Copom e receio fiscal fazem dólar e juros subir no início da tarde

582

São Paulo – A dúvida em torno da capacidade do governo de aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios – que abriria espaço no orçamento de 2022 para o programa Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família – mantém um clima de aversão ao risco no mercado brasileiro.
O texto estava na pauta da Câmara dos Deputados hoje, mas o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), confirmou que a votação da PEC ficará para a próxima quarta-feira. Isso depois de dois dias de tentativas frustradas de submeter a proposta ao crivo do plenário.
“Na quarta-feira próxima vamos trazer os senhores parlamentares em grande quórum para votarmos a PEC dos precatórios, que além de precatórios trata de outros vários temas e são muito importantes para prefeitos – a questão da previdência, do parcelamento, para uma série de outros setores do governo e sociedade brasileira”, disse ele em pronunciamento ao plenário da Câmara.
“A PEC é fundamental apara abrirmos espaço fiscal para implantação do novo programa para socorrer a população vulnerável. Estamos falando do Auxílio Brasil”, afirmou.
Também contribui para o sentimento de cautela a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciada ontem, de elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1,50 ponto porcentual (pp), para 7,75% ao ano, em função da deterioração das expectativas quanto à trajetória da dívida pública e dos reflexos disso sobre as expectativas de inflação.
Segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest, “o que vemos hoje é o mercado dizendo que achou pouco o ajuste de 150 bps na taxa Selic. Mesmo com o aumento de juros, o câmbio segue pressionado com risco fiscal. Com a taxa de câmbio pressionada, a inflação não deve dar sossego”, acrescentou.
De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o mercado tinha uma expectativa que o Banco Central fosse até mais hawkish (austero). Existe sempre a impressão de que ele está atrás da curva, que usa um remédio menos amargo do que deveria”.
João Abdouni, especialista de investimentos em ações da Inversa Publicações, disse que também há ruídos políticos afetando a bolsa, câmbio e juros – em particular rumores de que “os parlamentares querem passar o auxílio emergencial de R$ 400 sem votar no Congresso”.
Ele explicou que com a Selic em quase 8%, a Bolsa se depara com um aumento na concorrência pelo capital dos investidores, que passam a ver mais atratividade na renda fixa.
“A elevação da taxa de juros drena um pouco o capital da Bolsa porque boa parte dos investidores brasileiros faz migrações e os estrangeiros acabam investindo em renda variável. O Ibovespa está enfrentando muita concorrência com as BDRs – ações norte-americanas – e as criptomoedas, é um momento até interessante para o investidor devido às várias opções”.
Veja como estava o mercado por volta das 13h40 (de Brasília):
IBOVESPA: 105.903 pontos (-0,43%)
DÓLAR À VISTA: R$ 5,6170 (+1,09%)
DÓLAR FUTURO (NOV): R$ 5.619,00 (+1,43%)
DI JAN 2022: 8,364% (-0,058 pp)
DI JAN 2023: 12,255% (+0,665 pp)
DI JAN 2025: 12,310% (+0,500 pp)