos provenientes do evento subsequente a data do fechamento relacionado ao “caso específico de empresa de grande porte que entrou em recuperação judicial”.
A Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa foi reforçada para cobrir 100% da exposição, gerando um impacto de R$ 719 milhões no resultado recorrente gerencial, com a diferença para a exposição total sendo reconhecida na provisão complementar. Excluindo esse efeito, o resultado recorrente gerencial teria atingido R$ 8,4 bilhões e o retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido teria atingido 21,0% no quarto trimestre.
O lucro recorrente gerencial alcançou R$ 7,7 bilhões no quarto trimestre de 2022, com redução trimestral de 5,1%. O retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido foi de 19,3%, mesmo patamar de retorno das operações no Brasil.
Em relação à política econômica do governo de Lula, o CEO do Itaú disse que espera uma redução no barulho sobre juros e que isso afeta a curva de juros. “Por outro lado, o país é democrático, o barulho faz parte, mas a incerteza gerada afeta nossa abordagem. Estamos agindo de forma cautelosa e cuidadosa com o cenário local.”
O executivo disse que a alta dos juros traz oportunidades, mas que o banco prefere operar com taxas de juros mais baixos por que isso aumenta a capacidade de captação e crescimento dos negócios.
O banco espera que ainda vai gerar capital em 2023, mas que está provisionando o risco por que está preocupado com os ratings e com a sua capacidade financiamento.
Em relação ao guidance anunciado, o CEO do Itaú disse que ficará de olho no risco de crédito, mas que espera ter capacidade de aumentar a sua eficência e investimentos. “O custo core, como informamos no guidance, não estará acima de 2%, o que é um ajuste muito relevante para abrir espaço para mais investimentos”, comentou.
O presidente do Itaú disse que o banco decidiu sair de alguns segmentos, como Credicard Pop, que não eram rentáveis e por isso houve uma redução da base de clientes de adquirência, mas que isso resultará em reprecificação da carteira e melhor rentabilidade.
“O GMV do Itaú Shop tem apresentado crescimento relevante e nos ajuda a performar em novos “profit pools”. Também temos trabalhado no atacado em outras iniciativas de “beyond banking”, assim como a parceria com a Totvs, que depende de aprovação, mas nos permite crescer em outros mercados”, acrescentou o executivo na apresentação pública de resultados do quarto trimestre de 2022 realizada nesta manhã.
Projeções do banco para 2023
Junto com os números do quarto trimestre, o Itaú Unibanco divulgou suas projeções para este ano após o fechamento desta segunda-feira (7/2).
O banco projeta um crescimento de carteira de crédito entre 6% e 9%.
A margem financeira com clientes deve crescer entre 13,5% e 16,5%. Já a margem financeira com o mercado deve crescer entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões.
O custo de crédito do banco deve ficar entre R$ 36,5 bilhões e R$ 40,5 bilhões.
Para a receita de prestação de serviços e resultado de seguros, o Itaú projeta crescimento entre 7,5% e 10,5%.
As despesas não decorrentes de juros devem apresentar crescimento entre 5% e 9%, considerando índice de eficiência abaixo de 40% no consolidado e abaixo de 38% no Brasil.
A alíquota efetiva de IR/C do banco deve ficar na faixa de 28,5% e 31,5% em 2023.
O Itaú disse que, atualmente, considera na gestão de seus negócios um custo de capital em torno de 14,5% ao ano.