São Paulo – O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, descartou a existência de uma crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o chefe do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. O comentário veio em resposta a uma reportagem da agência de notícias Associated Press afirmando que Bolsonaro manifestou nos bastidores ter se arrependido de sancionar a lei que dá autonomia ao BC.
“Eu disse que ia ser um amortecedor. Mas agora fala o extintor de incêndios: parem de inventar fagulhas que não existem. Responsabilidade, por favor. Não existe nenhuma, repito, nenhuma crise entre o presidente Bolsonaro e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto”, disse Ciro Nogueira em sua conta no Twitter.
“Não vamos jogar gasolina na fogueira. Sobretudo gasolinas que não existem em fogueiras imaginárias. Dou meu testemunho de que a relação do governo com o BC é excelente, que a autonomia da autoridade monetária é um avanço histórico e irreversível. O resto não passa de especulação, contra os interesses do Brasil”, acrescentou.
Apesar dos comentários do ministro, Campos Neto tem afirmado em vários eventos públicos recentes que o governo precisa ser mais claro em relação aos objetivos da política econômica e a respeito da política fiscal.
Ele disse mais de uma vez nas últimas semanas que há uma percepção no mercado financeiro de que as medidas adotadas pelo Planalto na área econômica têm como objetivo garantir a ampliação do programa Bolsa Família para aumentar a popularidade e as chances de reeleição de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Esta percepção, segundo Campos Neto, tem dificultado o trabalho do BC de ancorar as expectativas de inflação do mercado financeiro.
“É impossível para qualquer banco central do mundo fazer trabalho de segurar expectativas [de inflação] com fiscal descontrolado. Quando entrei eu brincava dizendo que não era piloto, eu era passageiro, piloto era o fiscal”, disse ele durante o 4o Encontro Folha Business, da Folha de Vitória, em 13 de agosto.
“A coisa mais importante num país que tem nível de dívida que Brasil tem, que flertou com esse problema muitas vezes, é passar mensagem de credibilidade fiscal. É o que vai permitir ao Banco Central fazer o trabalho com menor nível de juros e maior eficiência”, afirmou, na mesma ocasião.
Em evento mais recente, na última quinta-feira (19), Campos Neto, voltou a cobrar que o governo federal passe credibilidade em relação ao seu compromisso de ajustar as contas públicas. Durante evento promovido pelo Conselho das Américas, ele reiterou que o fato de o mercado financeiro esperar uma inflação para 2022 mais alta do que a calculada pelo BC deve-se a fatores técnicos e a ruídos relacionados ao campo político.
Na parte política, ele mencionou o “alto nível de ruído sobre a parte institucional em que o Brasil opera, com a luta entre Poderes”, e uma outra dimensão referente às interpretações do real objetivo do Planalto ao propor a ampliação do Bolsa Família e o parcelamento do pagamento de precatórios.
“O mercado está ligando ações que o governo toma, o desejo de ter um programa [Bolsa Família] mais robusto, e está ligando algumas coisas que o governo está fazendo com as eleições. Isso cria ruído adicional”, afirmou. Segundo Campos Neto, “quando o governo explicar o que o Bolsa Família vai ser e como será pago, isso será removido.”
“Para nós é importante como a percepção do fiscal se desenrola. Olhamos como isso está sendo embutido na inflação esperada e implícita, como isso afeta a inflação atual. Reconhecemos que parte do ruído que vimos está impactando” no gerenciamento da política monetária.