São Paulo – Outubro começou surpreendendo a todos ao trazer a notícia de que o presidente norte-americano, Donald Trump, e a primeira-dama Melania testaram positivo para a covid-19, o que, segundo especialistas ouvidos pela Agência CMA, reforçou a incerteza política a cerca de um mês das eleições presidenciais nos Estados Unidos.
“A notícia exacerba as preocupações com uma potencial segunda onda de covid-19 nos Estados Unidos e também exacerba a incerteza política no país”, disse o vice-presidente sênior e chefe de investimentos estratégicos da Schwab, Jeffrey Kleintop.
A saúde dos presidentes norte-americanos sempre foi uma questão polêmica para os mercados financeiros, desde quando Ronald Reagan foi baleado até quando George Bush pai adoeceu em um jantar no Japão. Desta vez não é diferente, com a reação do mercado sendo imediata, já que os futuros de ações norte-americanos despencaram com a notícia sobre Trump.
Segundo os especialistas, embora o presidente norte-americano e a primeira-dama ainda não apresentem muitos sintomas, a notícia abre uma lacuna bastante grande nos planos de campanha de reeleição de Trump e pode complicar os próximos 30 dias se ele começar a apresentar sintomas mais graves e ficar doente e incapaz para a campanha.
O analista chefe de mercados da CMC Markets, Michael Hewson, chama atenção ainda para a questão de quem mais pode ocupar o cargo na Casa Branca e se o vice-presidente Mike Pence pode intervir na ausência de Trump.
“Seja como for, isso pode muito bem moldar os eventos em favor dos democratas após a derrocada do debate presidencial desta semana, especialmente porque os democratas têm uma liderança considerável nas pesquisas. Quaisquer que sejam as opiniões sobre Trump, ele sempre foi um bom ativista e isso é um grande revés para ele”, afirmou Hewson.
O presidente norte-americano contraiu o vírus há um mês das eleições presidenciais no país, marcada para 3 de novembro. No debate presidencial de terça-feira, ele disse que a imprensa quer prejudicá-lo ao criticar a forma com que conduz o combate à pandemia. Trump também ironizou o uso de máscaras.
Para o analista chefe do Danske Bank, Jakob Ekholdt Christensen, o impacto da contaminação de Trump sobre a eleição será determinado pelo tempo e pelo grau em que a doença o afetar.
“Trump disse que o casal está em quarentena. A questão é até que ponto ele fica doente e em que medida isso afetará sua campanha presidencial. Outra questão é se outros membros do governo dos Estados Unidos estão infectados”, afirmou Christensen. “Essa incerteza afeta hoje o apetite pelo risco”, acrescentou.
O anúncio de que Trump estava com covid-19 veio horas depois da confirmação de que Hope Hicks, uma de suas principais assessoras, testou positivo para a doença.
“Não há muito mais a dizer nesta fase, a não ser fazer o que sempre se faz quando alguém está com covid-19: desejar uma recuperação rápida e completa. No entanto, não se pode deixar de notar que Trump está na categoria de idade e peso que o coloca nos grupos de maior risco no que diz respeito à saúde”, disse o estrategista global do Rabobank, Michael Every.
Hewson, da CMC, lembra do momento em que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, contraiu a covid-19 e precisou ficar alguns dias em uma unidade de tratamento intensivo.
“Já sabemos por nossa experiência aqui no Reino Unido, quando o primeiro-ministro Boris Johnson contraiu o novo coronavírus, os riscos que a doença pode ter em uma determinada idade, e o presidente Trump é muito mais velho, além de estar acima do peso, e é improvável que ele aceite bem receber ordens para descansar e se isolar, o que, por sua vez, poderia complicar sua própria situação de saúde, como aconteceu com Boris Johnson”, afirmou o Hewson.
Neste sentido, Every do Rabobank, lembra da força das redes sociais durante a pandemia e para as pessoas que estão isoladas. “Trump, se continuar com uma condição de saúde razoável, pode seguir usando o Twitter para se comunicar”, disse ele.
Se cumprir os 14 dias de isolamento, contados a partir de hoje, o presidente norte-americano estaria liberado no dia 15 deste mês, quando está marcado o segundo debate presidencial, em Miami.