Contraprova confirma primeiro caso do coronavírus no país

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São Paulo – O Brasil registrou o primeiro caso confirmado do coronavírus no país, segundo informações divulgadas pelo ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Ele acrescentou que o governo está mapeando as pessoas que tiveram contato com o paciente contaminado para tentar restringir a disseminação da doença e ressaltou que o nível de alerta sanitário não muda, porque já estava em nível máximo.

O paciente contaminado é um homem de 61 anos que mora em São Paulo e retornou recentemente da Itália. Ele viajou ao país europeu a trabalho, sozinho, entre 9 e 21 de fevereiro, e apresentou alguns dos sintomas relacionados ao coronavírus – febre, tosse seca, dor de garganta e coriza.

O paciente está recebendo tratamento em casa – um contraste em relação a pessoas com suspeita de infecção pelo coronavírus que o governo trouxe da China há algumas semanas, que foram mantidas em isolamento em uma área militar.

Segundo o ministro, as situações não são comparáveis. No caso dos repatriados, “tinha um número grande de pessoas de diferentes lugares do Brasil. É bom senso que traga e aguarde 14 dias”, disse ele. “Neste caso, é um paciente, já estava dentro de sua casa, tem uma esposa que estava com ele desde o início. Levar paciente para dentro do ambiente hospitalar só aumenta a chance de outros pacientes em estado debilitado serem acometidos.”

Ele também ressaltou que o local em que o paciente recebe tratamento depende dos sintomas, não da doença. “O protocolo é muito claro. Isolamento domiciliar, no caso de uma cidade, qualquer cidade, é o mais recomendado. Temos que levar pessoas que tem quadro respiratório grave pera ambiente hospitalar”, não quem está em condições que não exigem atenção dedicada.

Mandetta comparou a situação com a quarentena aplicada sobre o navio de cruzeiro Diamond Princess, no Japão, que tinha 3,7 mil passageiros e tripulação a bordo quando uma quarentena de duas semanas começou em 5 de fevereiro.

“As pessoas num navio, concentrados no mesmo local e impedidos de ancorar, se estivessem num local ventilado, numa residência, talvez o número de casos fosse muito menor”, afirmou.

CONTROLE

O ministro acrescentou que o governo não pretende fechar fronteiras para evitar que o vírus se espalhe pelo Brasil. “Não dá para fazer medidas restritivas”, disse ele. “Nossa preocupação sempre foi as pessoas saírem do Brasil. Aqui elas estão dentro de um bioma em equilíbrio. Já existe a comunicação e o volume de anticorpos dentro do nosso ecossistema”, disse o ministro.

“O mundo não tem fronteiras. Alguém me perguntou por que não fechar? Isso não tem eficácia. É mais uma gripe que a humanidade vai ter que atravessar”, afirmou, acrescentando que a recomendação é que as pessoas com sintomas não viajem. Se viajarem, porém, que notifiquem as autoridades “Embora seja uma situação que todo mundo gostaria que se fizesse exame para ser admitido dentro do país, não existe nenhuma tecnologia que possa nos dizer que quem está eventualmente num avião possa estar com o vírus ou não”, disse Mandetta. “Só vamos superar isso quando tivermos tecnologia para fazer vacina.”

O ministro disse também que o governo vai contatar parte dos passageiros que estavam no mesmo avião do paciente contaminado pelo coronavírus. “A gente segue a regra: as duas poltronas à frente, duas laterais, duas atrás. A Anvisa localiza cada um deles, a Polícia Federal tem esse controle.”

GRAVIDADE

Mandetta também comparou o coronavírus com outras doenças respiratórias que atingiram o Brasil nos últimos anos, entre elas a provocada pelo vírus H1N1. “Ela se comporta bem a menor [em letalidade]”, afirmou. “H1N1 foi mais grave.”

Ele afirmou que as pessoas mais suscetíveis ao coronavírus são idosos, e que o Brasil não possui tantas pessoas neste grupo quanto países europeus.

Mandetta disse que o comportamento do vírus no Brasil é uma incógnita, porque até então os casos confirmados haviam sido registrados em locais com clima frio. “Tanto pode manter o mesmo padrão de comportamento que tem no hemisfério norte, onde basicamente tem o frio. Agora no hemisfério sul a gente começa a perceber qual vai ser o comportamento”, afirmou.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de letalidade do coronavírus é de 3,4% dos casos de contaminação, e a maioria das mortes pela doença ocorreu entre pessoas de mais de 60 anos. Fora da China, a taxa de letalidade é menor – de 1,4%.

O governo brasileiro também informou que um paciente contaminado pelo coronavírus tem potencial para transmitir a doença para duas ou três pessoas, em média, e que não necessariamente todas as pessoas que entram em contato com uma pessoa doente serão contaminadas pelo coronavírus.

Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, por volta das 11h30, apontam que há 20 casos suspeitos no Brasil – a maioria deles no estado de São Paulo (11). A esposa do paciente que está contaminado pelo coronavírus não faz parte dos casos suspeitos porque não apresentou sintomas, segundo Mandetta.

Outros estados com suspeita de infecção são Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro, cada um com dois casos, Paraíba, Pernambuco e Espírito Santo, cada um com um caso.