Cautela pesa nos mercados diante de receio com volta do coronavírus

933

São Paulo – O Ibovespa aprofundou perdas nesta tarde e encerrou em queda de 1,80%, aos 98.289,71 pontos, acompanhando o movimento das Bolsas norte-americanas, que mostraram maior volatilidade em dia de vencimento de uma série de contratos futuros, além de acompanharem notícias negativas sobre a pandemia do novo coronavírus. Dessa forma, o índice encerrou no menor patamar de fechamento desde o dia 7 de julho (97.761,04 pontos). O volume total negociado foi de R$ 29,5 bilhões.

O pregão também foi negativo para os mercados de câmbio e juros, tendo como pano de fundo uma semana de ajustes após decisões de política monetária e a continuidade da preocupação com a situação fiscal doméstica. Apesar da queda de hoje e de voltar aos 98 mil pontos, o índice fechou a semana com perdas de apenas 0,07%, se mantendo em torno dos mesmos patamares de negociação.

“Hoje seguimos mais o exterior, em uma sessão de volatilidade nos Estados Unidos por conta do vencimento de contratos futuros e opções, mas ao longo do dia as ações de tecnologia norte-americanas também voltaram a cair mais, disse o analista de renda variável da Ouro Preto investimentos, Bruno Komura. “Um movimento parecido ocorre também no Brasil, com correções de varejistas online, como Via Varejo e B2W, por exemplo”, completou.

Nesta sexta-feira, ocorreu o vencimento de uma série de contratos de futuros de ações e opções nos Estados Unidos, evento conhecido como “quadruple witching”, o que traz maior volatilidade. Ações como as da Apple e Microsoft também voltaram a pesar negativamente após terem subindo muito desde o início da pandemia.

Ainda no exterior, investidores voltaram a se preocupar com o aumento de casos de coronavírus na Europa, em especial na França e Espanha. Algumas regiões já falam em retorno ao confinamento. Além disso, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) alterou orientações dizendo que pessoas assintomáticas que tenham tido contato com indivíduos infectados com covid-19 devem teste.

Ao longo da semana, os mercados também se ajustaram a decisões de diversos bancos centrais mundiais, com destaque para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Comitê de Política Monetária (Copom), que mantiveram taxas de juros como o previsto, mas alertaram sobre os riscos ainda existentes da retomada econômica. O Fed, por exemplo, reforçou que é necessário o apoio fiscal do governo. Para alguns analistas, como os do banco digital Modalmais, “comunicou mal o que pretende fazer”.

Não bastasse o cenário externo de incertezas, os analistas têm destacado que a cena local ainda é de dúvidas sobre o quadro fiscal, principalmente com o presidente Jair Bolsonaro adotando uma política mais populistas e menos liberal.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da Cielo (CIEL3 -6,57%), das Lojas Renner (LREN3 -4,97%) e do BTG Pactual (BPAC11 -4,96%). Na contramão, fecharam em alta apenas as ações da Suzano (SUZB3 2,10%), que refletiram a alta do dólar por ser exportadora, além do Magazine Luiza (MGLU3 0,06%), que anunciou o desdobramento de ações, e da Raia Drogasil (RADL3 1.28%), que anunciou o pagamento de dividendos.

Na semana que vem, no Brasil, o foco está sobre o Banco Central, que divulgará a ata do Copom na terça-feira e o relatório trimestral de inflação na quinta-feira. A semana ainda contará com o IPCA de setembro. No exterior, estão previstos uma série de indicadores sobre a atividade dos setores industriais e de serviços.

Para Komura, o Ibovespa pode continuar sendo negociado nos mesmos patamares enquanto não houver uma recuperação mais firme e com a ausência de gatilhos positivos para que o índice volte a avançar.

O dólar comercial fechou em forte alta de 2,73% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3750 para venda – na maior alta desde 1 de setembro – em sessão de forte volatilidade e amplitude da moeda que renovou máximas sucessivas na reta final dos negócios a R$ 5,3770 reagindo ao movimento de forte aversão ao risco que prevaleceu no exterior, além de fluxo de saída de moeda estrangeira em dia com poucos negócios no mercado doméstico. Com isso, o real teve um dos piores desempenhos entre as moedas globais na sessão.

“Foi um movimento de forte aversão ao risco e de busca por proteção dos investidores globais, o que resultou em um dólar forte, principalmente diante das moedas de emergentes”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Ele acrescenta que os ativos foram ajustados em meio à falta de sinalizações de estímulo monetário por parte dos bancos centrais, principalmente, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), além do receio do mercado com a recente escalada de novos casos do novo coronavírus na Europa. Enquanto aqui, o profissional da Correparti destaca um fluxo forte de saída da divisa estrangeira, o que corroborou para a pressão altista da moeda.

Em semana de decisões de política monetária do Fed, Banco Central brasileiro, Banco da Inglaterra (BoE) e do Banco do Japão (BoJ), a moeda subiu 0,73%, engatando a segunda alta semanal.

As autoridades monetárias dos quatro países seguiram com a taxa de juros inalteradas, com o Comitê de Política Monetária (Copom) colocando fim ao ciclo de nove cortes seguidos, iniciado em julho de 2019, e o Fed reiterando que manterá os juros em patamares baixos por mais tempo, até 2023. “O Fed comunicou mal o que pretende fazer”, diz o estrategista-chefe do banco digital Modalmais, Felipe Sichel.

Na semana que vem, na agenda de indicadores doméstica tem a ata do Copom, no qual investidores aguardam detalhes adicionais em torno da decisão da última quarta-feira; tem a prévia da inflação no mês, enquanto na quinta, o Banco Central divulgará o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), no qual terá entrevista do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Lá fora, tem a prévia dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade industrial e de serviços da zona do euro e dos Estados Unidos, enquanto o presidente do Fed, Jerome Powell, falará no Congresso norte-americano, junto a outros dirigentes do banco central dos Estados Unidos, ao longo da semana.

“A busca por entendimento entre republicanos e democratas para o novo pacote de estímulo [fiscal] também ficará no radar, já que está ocorrendo pressão de parte de membros dos dois partidos para que se encontre uma solução para essa pendência. Temos é importante acompanhar o avanço da covid-19 no mundo, que se mostra um fator de grande preocupação para a retomada da economia mundial”, acrescenta o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em forte alta, intensificando o ritmo de recomposição de prêmios em meio aos ganhos acelerados do dólar. Os investidores aproveitaram a sessão de agenda fraca para promover ajustes e após os eventos desta semana envolvendo bancos centrais e o leilão de títulos públicos.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,97%, de 2,82% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,38%, de 4,14% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,30%, de 6,02%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,28%, de 7,01%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda puxados pelas baixas nos papéis de empresas de tecnologia e depois que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) alterou suas orientações oficiais, dizendo que pessoas assintomáticas que tenham tido contato com indivíduos infectados com covid-19 devem fazer um teste para o novo coronavírus. A antiga versão indicava que pessoas assim não necessariamente precisavam ser testadas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações após o fechamento:

Dow Jones: -0,88%, 27.657,42 pontos

Nasdaq Composto: -1,07%, 10.793,28 pontos

S&P 500: -1,11%, 3.319,47 pontos