Cinco anos após desastre em Brumadinho, risco de novos rompimentos continuam, diz estudo

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São Paulo – Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e de instituições universitárias de Minas Gerais e de Portugal identificou, na mesma região onde ocorreu o rompimento da Barragem B1 da mina Córrego do Feijão, localizada no município de Brumadinho (MG), há cinco anos, outras barragens com características que sugerem a possibilidade de futuros acidentes. Segundo o novo estudo, quatro das seis barragens de rejeitos que existem hoje na região da bacia do ribeirão Ferro-Carvão, em Brumadinho, estão instaladas em regiões de alto risco geomorfológico.

É o que diz o artigo “Geomorphologic risk zoning to anticipate tailings dams hazards: A study in the Brumadinhos mining area, Minas Gerais, Brazil”, publicado na revista Science of The Total Environment.

Nesta quinta-feira, 25 de janeiro, o desastre em Brumadinho completa cinco anos. A barragem servia como depósito de rejeitos das atividades de mineração da Vale, e o resultado foi a morte de 270 pessoas (três delas ainda não foram encontradas), além de dezenas de desabrigados. Familiares dos mortos contabilizam 272 vítimas, levando em conta que duas mulheres estavam grávidas. As empresas Vale e Tüv Sud foram denunciadas pelo rompimento da barragem, mas até hoje, ninguém foi condenado.

No artigo, os cientistas apresentam uma metodologia desenhada especialmente para a avaliação da vulnerabilidade geomorfológica do terreno, uma abordagem que, segundo os autores, é frequentemente negligenciada pelos engenheiros no momento da escolha dos pontos para instalação das barragens e até mesmo pela literatura científica que se dedica a estudar os perigos que ameaçam essas estruturas. Ao aplicar a metodologia de análise à região onde estava localizada a barragem que se rompeu cinco anos atrás, os pesquisadores constataram que ela também estava em uma área de alto risco geomorfológico.

Os resultados da análise das vulnerabilidades geomorfológicas da bacia mostraram que quatro das seis barragens ainda presentes na região estão localizadas em regiões de alto risco. Outras duas foram classificadas como de baixo risco. O trabalho se concentrou na avaliação apenas das barragens instaladas na bacia do ribeirão Ferro-Carvão. Os pesquisadores, porém, chamam a atenção para o fato de que na bacia do rio Paraopeba como um todo existem mais de 50 barragens que também podem estar sujeitas aos mesmos riscos geomorfológicos.

Para elaborar a metodologia de análise de risco proposta no artigo, os pesquisadores dividiram os 3.265 hectares da bacia do ribeirão Ferro-Carvão em 36 Unidades de Resposta Hidrológica, a fim de identificar os parâmetros do comportamento da água em cada setor. Essas subdivisões da bacia levaram em consideração características do terreno, como cobertura do solo, os fundos de vale (talvegue), que podem ou não ser preenchidos por cursos de água, e os pontos de maior elevação da bacia.

O levantamento dessas características do terreno, em combinação com o cálculo de parâmetros morfométricos, orientou a análise da vulnerabilidade geomorfológica de cada uma das unidades. Entre os parâmetros considerados pela metodologia está a densidade de drenagem do terreno. Esse dado ajuda a compreender o comportamento do escoamento da água na bacia durante eventos extremos de cheia, uma vez que solos impermeáveis favorecem o escoamento superficial da água. A análise também incluiu outros parâmetros, como a taxa de relevo, que fornece informações sobre o nível de inclinação do terreno, ou o coeficiente de rugosidade, que ajuda a entender a resistência no escoamento da água nos canais de drenagem.

Os indicadores de vulnerabilidade foram então analisados e ranqueados de 1 a 5 de acordo com a sua gravidade para cada uma das 36 unidades de resposta hidrológica. A comparação entre elas vai indicar aquelas áreas com maior vulnerabilidade geomorfológica, com atenção especial àquelas que abrigam barragens de rejeitos, mas também apontar áreas potencialmente seguras para o estabelecimento de novas estruturas do tipo.

VALE NEGA QUE BARRAGENS ESTÃO EM NIVEL DE EMERGÊNCIA

Segue abaixo o posicionamento da Vale a respeito do estudo:

“A Vale informa que as barragens BVII, BVI, Menezes 1 e Menezes 2 não estão em nível de emergência, estão estáveis e possuem Declaração de Condição de Estabilidade emitida por empresa externa (Engenheiro de Registros). Importante ressaltar que as quatro estruturas, sendo uma usada para contenção de rejeitos (BVI) e três para contenção de sedimentos, não foram construídas pelo método a montante, como era o caso das duas barragens que se romperam.

Além disso, as barragens contam com os seus Planos de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBMs), conforme prevê a legislação. Os aspectos geomorfológicos da região onde foram construídas foram considerados nos projetos e adotadas as ações que se fizeram necessárias para a mitigação de riscos.

As barragens da Vale são monitoradas permanentemente pelos três Centros de Monitoramento Geotécnico (CMGs) instalados no Brasil, com uma equipe preparada e pronta para atuar em caso de emergência, além de passarem por inspeções periódicas de equipes internas e externas, que são reportadas para Agência Nacional de Mineração (ANM).

As condições de segurança e estabilidade das estruturas também são acompanhadas por empresas de auditoria independente, contratadas no âmbito dos Termos de Compromissos firmados com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG).”

A empresa também informou que disponibiliza informações: (i) sobre suas ações para a redução do uso de barragens, reaproveitamento de rejeitos e descaracterização de estruturas a montante: https://vale.com/pt/w/cerca-de-80-porcento-da-producao-de-minerio-de-ferro-da-vale-no-brasil-nao-util iza-barragens-de-rejeitos/-/categories/1968809 ; e (ii) avanços no processo de reparação de Brumadinho: https://vale.com/pt/w/brumadinho-acoes-de-recuperacao-avancam-e-investimentos-em-descaracterizacao-de -barragens-da-vale-ultrapassam-r-7-bilhoes

ATO NA ESPLANADA

Em memória às vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, nesta quarta-feira, foram colocadas 272 cruzes no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O ato é uma iniciativa do deputado federal Pedro Aihara (Patriota-MG), bombeiro que atuou nos resgates.

Mais de 23 mil atingidos pelo rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, fecharam acordos de indenização com a mineradora. Os dados são das instituições de Justiça e foram apresentados na última sexta-feira (19), quando o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) organizou uma prestação pública de contas. No evento, foi feito um balanço dos três anos de implementação do acordo de reparação.

Um acordo para a reparação foi firmado dois anos depois, em 4 de fevereiro de 2021. Ele trata dos danos coletivos. Foram previstos investimentos socioeconômicos, ações de recuperação socioambiental, ações voltadas para garantir a segurança hídrica, melhorias dos serviços públicos e obras de mobilidade urbana, entre outras.

Com informações do Jornal da Unesp, da Agência Brasil e da Vale.