Cautela com coronavírus faz Bolsa cair e dólar subir

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,93%, aos 115.384,84 pontos, com investidores adotando posições mais cautelosas em meio a incertezas sobre o coronavírus e enquanto digerem as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que afirmou que o surto está no radar da autoridade monetária.

Para o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, ainda há muitas dúvidas sobre o coronavírus e como ele pode impactar a economia chinesa e, consequentemente a economia mundial. “Ainda há um pouco de cautela no exterior, não sabemos direito ainda o quão rápido o vírus se espalha, o nível de contágio e mortalidade. O impacto no PIB chinês também pode estar sendo subestimado, estou mais pessimista”, disse.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que deve decidir amanhã se há emergência internacional em função do surto. A entidade, no entanto, elogiou as medidas que vêm sendo tomadas pela China. Várias empresas também estão se prevenindo, caso de companhias aéreas, como a American Airlines, que estão suspendendo voos para a China. No Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que analisa mais casos suspeitos.

Ainda sobre o vírus, o presidente do Fed citou que está analisando o seu reflexo na economia e na inflação norte-americanas, após a autoridade monetária ter mantido a taxa de juros como o previsto. O mercado esperava ansiosamente algum comentário sobre a questão. Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, porém, o tom do Fed não chegou a ser preocupante, apenas inserindo o tema entre os riscos a serem monitorados.

Powell ainda disse que os ativos norte-americanos estão inflacionados, o que pode sugerir espaço para uma realização de lucros. No Brasil, Bandeira lembra que o dia também foi de declarações de grandes gestores brasileiros, que estiveram em evento em São Paulo, nesse sentido. “Tivemos declarações de gestores importantes dizendo que o mercado está caro, que o Banco Central não deveria reduzir a Selic e que pode até existir uma bolha na Bolsa brasileira”, disse, embora acredite que ainda há espaço para mais um corte dos juros.

Na sua avaliação, embora não concorde com muitas das afirmações, essas opiniões são ouvidas no mercado e podem ter colaborado para o Ibovespa ter ficado mais pesado do que outros índices no exterior.

Entre as ações, as de bancos passaram a cair com mais força nesta tarde. Mesmo os papéis do Santander (SANB11 -1,85%), que subiam após seu o resultado trimestral vir dentro do esperado pelo mercado, passaram a operar no campo negativo. Para o diretor da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, os papéis de bancos seguem sofrendo um pouco no contexto de maior competição com a Caixa Econômica e fintechs, além de, após os dados do Santander, analistas tentarem descobrir como podem vir os próximos resultados.

Já as maiores quedas do Ibovespa foram  das ações da Azul (AZUL4 -4,36%), em meio ao cancelamento de voos para China no exterior, além das ações da Cielo (CIEL3 -4%) e da Ultrapar (UGPA3 -3,71%). Na contramão, as maiores altas foram da MRV (MRVE3 5,57%), da Hypera (HYPE3 5,57%) e da RD (RADL3 2,72%).

Amanhã, além do coronavírus continuar no radar, investidores devem ficar atentos à leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre  dos Estados Unidos e à decisão do banco central inglês.

O dólar comercial fechou em alta de 0,57% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2190 para venda – no maior valor do ano – em pregão de forte volatilidade refletindo a forte aversão ao risco do mercado em meio ao avanço do coronavírus na China e em outros países, além de digerir a decisão de política monetária do Fed.

Com forte oscilação ao longo da sessão, a moeda firmou alta no início da tarde, renovando máximas sucessivas indo a R$ 4,22 em movimento de “recomposição de posições defensivas”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Ele acrescenta que o pano de fundo para a cautela dos investidores é o efeito que o surto do coronavírus pode ter na desaceleração da economia mundial, em especial da China.

Os analistas do Bradesco avaliam que, por ora, parece cedo para estimar qualquer impacto econômico. Porém, a postergação da atividade no país asiático e no mundo preocupa investidores. “Devemos considerar que a paralisação de grande parte das atividades na China e em algumas regiões na Ásia posterga ou suaviza a recuperação esperada para este início de ano”, destacam.

Junto ao receio com o avanço do coronavírus, o destaque na sessão foi a decisão do Fed, com a manutenção da taxa de juros, o que já era esperado pelo mercado. “Não fez preço pois já estava precificada pelos mercados”, ressalta Gomes.

Powell reiterou que o Fed seguirá monitorando o surto do vírus, que começou na China, assim como os seus efeitos na economia global, além de acompanhar os números da economia norte-americana para definir os próximos passos da política monetária no país. Para a equipe econômica da Capital Economics, a doença não deve alterar os planos do banco central, que deverá manter a taxa de juros por um “período prolongado”.

O economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, pondera que, amanhã, o mercado ainda poderá reagir ao comunicado do Fed e às declarações de Powell, além de acompanhar os desdobramentos do coronavírus. “[O vírus] continua gerando incertezas e o mercado fica à mercê do fluxo de notícias sobre o assunto. A volatilidade deve seguir amanhã”, aposta.

Na agenda de indicadores, o destaque é a prévia do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no último trimestre de 2019. Para Beyruti, o crescimento deve ficar em torno de 2,1%. “Acho que um pouco acima do que o mercado espera, mas sem novidades nessa frente encerrando o ano com a economia aquecida”, diz. O mercado também projeta +2,1%.