São Paulo, 25 de setembro de 2024 – A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê um déficit de US$ 135 bilhões no saldo da balança comercial brasileira em 2024, segundo dados apresentados nesta quarta-feira pela Coalizão Indústria, que reúne associações empresariais como a AEB, o Instituto Aço Brasil, Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados); Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos); Abinee (Associação Brasileira Indústria Elétrica Eletrônica); Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre outras.
Em julho, a AEB estimava superávit de US$77,071 bilhões em 2024, queda de 22% em relação ao recorde histórico de US$98,838 bilhões apurado em 2023.
As entidades afirmam que os investimentos previstos por elas entre 2023 e 2027 totalizarão R$ 825,8 milhões, segundo dados preliminares, dos quais em torno de R$ 500 bilhões podem ser adiados, se mantidas condições desfavoráveis às empresas, como elevação das importações. Os aportes também poderiam ser aumentados em 50%, afirmam, caso essas condições melhorem. O corte de investimentos é projetado, principalmente, pela expectativa em relação ao acordo Mercosul-China.
“Mantidas as condições do mercado, os investimentos que foram planejados há muito tempo, seriam mantidos, mas estamos sendo acometidos por um tsunami”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.
As entidades afirmam estar “sob ataque chinês severo” e defendem uma agenda de medidas que inclui a retomada do crescimento econômico de forma sustentável, e citam aumento da importação chinesa – 26% das vendas de aço, por exemplo, foram impactadas pela importação, segundo dados apresentados em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira.
“A China é o maior parceiro comercial brasileiro, o governo não tomará medidas e nem é isso que estamos pedindo. Mas há medidas que precisam ser tomadas antes que as empresas morram daqui a um ano. Temos falado com o governo e tratado esses assuntos de forma sistemática. Na União Europeia, 27 países tomaram medidas. Defendemos uma decisão política do governo em proteção aos nossos mercados”, disse Lopes.
As importações têm crescido 70%, impactando os negócios das empresas. Entre os países que se destacam estão, principalmente, a China. O México também foi mencionado.
As cimenteiras disseram que tiveram redução expressiva no biênio 2022-2023 e que trabalham com capacidade ociosa alta. A entidade projeta um consumo de 10 milhões de toneladas só do Minha Casa, Minha Vida.
“Hoje vemos capacidade instalada muito superior à nossa produção. O governo está investindo num esforço muito grande para que o PAC movimente a economia, gere empregos, atraindo empresas para fazer os investimentos no programa, mas que tem dados que levantam dúvidas. Que tipo de produção é essa? Tem comprado aço no Brasil? O que essas empresas estão fazendo? Vamos abrir o PAC para empresas que não estão investindo no Brasil?”, disse o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.
Segue íntegra do comunicado divulgado pelas entidades:
“COALIZÃO INDÚSTRIA ALERTA PARA RISCO DE IMPORTAÇÕES PREDATÓRIAS
Concorrência desleal ameaça investimentos de R$ 826 bilhões e empregos
As importações vindas de países que adotam práticas predatórias de comércio corroem o mercado de segmentos da indústria, ameaçando investimentos previstos de R$ 826 bilhões até 2027 e empregos no Brasil. É o que adverte a Coalizão Indústria, que reúne 14 entidades, dos setores de transformação, da construção civil e do comércio exterior, responsáveis por 43% do PIB industrial.
Para a Coalizão, as transformações geopolíticas no pós-pandemia e a necessidade de escoar gigantesco excesso de capacidade instalada de produção acentuaram fluxos de produtos vindos desses países, agravando o ataque aos mercados internos. Por isso, a ação contra a concorrência predatória deve ser prioridade máxima do país – caso contrário os segmentos que compõem a Coalizão não terão como manter os investimentos previstos, e empregos serão eliminados. A indústria está sob ataque. Existem mecanismos de que o país pode lançar mão, a exemplo do que já fizeram os países desenvolvidos, para frear, dentro das regras de Comércio Exterior, essa concorrência desleal, diz Marco Polo de Mello Lopes, coordenador da Coalizão Indústria. No entanto, é necessário que o governo, de forma estratégica, adote urgentemente uma ação tática para responder a esse ataque.
Para a Coalizão, outra fonte de preocupação reside na possibilidade de o Mercosul avançar para um acordo comercial com a China, que vem sendo discutido no próprio âmbito do Mercosul. A avaliação é que é pouco provável que esse acordo avance, dada a atual complexidade do quadro mundial, mas, caso venha a se concretizar, investimentos da ordem de R$ 500 bilhões devem ser suspensos de imediato nos setores representados pelas associações-membros.
Os investimentos atualmente sob risco são imprescindíveis para o país crescer de forma sustentada e sustentável no longo prazo, promovendo desenvolvimento e inclusão social, afirma Lopes. Se a indústria for obrigada a cancelá-los, esses recursos não serão passíveis de reposição por outros segmentos econômicos, setor público ou outros países exportadores, afirma Lopes.
Sobre a Coalizão Indústria
Estruturada em 2018, a Coalizão Indústria é composta por 14 entidades de âmbito nacional que representam 13 setores da indústria de transformação, da construção civil e do comércio exterior. Os setores que representa respondem por 44% do PIB da indústria e por 57% das exportações de manufaturados; geram 37 milhões de empregos diretos e indiretos; por ano paga 264 bilhões de reais em tributos.
Apartidária, a Coalizão Indústria atua em uma agenda Brasil, que defende:
– A retomada do crescimento econômico sustentado, invertendo a inconstância das últimas décadas. Para isso, é fundamental o ajuste fiscal.
– A recuperação da competitividade sistêmica da indústria, que vem perdendo participação no PIB. Estudo patrocinado pela Coalizão Indústria calcula que o Custo Brasil é de 1,7 trilhão de reais por ano.
– A Transição Energética, para a qual são fundamentais ações em favor da maior oferta de gás natural a preços competitivo e disponibilidade de linhas de financiamentos e recursos a fundo perdido no desenvolvimento de tecnologias disruptivas para descarbonização.”