Conselheiro eleito irá renunciar e deve atrasar definição na Petrobras

Marcelo Gasparino da Silva confirma renúncia e forçará nova eleição do conselho; analistas veem incertezas em torno do processo e da futura gestão

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São Paulo – A renúncia de um dos conselheiros eleitos ontem na assembleia geral extraordinária (AGE) da Petrobras deve atrasar ainda mais o processo de troca do conselho e a definição do presidente da estatal. Marcelo Gasparino da Silva, o único membro indicado por acionistas minoritários que foi eleito, confirmou à Agência CMA que irá renunciar logo após tomar posse. E, como o conselho é formado por sistema de voto múltiplo, a decisão acarretará na queda de todos os membros eleitos por esse mecanismo.

Segundo os especialistas ouvidos, as mudanças na presidência e no conselho já eram esperadas e estavam precificadas pelas ações da estatal, mas atrasos não ajudam e ainda há muitas incertezas sobre o que esperar da futura gestão da companhia.

Com a assembleia de ontem, o governo conseguiu eleger sete das oito vagas em disputa, incluindo a aprovação do nome do general Joaquim Luna e Silva, abrindo caminho para que o indicado pelo presidente Jair Bolsonaro seja eleito presidente no lugar de Roberto da Cunha Castello Branco, que foi destituído da presidência e do conselho de administração da Petrobras.

Antes da reunião, Marcelo Gasparino da Silva havia solicitado a suspensão da AGE e já havia dito que iria renunciar caso fosse eleito, devido a problemas no novo sistema de votação. Na sua avaliação, o resultado da eleição pode ser contestado devido a distorções no processo de recebimento e compilação dos votos após a publicação do mapa sintético consolidado do voto à distância.

“Como não há formas de corrigir eventuais problemas que possam ter resultado na materialização do desejo dos acionistas minoritários explico as razões [em documento publicado em seu perfil no LinkedIn], caso eleito pelo processo de voto múltiplo que já está instalado, tomarei posse e renunciarei para que uma nova assembleia seja convocada e que os votos depositados através do Boletim de Voto à Distância – BVD cheguem corretamente para a Petrobras”, disse.

Na avaliação de Alexandre Pierantoni, diretor da consultoria Duff&Phelps, a falta de previsibilidade em relação à gestão de empresas aumenta o ruído para o investidor que busca previsibilidade e segurança.

“O ambiente de empresas controladas por estatais no Brasil atualmente está impactado por um nevoeiro de incertezas. Quando você sabe quais são as regras do jogo, você decide se aceita ou não. Mas alterar de forma abrupta e com ruído, é o que o mercado não aceita. Isso pode afetar a empresa pois o custo de captação pode ficar mais caro”, comentou.

Nessa linha, o analista de investimentos da Top Gain, Victor Bueno, considera que a interferência do governo na estatal é o que pesa na avaliação dos papéis pelo mercado e que, com o passar dos anos, a companhia vem se confirmando como exemplo de “não tão boa governança”, pois, independente da orientação do governo, “de esquerda ou direita”, ela sofre influência do acionista controlador.

“A saída do Castello Branco mostrou o papel que o Estado pode ter nas decisões da empresa e a renúncia do acionista minoritário é um aspecto muito negativo, pois mostra que a representação desse grupo estará prejudicada na governança da companhia”, disse.

O analista de research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, na mesma linha, destaca que o resultado da eleição já foi negativo pois houve a perda de uma das cadeiras dos acionistas minoritários, com apenas Silva sendo eleito.

“O espaço para os minoritários no antigo conselho já era reduzido e diminuiu ainda mais a pluralidade da companhia, que inclusive, já possui uma base minoritária pulverizada e que, possivelmente, será ainda menos representada pela nova composição”, disse, em nota.

Apesar desse aspecto negativo, destaca que o mercado irá esperar agora é a marcação da próxima AGE para definição do novo presidente da companhia e do período de transição, “bem como os próximos movimentos envolvendo a concretização das possíveis mudanças a nível operacional e financeiro que podem ocorrer a partir da posse da nova gestão de Petrobras”.

Para Filipe Ferreira, diretor da plataforma de investimentos Comdinheiro, a renúncia do conselheiro é uma sinalização de descrença no modelo que está sendo implementado. “É comum que em guinadas como essas (reestruturação da diretoria), conselheiros ligados aos princípios anteriores demonstrem sua insatisfação com a saída. Creio que o principal ponto esteja na sinalização.”

Já para Enrico Cozzolino, estrategista de renda variável do Banco Daycoval, o resultado da eleição reflete o que o mercado já esperava e o que pode impactar o preço dos papéis é, de fato, uma possível mudança da política de preços e de investimentos da companhia.

“O mercado já precificou a interferência do governo na Petrobras na semana da demissão do Castello Branco, com uma recuperação de parte da perda, mas reagindo de maneira cautelosa. Mas a indicação dos nomes [para o conselho] pelo governo já era esperada e não deve impactar os negócios agora.

Agora, esses membros vão interferir de maneira negativa? Existe um plano de investimentos e se os conselheiros não cumprirem com o plano aí sim pode impactar e os papéis podem cair mais”, analisa.

A XP também destaca que é preciso esperar para saber quando Silva e Luna irá assumir e manteve a recomendação de venda das ações da Petrobras, com o preço-alvo de 12 meses de R$ 24,00 por ação para as preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3), classificação que já reduziu quando começaram os ruídos sobre mudanças política de preços da companhia, em fevereiro.

“O General Joaquim Silva e Luna vai precisar ainda da aprovação do novo colegiado para assumir o comando executivo da companhia. A data em que isso vai acontecer ainda não está definida. Enquanto isso, a Petrobras informou que foi nomeado como diretor interino o diretor-executivo de Exploração e Produção, Carlos Alberto Oliveira”, destacaram os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado.

Edição: Danielle Fonseca (daniele.fonseca@cma.com.br)