Congresso vai às urnas com sinais de vitória do governo

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São Paulo – As eleições para presidente da Câmara dos Deputados e do Senado acontecem hoje, em meio a relatos de interferência do Planalto na disputa em favor do deputado Arthur Lira (PP-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e de grande dissidência entre os partidos que até então haviam se comprometido a votar em Baleia Rossi (MDB-SP).

Mais cedo, havia receios com a possibilidade de o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acatar pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, em meio a notícias de que ele teria feito essa ameaça ontem após tomar conhecimento das dissidências. A ausência de decisão sobre este assunto até o início da tarde, porém, indicou que ele não iria adiante com a ameaça. Além disso, há pouco, Maia disse à GloboNews que não avançaria com a aceitação de um processo de impeachment.

Na Câmara, a previsão é de que a eleição comece a partir das 19h (de Brasília), mas atrasos em etapas anteriores sugerem que a votação será adiada. Antes disso, os partidos precisavam formalizar os blocos de cada candidato, às 12h, mas houve atraso nesta etapa – um reflexo do desembarque de última hora dos partidos que apoiavam a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP).

“O registro dos blocos partidários tinha o prazo limite as 12h. Estranhamente até agora não aparece o registro do bloco do candidato Baleia, sob a alegação de uma estranha pane no sistema. O protocolo teria que aparecer até 12h. Parem de palhaçada!”, disse no Twitter o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que apoia a candidatura de Lira.

No Senado a sessão preparatória começou quase uma hora depois do previsto, mas uma vez iniciada abre espaço para que a votação comece a qualquer momento, desde que haja senadores suficientes presentes. Tanto na Câmara quanto no Senado, a votação é secreta e será presencial.

BRIGA NA CÂMARA

A disputa pela presidência da Câmara é a mais relevante do ponto de vista político, porque pode determinar se Bolsonaro conseguirá um controle maior sobre a pauta de votações e uma blindagem contra os quase 60 pedidos de impeachment enviados à Casa e que necessariamente precisam do crivo do presidente da Câmara para avançarem no Congresso.

Lira é o candidato mais alinhado ao governo. Seu principal rival, Baleia Rossi, é apoiado por Maia e possui mais declarações públicas de apoio dos partidos da Câmara – inclusive das siglas de esquerda e que fazem oposição ao governo.

Isso, em tese, deixaria Rossi mais perto da vitória do que Lira, mas como o voto é secreto e o bloco do emedebista é muito heterogêneo, analistas apontam que há um alto potencial de dissidência oculto sob os apoios declarados ao candidato.

O próprio Democratas, partido de Maia, estaria rachado, e segundo notícias divulgadas na imprensa isto teria sido motivado pela oferta de cargos e verbas extras do Executivo aos deputados. O racha, inclusive, teria levado Maia a ameaçar acatar um dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

A ameaça teria sido feita ontem durante uma reunião em que a divisão no DEM foi exposta. Na mesma reunião, ainda de acordo com informações divulgadas na imprensa, o PT teria dito que removeria o apoio a Pacheco caso o DEM desembarcasse do apoio declarado a Baleia Rossi.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Enio Verri (PT-PR), disse à Agência CMA hoje cedo que o PT no Senado ainda estava apoiando a candidatura de Pacheco e que durante a reunião não ouviu Maia dizer que acataria pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Posteriormente, no entanto, disse a outros membros do PT que Maia teria, sim, prometido acatar um pedido de impeachment contra Bolsonaro em represália ao esvaziamento do bloco de apoio a Rossi.

Nas redes sociais, deputados da oposição começaram a pedir que Maia acate um dos processos de impeachment contra o presidente Bolsonaro. O próprio Verri publicou que “o país não tolera mais ser asfixiado por um presidente que age ostensivamente para disseminar a covid-19. O impeachment de Bolsonaro é urgente!”

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) também se manifestou: “Maia abra o processo de impeachment já! Vamos livrar o Brasil desse desgoverno. Já são 15 crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro! Motivos existem de sobra!

Outros políticos consultados pela Agência CMA ainda não se manifestaram sobre o assunto. Paralelamente, Maia teria, segundo a CNN Brasil, indicado que pretende deixar o Democratas após a eleição no Congresso – um sinal adicional de que a candidatura de Rossi estaria indo a pique.

REFORMAS

Especialistas apontam que, do ponto de vista da agenda de reformas econômicas, a vitória de qualquer um dos candidatos considerados mais viáveis- Lira e Rossi na Câmara, Pacheco e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), no Senado – seria positiva, pois todos eles apoiam as propostas defendidas pelo governo.

A diferença entre Lira e Rossi, neste aspecto, é muito pequena – Lira quer primeiro aprovar a reforma administrativa para depois avançar com as demais, enquanto Rossi defende aprovar primeiro a reforma tributária, para depois liberar as outras.

Todos os candidatos também defenderam recentemente a retomada de algum tipo de auxílio emergencial à população caso a pandemia se agrave. Todos eles também se comprometeram a manter o teto de gastos – dispositivo constitucional que limita o crescimento das despesas à inflação, sugerindo que haveria algum tipo de compensação orçamentária caso o auxílio fosse adotado novamente.